Conhecer as necessidades e dificuldades das empresas para propor novas soluções para inclusão da diversidade nos ambientes corporativos – esta é a proposta do projeto Diversidade Aprendiz: Aprendizados para um futuro inclusivo, realizado em parceria entre a Somos Diversidade, a Organização Internacional do Trabalho – OIT e o Ministério Público do Trabalho – MPT com uma pesquisa que terá início esta semana. O lançamento acontecerá por meio de um webnário nesta terça-feira (11), às 19h, em link a ser divulgado na data no Instagram e LinkedIn do grupo.
A iniciativa colocará em campo uma pesquisa inovadora voltada para compreender melhor as barreiras de entrada para minorias no acesso ao mercado de trabalho formal. O questionário aborda possíveis entraves para acolhimento e promoção das diferenças nas empresas, buscando ter um quadro de funcionários mais diverso e como profissionais podem melhorar suas chances de contratação. A população-alvo prevista para a formulação dessas soluções inclui migrantes e refugiados, população negra, LGBTQIA+ (com ênfase em pessoas transexuais ou transvestigêneres), com deficiência, idade acima de 50 anos, egressos e egressas do sistema penitenciário ou em liberdade assistida, pessoas de baixa renda e moradoras e moradores de periferia.
“Esta pesquisa visa mapear quais são as competências necessárias nas vagas de porta de entrada, ou seja, as vagas de base dessas empresas que vão responder ao questionário”, explica Maite Schneider, coordenadora da Somos Diversidade e Embaixadora da Rede da Mulher Empreendedora. “A partir da compreensão dessas demandas, gargalos e gaps de competência que essas empresas encontram, será possível entender como preparar essas pessoas através de capacitações e outros programas e posteriormente inseri-las no mercado de trabalho”, ela complementa.
A iniciativa espera coletar ao menos 500 respostas vindas de gerentes de RH e outros gestores em cargos de alto nível decisório em todo o território nacional, por meio de um formulário online que leva de 10 a 15 minutos para ser preenchido. O questionário está dividido em três blocos temáticos que abordam fatores que podem ajudar ou atrapalhar na hora de contratações, levando em consideração o que os recrutadores buscam, a preocupação com inclusão e diversidade dentro dessas empresas e o perfil da corporação cujos funcionários participarem do estudo. Posteriormente, 10% dos participantes serão selecionados para a segunda etapa da pesquisa, com uma entrevista em profundidade. “São informações que respondem perguntas para as quais não há respostas no banco de dados de um órgão público”, explica Ana Maura Tomesani, cientista social responsável pela elaboração do questionário e proprietária da empresa de pesquisa Práxis Informação e Estratégia: “Os dados existentes nas plataformas de dados oficiais permitem a construção de um diagnóstico mais geral, mas não são capazes de revelar as engrenagens seletivas internas a estas empresas”.
Dados relativos às populações alvo, ao perfil das empresas participantes e seus processos de contratação demandam controle no tratamento. “São dois tipos de dados que exigem atenção. Os dados pessoais de pessoas vulneráveis por alguma condição social e dados de empresas, que precisam ter seu segredo de negócio protegido”, comenta Luiza Louzada, advogada e pesquisadora na área de proteção de dados pessoais. O projeto observa as disposições da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) e a segurança dos dados é garantida por termos de confidencialidade.
Thaís Dumet Faria, oficial técnica em Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho para América Latina e Caribe (OIT), comenta o objetivo do projeto: “Com esses resultados, será possível construir uma estratégia de formação profissional direcionada à demanda de mercado, apoiar as empresas na criação ou ampliação das suas políticas de diversidade e garantir a promoção do trabalho decente no contexto da crise oriunda da pandemia da COVID-19 e no processo de retomada econômica”. Reinaldo Bulgarelli, secretário executivo do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, também ressalta a importância das parcerias: “Promover oportunidades iguais, tratamento justo e respeitoso para todas as pessoas exige parcerias inovadoras entre empresas e organizações variadas da sociedade. Essas parcerias vão resultar em ambientes de trabalho com maior diversidade e efetiva inclusão”.
Estatísticas socioeconômicas já permitem compreender muitas das desigualdades de acesso à educação, trabalho e moradia no país. Dados da Síntese de Indicadores Sociais 2019 do IBGE demonstram, por exemplo, que o rendimento médio de brancos era, em média, 73,9% maior do que o de pretos e pardos. No mesmo ano, mulheres ocupavam 37,4% dos cargos gerenciais e recebiam 77,7% do rendimento dos homens. As taxas de desemprego também são maiores para mulheres e pessoas negras e quatro entre dez pessoas extremamente pobres eram mulheres pretas ou pardas de acordo com aquele relatório.
Pensando pelo prisma gerencial, o relatório Diversity Matters, da empresa de consultoria McKinsey & Company, líder mundial no mercado de consultoria empresarial, demonstrou que a inclusão da diversidade faz bem para empresas e funcionários. A publicação foi elaborada a partir de uma pesquisa que investigou milhares de empresas com mais de 500 funcionários no mundo todo. Nas empresas da América Latina que os colaboradores descreviam como comprometidas com a igualdade, mais de 60% dos entrevistados se declararam felizes com seu emprego. O ambiente de trabalho também se mostrou mais acolhedor para novas ideias, aberto ao diálogo nas equipes e com melhor feedback dos clientes. E os números são ainda mais impressionantes quando pensamos em performance financeira: segundo o relatório, essas empresas têm 93% de vantagens sobre seus concorrentes.