Entre 2001 e 2022, os estados que estão fora da Amazônia registraram 18.633 casos de malária, com o Espírito Santo liderando em incidência – medida que avalia a frequência da doença em uma população específica. A taxa variou de 0,1 a 2,6 por 100 mil habitantes nos anos estudados. Os dados são de artigo publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical na sexta (8) por cientistas das universidades federais de Pernambuco (UFPE), de Sergipe (UFS), da Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL) e do Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco).
Homens brancos de 20 a 39 anos e com ensino primário somaram a maioria dos casos. Porém, a taxa mais elevada de incidência foi entre a população indígena. Entre 2011 e 2022, a taxa de incidência para a população indígena foi de 26,4 por 100 mil habitantes, contra 1,3 de incidência por 100 mil habitantes para a população branca no mesmo período, por exemplo.
As informações de quantidade de casos e as características da população foram resgatadas na base do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), mantido pelo Departamento de Informação e Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus). Já a escolha pela região foi motivada pelas taxas de mortalidade. Para se ter uma ideia, segundo estudos anteriores, apesar do conglomerado amazônico concentrar 99% dos casos, a letalidade fora dele pode ser até 40 vezes maior por fatores como demora no diagnóstico e falta de conhecimento dos profissionais de saúde para lidar com uma doença pouco comum nessas regiões.
Quase 14 mil casos – ou seja, três em cada quatro – foram importados de áreas endêmicas, aquelas que registram presença constante do vetor da doença, como a Amazônia. Já 1.980 casos foram autóctones; ou seja, com transmissão local. Espírito Santo, Minas Gerais e Piauí registraram maior risco para casos autóctones.
A pesquisa verificou diminuição nos casos com o passar dos anos. Porém, algumas áreas de ‘baixo risco’ – como partes de Minas Gerais, Piauí e da Bahia – evoluíram para ‘em transição’ ou até mesmo para ‘alto risco’. A incidência de malária também se manteve alta em estados do Centro-Oeste devido à proximidade com a região amazônica, apesar da redução no número de casos ao longo do período estudado.
Rosália Ramos, pesquisadora da UFPE e uma das autoras do estudo, espera que a pesquisa incentive políticas públicas voltadas ao controle da enfermidade e reforce a importância de estratégias com especificidades regionais. Em uma perspectiva mais ampla, a pesquisa também intenciona auxiliar o Plano Nacional de Eliminação da Malária até 2035, lançado há dois anos pelo Ministério da Saúde. A malária é uma doença transmitida pela picada de mosquitos fêmeas do gênero Anopheles, que são os vetores responsáveis pela disseminação do parasita Plasmodium. Somente em 2022, o Brasil registrou mais de 131 mil casos da doença.
Os cientistas agora desejam focar os estudos nos dados relacionados à mortalidade da doença. “Acreditamos que a análise aprofundada nos permitirá entender melhor os fatores que influenciam a letalidade da malária em diferentes contextos, especialmente em áreas onde o acesso a tratamentos pode ser mais limitado”. Além disso, a equipe planeja analisar outras doenças tropicais negligenciadas, como a leishmaniose e a doença de Chagas, que também afetam populações vulneráveis e, muitas vezes, recebem pouca atenção em termos de pesquisa e políticas públicas. “Nosso objetivo é contribuir para a criação de estratégias mais abrangentes de controle e prevenção que possam impactar positivamente a saúde dessas comunidades”, conclui Ramos.
(Fonte: Agência Bori)