A pandemia de Covid-19, decretada em março pela Organização Mundial da Saúde (OMS), parou o mundo. Antes considerado um modelo a ser seguido, o Brasil iniciou sua quarentena no final do mesmo mês. Cerca de 75 dias depois, com a flexibilização aplicada na segunda-feira da última semana (8) a partir do Plano São Paulo, a cidade de Campinas integra a fase laranja e começa a viver o “novo normal”.
Com o objetivo de conter a propagação do vírus, o isolamento social tornou-se uma fonte de estresse e ansiedade, exigindo controle emocional de muita gente que se viu pela primeira vez nesta situação de contato pessoal limitado. Talvez por isso, o número de pessoas pelas ruas no primeiro dia de “normalidade” tenha sido tão significativo.
“Até pouco tempo, muitas pessoas preferiam o contato virtual, mas com o coronavírus e a recomendação de ficar em casa, a urgência pela liberdade fez com que o contato físico fosse mais valorizado. Não temos como afirmar todos os efeitos que o isolamento pode causar nas pessoas, porque cada experiência é singular. Mas devido a incontrolabilidade do futuro e da falta de uma previsão exata quanto ao fim deste período, temos observado as pessoas mais ansiosas, mais irritadas e mais preocupadas – o que é natural. O sinal de alerta para buscar ajuda está na proporção que esses sentimentos tomam dentro de uma situação caótica”, pontua a psicóloga Priscila Manzoli.
O impacto (social ou econômico) é uma realidade inegável. Contudo, o ideal é que a negatividade não prevaleça. Deste modo, a resiliência se apresenta como uma das principais ferramentas psíquicas para o momento. “Pessoas com as habilidades socioemocionais mais desenvolvidas, que entendem melhor seus sentimentos, lidam bem com eles e apresentam um repertório de resolução de problemas mais amplo com tomadas de decisão e assertividade, exercitam a resiliência. Mas, por se tratar de uma habilidade, qualquer pessoa pode desenvolvê-la”, comenta a psicóloga.
Sob o ponto de vista da inteligência emocional, a resiliência pode ser compreendida como a capacidade de trabalhar a positividade das emoções em situações adversas, como ocorre agora. “Este é um momento de tristeza, incapacidade, medo e insegurança para muitos. Para além das medidas de prevenção exaustivamente divulgadas desde o início da pandemia, que são extremamente necessárias para o resguardo físico das pessoas, a resiliência, suportada pela virtude da transcendência, pode auxiliar no enfrentamento da pandemia e na rotina que se inicia depois dela”, complementa a gestora em Recursos Humanos Priscila Gonçalves, especialista em Psicologia Positiva e Desenvolvimento Humano.
Resiliência e virtude
Desde 2011, quando foi idealizada, a organização social Embaixadores da Prevenção tem as virtudes como mote de trabalho. A transcendência, que rege nossa conexão com o universo e com o propósito de vida, faz parte das ações do projeto Por um Mundo de Virtudes, que este ano precisou contar com a resiliência de sua equipe para acontecer.
Com o isolamento, as atividades presenciais da ONG foram paralisadas, mas diante do cenário, a web tornou-se a plataforma de acesso ao conteúdo programado. Inspirado em um quadro de contadores de histórias do extinto programa Rá-Tim-Bum, o projeto está sendo executado em vídeo. Para tanto, os ensaios aconteceram online e as gravações na sede contaram com equipe reduzida, respeitando as medidas sanitárias. Dois vídeos já foram disponibilizados no canal do Youtube e cada contação tem como objetivo aguçar a imaginação das crianças a partir do oferecimento de um entretenimento lúdico e criativo – uma saída positiva para dias cinzas.