Apontada como mal do século XXI, a obesidade já é considerada uma epidemia global pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que, em estudos próprios, contabiliza 300 milhões de pessoas obesas em todo o mundo. No Brasil, os dados mais atualizados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) são de 2019 e revelam que a obesidade entre pessoas com mais de 20 anos atinge 26,8% da população e o excesso de peso alcança 61,7% da população adulta. Caracterizada pelo acúmulo anormal ou excessivo de gordura no corpo, a doença é crônica; ou seja, de lento desenvolvimento e longa duração. Fator de risco para uma série de outras doenças (como hipertensão, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 etc.), a obesidade pode ser desencadeada por questões diversas, como hormonais, inflamatórias, medicamentosos e genéticos, por exemplo.
No caso de Adriano Valenncia, a obesidade se apresentou quando ainda era um bebê. Aos três meses de vida ele já tinha um peso que, atualmente, o colocaria nos índices de obesidade infantil. Além do fator genético, o acréscimo na balança foi potencializado pelo emocional, especialmente após o divórcio dos pais e com o bullying sofrido na escola. “Eu tinha 12 anos quando minha mãe decidiu morar com a minha avó materna, já que ela não tinha condições de arcar sozinha com o aluguel. Com isso veio uma nova escola e mais humilhações por parte dos colegas. Tornei-me uma criança revoltada e agressiva, que já não contava com a presença do pai e que, aos poucos, foi deixando a escola de lado. Acabei encontrando na comida, principalmente nos doces, o meu refúgio”, relembra ele, que é especialista em TI há mais de 20 anos.
A dificuldade para perder peso e o direcionamento das frustrações para a comida tornaram a luta contra a balança uma constante. Foram muitos especialistas, dietas e medicamentos para tentar controlar a obesidade, que tinha como grande vilão o açúcar: “Com a medicação, eu conseguia emagrecer, mas quando cessavam os remédios, voltavam os quilos. E o efeito sanfona me afetava física e psicologicamente. Nesse período, os doces eram os únicos a me acalmar e acabar com a ansiedade. Deslocado e dessocializado, tinha o açúcar como minha amiga; só não sabia que era uma falsa amiga que me tirava um pouco da abundância de vida que eu tanto desejava a cada dia”.
Entre altos e baixos, Adriano chegou a pesar 180 quilos. Optou pela bariátrica (realizada aberta e que lhe rendeu uma grande cicatriz) e viu a solução se transformar em nova frustração ao alcançar 155 quilos logo depois. Embora não exista uma comprovação científica, mais do que saciar a fome, a comida tende a servir como carinho. Numa situação de estresse ou ansiedade, o ato de comer desencadeia uma cascata de reações químicas no cérebro, do desejo à primeira mordida, que suprem aquela demanda ou necessidade em forma de afeto. O termo para este hábito é “fome emocional” – utilizado quando você recorre aos alimentos, em geral mais calóricos e com maior incidência de açúcar, sal e/ou carboidrato, para suplantar frustrações do dia a dia.
Questões psicológicas na compulsão alimentar | No longo prazo, recorrer à comida para lidar com as emoções pode se tornar um círculo vicioso que leva a vida para um desequilíbrio. Por isso é fundamental saber reconhecer e tratar um hábito que virou rotina. “Um indivíduo saudável é aquele que tem equilibrado o bem-estar físico, mental e social. Segundo a OMS, a obesidade é uma doença que impacta diretamente essas três áreas. Como muitos estudos relatam que a causa não é única e que envolve tanto fatores físicos quanto psicológicos, o tratamento deve ser realizado por multiprofissionais”, comenta a psicóloga Letícia Diniz.
Os impactos psicológicos da obesidade são inúmeros e variáveis de pessoa para pessoa, com destaque para os de cunho emocional, como a baixa autoestima, insatisfação, vergonha, preconceito, estresse, depressão, ansiedade, entre outros que trazem prejuízos para a saúde psicológica e para a qualidade de vida, especialmente quando relacionados ao corpo que não está adequado aos “padrões”. “Sofremos muitas influências do ambiente externo e, quando esse ambiente promove e estimula padrões, esbarramos em imposições de limites entre o aceitável e não aceitável. Essa dicotomia gera conflitos que afetam a vida das pessoas nos âmbitos físico, mental e social – culpa, tristeza, frustração, rejeição e insatisfação são sentimentos que emergem a partir dessa divisão e que geram estigmas em torno de uma doença. Neste sentido, é inevitável que a auto percepção, consciente ou inconsciente, seja afetada a partir de ditames externos. Por isso, é muito importante que possamos falar mais desses estigmas sociais relacionados ao corpo e acolher a obesidade como uma doença que requer tratamentos e cuidados que estão além da força de vontade pessoal e/ou a ambição por um corpo adequado”, completa Letícia.
Mudança de mindset | Mesmo com apoio psicológico, necessário para que o bariátrico seja submetido à cirurgia e mantenha-se saudável após a cirurgia, Adriano voltou a estar obeso depois do procedimento. A autoconsciência, que é a base de todo o processo, só permite transformar e curar o que nós reconhecemos. E isso pode levar um pouco mais de tempo para cada ser. “No meu caso, levou 14 anos depois da cirurgia. Precisei quase voltar ao peso antigo para entender que, para me livrar dele, precisava me livrar também de outras questões que estavam agregadas. Não era mais uma questão apenas de peso”, conta ele.
A mudança, de fato, veio quando Adriano tomou posse da autoconsciência e iniciou um trabalho de dentro para fora. Toda essa trajetória deu origem ao livro Jornada do Ex-Obeso, lançado este mês em formato físico e digital. “Eu consegui reprogramar a minha mente para traçar novas rotas e perspectivas que transformaram meus hábitos e a minha rotina de forma saudável. Hoje eu alcancei o meu peso ideal e consigo mantê-lo sem dificuldades, mas não foi um caminho fácil. Dividir essa vivência foi o que me motivou a escrever o livro, que nasceu de uma necessidade que eu enxerguei de mostrar às pessoas relatos reais sobre a obesidade. Nele eu conto minhas experiências de vida relacionadas à obesidade, meus sentimentos, dores, emoções e a forma como fui ressignificando tudo o que vivi”, encerra.
O livro impresso está à venda no site www.adrianovalenncia.com.br pelo preço de R$39,99 e pode também ser adquirido na versão online pelo Amazon por R$24,90.
Sobre Adriano Valenncia | Nascido em 1978, Adriano é casado e atua há mais de 20 anos na área de tecnologia. Nos últimos anos, tem se dedicado ao autoconhecimento, ao desenvolvimento pessoal e à liderança com o intuito de curar seus traumas emocionais e ressignificar sua mentalidade, acarretando no emagrecimento e recuperação da sua autoestima. Dessa forma, encontrou sua maior missão e paixão: contribuir na vida das pessoas para mudar mentalidades e atitudes, lutando para que todos consigam ter uma vida abundante a partir do corpo, mente e alma saudáveis.