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Participação de atores em simulações ajuda no preparo para atendimento humanizado de profissionais de saúde

São Paulo, por Kleber Patricio

Foto: National Cancer Institute/Unsplash.

Quando se pensa em formação de médicos ou outro tipo de profissional da saúde, logo se imagina a complexidade e a imensidão de conhecimentos teóricos e técnicos a serem adquiridos e treinados antes de exercer plenamente a profissão. Mas, no preparo desse profissional, também é fundamental a prática de sua postura humanística, ou seja, como ele lida e se relaciona empaticamente com o paciente, no chamado atendimento humanizado. Nesse sentido, um projeto aprovado no Edital PRG 01/2020-202 Consórcios Acadêmicos para a Excelência do Ensino de Graduação (CAEG), uniu a Escola de Comunicação e Artes, a Faculdade de Odontologia e a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (ECA- FO – FMUSP), revelando como a teatralidade pode contribuir nesse importante quesito de formação.

“No aprendizado de um estudante de medicina ou de qualquer área da saúde, a simulação clínica é uma forma de se evitar o risco real. Ela permite identificar aptidões e competências não dominadas pelos estudantes, os ajuda a identificar competências e permite a redução da ansiedade na execução de procedimentos em situação de estresse, além de revelar progressos dos alunos em suas formas de comunicação com os pacientes. Ao fazer a simulação com pacientes padronizados, ou seja, bem roteirizados e de maneira profissional, o salto qualitativo na avaliação é indiscutível, com impactos diretos na formação profissional”, destaca Emerson de Barros Rossini, pesquisador da ECA-USP e autor da dissertação de mestrado Expansões da teatralidade: a participação de atores na prova de admissão de residentes e de especialistas no Hospital das Clínicas de São Paulo e no Revalida do Governo Federal.

Para que a simulação explore ao máximo suas possibilidades, os atores profissionais são escolhidos previamente pelo perfil de idade, sexo, etnia e especificidades físicas relacionadas às patologias propostas. Cada ator participante recebe o roteiro relatando o perfil do paciente, suas enfermidades e sintomas, dores, lesões e suas possíveis condições físicas, além de uma sequência de perguntas relacionadas ao caso para serem feitas para os futuros profissionais de saúde.

Rossini explica que “a padronização da interpretação é pensada para que os todos os estudantes estejam nas mesmas condições de avaliação e, assim, os professores possam observar como eles lidam com o paciente não só a partir de seus conhecimentos técnicos, como também sob o aspecto do atendimento humanizado, numa situação mais empática com o paciente e com a qualidade na atenção à saúde, como preconizam as Diretrizes Curriculares Nacionais”.

Atores nas provas de residência médica | Uma das instituições que já utilizam a teatralidade na formação de médicos é o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP), que, inclusive utiliza atores nas simulações de pacientes nas provas de residência médica. “Na avaliação, a ciência médica é colocada na arena da verdadeira prática clínica, não virtual, mais próxima da realidade cotidiana, simulando uma consulta autêntica e valorizando o encontro real sem o risco de lesão ou prejuízo”, diz Rossini.

Nas provas de residência HC também são usadas as próprias salas de atendimento como ambiente cenográfico das simulações – objetos como estetoscópios, resultados de exames, macas, leitores de raios-X são colocados, em caso de necessidade, para realização do atendimento, transformando o espaço em um set apropriado para cada questão. Em todas as provas, coloca-se ainda um relógio para cronometrar o atendimento. “Esse relógio é um controle visível e percebe-se que, durante a simulação, a maioria dos candidatos está sempre atenta ao tempo, operando sob pressão psicológica – uma pressão intencional, que também faz parte da avaliação”, detalha o pesquisador da ECA-USP.

A pressão exerce grande importância no preparo, uma vez que muitos médicos candidatos, bem preparados para o entendimento do diagnóstico, sob pressão momentânea, perdem a escuta na interação com o paciente. Na pressa de resolverem a questão dada, atropelam itens avaliados, como, por exemplo, interessar-se pelo nome do paciente, lavar as mãos antes do atendimento, o olho no olho com o paciente ou ainda perceber possíveis doenças causadas por um histórico de hábitos sociais – procedimentos que são de extrema relevância na avaliação humanística do profissional.

“O treinamento do controle emocional, da percepção das emissões de falas e gestos e das interações entre seres sociais são técnicas treinadas pelos atores profissionais e também muito úteis para a formação de um médico. O ator profissional lida com as especificidades do jogo cênico com mais naturalidade, o que dá todo o realismo na cena a ser vivida pelo futuro médico”, afirma Rossini.

Para o pesquisador da USP, o uso de pacientes simulados deveria fazer parte de um projeto de política pública consolidada na formação médica. “As práticas de simulação estão ali, emergindo desordenadamente, com tentativas escassas, bem sucedidas ou não, trazidas por associações, institutos, pelos médicos, professores e, em alguns momentos, por incentivo de governo, mas ainda com intermitências. Deveria ser algo trabalhado mais fortemente, ainda mais em tempos de desumanização, principalmente na política dos governantes”.

“As artes cênicas estão aí, com inúmeras possibilidades de seu alcance. Podem e devem extrapolar essas zonas liminares entre realidade e ficção e desbravar áreas desconhecidas ou pouco exploradas, dando sua contribuição na formação de profissionais fundamentais que prestarão assistência a toda população”, conclui Rossini.

(Fonte: Assessoria de Imprensa/Ex Libris Comunicação Integrada)