Durante a pandemia de Covid-19, os líderes políticos tiveram que tomar decisões morais com relação a quem recebia ou não tratamento para Covid-19. Um estudo internacional de universidades como Yale e Universidade de Kent, com participação da Universidade Presbiteriana Mackenzie, revela que a maioria das pessoas confiam mais em líderes políticos que tomaram decisões para salvar o máximo de vidas em todo o mundo ao invés de favorecer seus próprios cidadãos. As análises estão publicadas na revista “Nature Human Behavior” nesta quinta (1).
A pesquisa avaliou se as populações de diferentes países ao redor do mundo confiavam em líderes políticos que tomam decisões utilitárias durante a crise da Covid-19. Para isso, eles conduziram um experimento online em 24 mil pessoas de 22 países de todos os continentes, como Brasil, Estados Unidos, Austrália, França, Reino Unido, Alemanha, Índia, Israel e Coreia do Sul, entre outros. Eles pediram que os respondentes lessem dilemas morais enfrentados pelos líderes durante a pandemia, como a compra de respiradores e produção de medicamentos, solicitando, em seguida, que avaliassem o quão confiáveis eles consideravam os líderes que tomavam essas decisões. Depois, eles calcularam o quanto o endosso ou rejeição a determinada decisão afetou a confiança nos líderes fictícios.
Mais de 60% dos respondentes confiam em líderes que ofereceriam medicamentos para quem mais precisa, mesmo que isso signifique enviá-los para outros países. Em contraposição, quando o assunto é a escolha de quem vai receber ventiladores, mais de 85% dos respondentes confiaram em líderes não utilitários, que defendem a posição de que não cabe a ele a decisão de quem vai ou não receber tratamento para Covid-19. Neste caso específico, apenas 14,85% confiam em líderes que priorizam pessoas mais jovens e saudáveis para o tratamento da Covid-19, já que essas têm melhores chances de se recuperar.
Os resultados foram consistentes entre os países estudados, incluindo Austrália, Brasil, Canadá, Chile, China, Dinamarca, França, Alemanha, Índia, Israel, Itália, Reino da Arábia Saudita, México, Holanda, Noruega, Cingapura, África do Sul, Coreia do Sul, Espanha, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido e Estados Unidos da América.
Para o pesquisador Paulo Boggio, que lidera o estudo no Brasil, os resultados são interessantes ao mostrar que o utilitarismo tem aderência de parte da população. “Isso surpreende porque o utilitarismo é visto por muitos como uma forma controversa de tomar decisões morais e os indivíduos que adotam essa abordagem muitas vezes parecem não confiáveis. Aqui mostramos que dependendo de como for implementado, decisões utilitárias podem tanto quebrar quanto aumentar a confiança”, comenta.
(Fonte: Agência Bori)