Cerca de 60 famílias que tiveram filhos internados nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal e Pediátrica, pediatria e maternidade do Hospital Vera Cruz nos últimos cinco anos participaram de um rico e emocionante encontro no último domingo, dia 26 de maio, no espaço infantil Miniville, do Royal Palm Plaza Resort, que reuniu familiares, enfermeiros, médicos, técnicos e demais profissionais destes setores do Hospital Vera Cruz. Ao todo, 250 pessoas participaram do evento.
A iniciativa é do Vera Cruz e do grupo de mães Coragem – Corações que Agem, que apoia famílias que vivem situações delicadas e complexas com os filhos internados no hospital. De acordo com a psicóloga à frente do projeto, Gisele Aparecida do Patrocínio Bazi, o objetivo da confraternização é fortalecer o vínculo e o cuidado empático entre famílias, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, fonoaudiólogos, assistentes sociais e nutricionistas. “Com encontros periódicos, a experiência das famílias e das equipes do hospital podem ser reelaboradas de forma contínua”, frisa Gisele, que informou que esta foi a terceira reunião neste formato.
A bióloga Karina Paschoal Goes é uma das idealizadoras do grupo. Ela é a mãe de Júlia Góes Franchin, de 5 anos, que nasceu no hospital com Síndrome de Down, ficou internada cinco vezes no Vera Cruz e motivou a busca por um maior acolhimento da equipe hospitalar durante as horas de maior preocupação para a família.
Acolhimento terapêutico
Segundo Karina, as famílias ainda sofrem muito ao receber qualquer diagnóstico que saia do padrão do filho idealizado. “Quando recebi o convite para dar meu depoimento neste evento senti um misto de emoções e reviver este período está sendo terapêutico. Na busca por salvar minha filha, discuti muitas vezes com os médicos; ora com razão e outras, talvez não. Acredito que todos nós aprendemos muito durante as internações da Júlia e um dos resultados do aprendizado é este projeto”, conta Karina.
Em encontros anteriores entre famílias e equipes médicas, Karina se deu conta que todos estavam do mesmo lado. “O rancor se transformou em gratidão, as lembranças ruins deram espaço para criar boas memórias, ao lado de pessoas que lutaram muito. O orgulho no olhar das equipes, em especial no caso da Júlia, foi emocionante. Transbordou a felicidade e a sensação de vitória após tanta luta”, lembra.
Após a implantação do Coragem – Corações que Agem, Karina precisou voltar com sua filha e notou a experiência positiva proporcionada pelo projeto. “Me senti querida, que tudo daria certo, ouvi e fui ouvida”.
Compartilhando a dor
O encontro anual é uma das ações do projeto, que tem como grande cerne a empatia entre equipe médica e pais, afinal, no setor materno-infantil o paciente é também a família e não somente a criança. Neste cenário, explica Gisele, a base é fortalecer o vínculo e a empatia com os profissionais do hospital. Ao manter as informações sobre o estado de saúde dos pacientes atualizado, o time do Vera Cruz se sente muito feliz e tranquilo após a alta hospitalar.
Uma incrível ferramenta do Coragem – Corações que Agem é o grupo de Whatsapp, que está beirando 100 integrantes. Bastante presente, reúne famílias, psicólogos e as mães que estão chegando com os seus problemas atuais e à flor da pele, que recebem de imediato uma rede de suporte emocional.
“De forma sutil e cuidadosa, abre-se um caminho de diálogo entre todos e as relações interpessoais ficam mais harmoniosas. As famílias se sentem amparadas e as dores psíquicas também são tratadas. Novas ideias tornam-se realmente construtivas e os elogios e iniciativas em relação ao cuidado com os filhos são compartilhadas junto às equipes profissionais pela coordenadora do projeto”, explica Gisele.
Virou anjo
A contadora Ana Paula Trauzola Buosi está no grupo desde o início e teve muitas idas e vindas ao Vera Cruz entre 2014 e 2016 em função de procedimentos cirúrgicos e de cuidados paliativos – tão importantes quanto tratamento de qualquer doença – com o filho Luigi, que não resistiu a operações e aos tratamentos de combate ao tumor cerebral, falecendo com 1 ano e cinco meses. Em março deste ano, Ana Paula retornou ao Vera Cruz para dar à luz a Lívia e a equipe médica e de enfermagem com quem a família conviveu por conta do Luigi foi visitá-los. “As pessoas que trabalham no hospital não são somente profissionais, mas tornaram-se nossas amigas, pelas quais temos uma grande consideração e gratidão”, salientou durante exposição no evento de domingo.
Ela continuou: “É muito importante conhecer a dor do outro, principalmente quando o nosso momento é de lamento profundo. A gente acha que aquilo só acontece com você. Mas deparar com situações piores ou até melhores que a sua conforta e ajuda a seguir em frente”, compara.
Montanha-russa
Para Fernanda dos Santos Veronesi Gomes, pedagoga, que teve os três filhos no Vera Cruz e passou pela UTI Neonatal com Gabriel – que nasceu prematuro – o acolhimento da equipe do hospital nos 37 dias em que praticamente morou no Vera Cruz foi excepcional. Ela equipara o período como uma montanha-russa, pois viveu um turbilhão de emoções, ora com alegrias pela melhora do bebê, ora com retrocesso e muita angústia. “Aprendi que a cada novo dia que pisamos no hospital a pressa e a ansiedade devem ficar do lado de fora, pois a UTI tem o seu próprio tempo”.
A mãe de Gabriel finaliza: “A tensão não cessa na tão esperada alta. É quando começam os medos de não ter mais quem indique o que fazer e nisso o grupo ajuda muito também. As marcas serão eternas, mas tudo tem um começo, meio e fim”.