À luz de documentos inéditos, o historiador francês Jacques Dalarun apresenta uma reflexão sobre o exercício da autoridade em certas comunidades religiosas medievais e suas insuspeitas heranças para a democracia em nosso tempo. O relato está no livro Governar é servir – Ensaio sobre democracia medieval, da Editora da Unicamp, com lançamento na quarta (17).
Nos séculos XII e XIII, Domingo de Guzmán, Francisco e Clara de Assis, entre outros, inventaram uma forma de governar até então impensável. Segundo eles, quem está à frente de uma comunidade deve colocar-se a serviço daqueles que orienta e dirige.
De início, Dalarun examina o funcionamento e os usos dessa forma de governo a partir dos testemunhos utilizados pelo hagiógrafo Tomás de Celano para a canonização de Clara de Assis. A seguir, o autor apresenta as tentativas de colocar em prática um governo de humildade e de submissão, sem hierarquias rígidas; porém, demonstra que essa organização das ordens religiosas não foi fácil, pois seus membros não estavam preparados para desempenhar atividades intercambiáveis e vinham de origens culturais e sociais desiguais.
Usando fontes não publicadas, Jacques Dalarun revive cenas marcantes em que “se rebaixam os poderosos para exaltar os humildes” e delineia os elementos centrais da tradição política judaico-cristã, que difere do modelo greco-romano, ainda em ação nas democracias do século XXI.
A leitura é aconselhável para todo medievalista. É recomendável também para todos os que se questionam sobre as premissas de nossa democracia e, principalmente, para aqueles que nos governam. Afinal, segundo as ordens religiosas examinadas no livro, quem detém o poder deve estar ao serviço de quem governa – uma mensagem verdadeiramente atual.
(Fonte: Agência Bori)