A terapia para glaucoma – doença que, se não tratada adequadamente, provoca cegueira – ganhou um grande reforço no Brasil: a Anvisa acaba de aprovar um implante projetado para reduzir a pressão intraocular em pacientes com a doença do tipo primária de ângulo aberto, para a qual as intervenções médicas anteriores à base de laser e colírios não foram efetivas.
De acordo com a fabricante, a farmacêutica Allergan, o XEN reduz a pressão dos olhos ao permitir que o fluxo do humor aquoso (líquido do olho) vá para o espaço subconjuntival. O implante é colocado por meio de uma microcirurgia, com uma pequena incisão na córnea, e pode ser feito em conjunto com a cirurgia de catarata. A falha da drenagem é justamente o que caracteriza o glaucoma. A oftalmologista Dra. Cecília Sevalho Gonçalves, especialista na área, ressalta que o implante já é usual nos Estados Unidos e em outros países, onde apresenta bons resultados. “No entanto, os médicos brasileiros precisam de treinamento para aplicá-lo por ser um procedimento delicado”, alerta.
A grande vantagem do dispositivo, conforme a médica, é que ele consegue baixar bastante a pressão com menos riscos para o paciente, quando comparado à cirurgia fistulizante (trabeculectomia). Ela explica que, ao contrário do XEN, a trabeculetomia – que é a cirurgia mais usada no País atualmente – requer abertura e realização de pontos na conjuntiva (branco do olho), o que aumenta o risco de infecções e outras complicações.
Segundo Dra. Cecília, os colírios hipotensores (redutores da pressão) para uso diário são normalmente a primeira opção de tratamento; nos casos em que a pressão do olho não está sendo controlada com estes métodos, há a indicação cirúrgica – é aí que entra o novo implante, que permite uma cirurgia eficaz e segura. “O glaucoma não tem cura e nem reversão, por isso é muito importante que se faça exames de medida da pressão intraocular e do fundo do olho periodicamente. O diagnóstico precoce facilita o controle e o paciente deve ser seguido pelo oftalmologista pelo resto da vida”, frisa.
O que é?
O glaucoma é uma doença degenerativa crônica do nervo óptico relacionada ao aumento da pressão intraocular. O nervo óptico é responsável por transmitir a informação captada nos fotorreceptores do olho até o córtex cerebral, onde é transformada em uma imagem. Nas fases iniciais, o glaucoma causa uma perda da visão periférica, normalmente imperceptível ao paciente. Com o passar dos meses e anos, o glaucoma progride e a visão vai “fechando”, podendo se tornar tubular e, sem tratamento, chega à cegueira. A perda visual pelo glaucoma é irreversível e os tratamentos disponíveis hoje conseguem apenas interromper a piora.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o glaucoma é responsável por 12,3% dos casos de cegueira no planeta, sendo a principal causa de cegueira irreversível e perdendo apenas para a catarata na totalidade de casos. O glaucoma é mais comum em pessoas acima dos 40 anos, atingindo cerca de 2% da população nessa faixa etária, mas pode ocorrer em qualquer idade, até mesmo em recém-nascidos (chamado de glaucoma congênito).
O glaucoma pode ser primário ou secundário. O primário se caracteriza pela impossibilidade de determinar a causa para o aumento da pressão intraocular. Já o glaucoma secundário ocorre como consequência de um estímulo externo ou de outras doenças. As causas mais comuns são diabetes mellitus, inflamações do olho (uveítes), traumas oculares e uso de corticoide. Há ainda exames complementares que auxiliam o diagnóstico e a classificar a gravidade da doença.
“Embora o glaucoma possa se manifestar de maneira aguda, em que a pressão do olho sobe subitamente causando dor ocular intensa, olho vermelho e embaçamento visual, na maioria das vezes o glaucoma é silencioso e sem sintomas. Só é percebido quando já está avançado”, alerta Dra. Cecília.
O tratamento do glaucoma consiste na redução e controle da pressão intraocular para impedir a sua progressão. A médica explica que a pressão ideal varia de pessoa para pessoa e quanto mais avançado o glaucoma, menor a pressão alvo.
Mas vale sempre a dica: apenas o médico oftalmologista pode indicar qual tratamento é o mais adequado para cada caso.