A subnotificação de casos de sífilis congênita em bebês e crianças chega a 80,9% na capital pernambucana, o que compromete o conhecimento real da magnitude da sífilis na cidade. O dado é de estudo de pesquisadores da Secretaria de Saúde do Recife, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), da Fundação Joaquim Nabuco e do Instituto Aggeu Magalhães, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), de Recife, publicado na revista “Epidemiologia e Serviços de Saúde” na quarta (25).
Para estimar as subnotificações de óbitos fetais e infantis que tiveram a sífilis congênita como causa básica ou associada em Recife, os pesquisadores cruzaram dados registrados entre 2010 e 2016 no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) e no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Os casos confirmados de sífilis congênita precisam ser, obrigatoriamente, notificados no Sinan, que é a principal fonte de dados epidemiológicos da doença. Além da subnotificação de 80,9% no Sinan, no SIM houve subnotificação de 7% das mortes relacionadas à doença.
A morte por sífilis congênita é considerada um desfecho evitável, uma vez que a doença possui tratamento e métodos de prevenção amplamente divulgados. Ao mostrar as subnotificações, o estudo aponta para uma lacuna na vigilância epidemiológica e no acompanhamento da doença.
A pesquisadora Martha Maria de Albuquerque Belo, autora do estudo, explica que podem ocorrer falhas diversas na captação e notificação desses casos no Sinan pela assistência materno-infantil, o que faz com que as autoridades sanitárias só tomem ciência deles quando o paciente morre. “Outro ponto que também eleva essa taxa no sistema é a não continuidade do preenchimento e evolução do caso”, comenta. Já o SIM é um sistema que contabiliza o desfecho, o óbito, e a subnotificação é atrelada a falhas no preenchimento da declaração de óbito ou na inclusão dos dados no próprio sistema.
Apesar da elevada subnotificação, Recife registra 29,1 casos de sífilis congênita para mil nascidos, enquanto a média de Pernambuco é de 11,8 e a nacional é de 6,5. De acordo com Belo, não é possível afirmar que a incidência de casos de sífilis congênita em outras localidades seria a mesma de Recife caso não houvesse subnotificação nestas regiões. Contudo, ressalta a pesquisadora, “esse questionamento é tema de um número crescente de estudos com abrangência municipal e/ou estadual, que já identificaram até o triplo de casos subnotificados quando realizadas buscas ativas em prontuários ou no SIM”.
Para ajudar nos serviços de vigilância da sífilis, Belo orienta que a técnica de cruzamento de bancos de dados, com uso de análise probabilística, seja implementada na rotina desses serviços. “Com isso, seria possível facilitar o encontro das subnotificações e, assim, contribuir para a qualidade das informações fornecidas ao sistema”. É com base nestas informações que se formulam e implementam políticas públicas e estratégias de prevenção da sífilis.
(Fonte: Agência Bori)