Terceiro episódio de A Extinção É Para Sempre – projeto multilinguagem e inédito idealizado pelo artista, compositor, diretor e escritor Nuno Ramos e realizado pelo SESC São Paulo, com apoio do Goethe-Institut –, a performance Os Desastres da Guerra estreia em 16 de julho e terá três apresentações transmitidas ao vivo diretamente do teatro do SESC Vila Mariana.
O trabalho é inspirado na série de gravuras homônimas do espanhol Francisco de Goya, 82 imagens, realizadas entre 1810 e 1814, em que o pintor retratou cenas de fome, miséria e violência testemunhadas por ele durante a Guerra Peninsular.
Na criação de Nuno Ramos, as obras de Goya transformam-se em quadros-vivos. Em cena, os performers recriam as imagens do pintor espanhol enquanto interpretam cinco depoimentos sobre casos de miséria e violência do estado brasileiro. São relatos reais de casos de chacina e terror, ocorridos em locais como o Complexo da Maré e a comunidade do Jacarezinho, no Rio de Janeiro.
Soma-se a tudo isso um elemento sonoro: os depoimentos foram transpostos para o braile e, então, relidos como partituras musicais. Assim, as histórias quase impronunciáveis contadas pelo elenco são acompanhadas por sua transposição em braile projetada nas paredes e também por sua interpretação musical – uma sonoridade percussiva, tocada ao vivo. “A gente achou uma espécie de musicalidade rigorosa e científica da palavra através do braile. Eu senti que o texto era violento demais, e o braile o torna mais precioso, mais difícil de entender”, explica Nuno. Formam-se, então, várias camadas e modulações entre as vozes e a percussão.
Por fim, entra em cena um ator com deficiência visual, que ajuda a descrever textos e detalhes da performance e representa uma consciência coletiva – da nossa cegueira social.
“O espetáculo é uma tentativa de deslocamento para várias linguagens desse acesso quase impossível à violência civil do país, que é uma coisa que vem da nossa formação mesmo”, afirma Nuno. “Para vocalizar isso, precisei de várias instâncias mediadoras, que vão se distorcendo umas às outras. E o trabalho virou uma espécie de reza, uma litania, um murmúrio”, complementa o artista.
Chama | Também em julho, o projeto A Extinção É Para Sempre abre inscrições para o público participar da obra Chama. Inaugurada em maio, a obra foi criada como um monumento virtual de luto, uma chama eterna e ininterrupta em memória aos mortos que permanecerá acesa durante um ano, a obra agora está aberta a colaborações de pessoas públicas ou anônimas, artistas, coletividades ou instituições do mundo inteiro.
Por meio do formulário de inscrição disponível no site sescsp.org.br/aextincaoeparasempre, o público opta por uma data e horário para transmitir sua chama, que pode ser produzida da forma que preferir e transmitida ao vivo pela plataforma do projeto.
A ideia dessa alternância de chamas é utilizar o fogo como um ritual e também um chamado, uma convocação geral ao luto, à pausa e à dignificação de cada perda. Como explica Nuno Ramos: “Chama é um memorial aos mortos”. Há um fogo principal – a “chama-mãe”, criada pelo artista –, que nunca se apaga, instalado no SESC Avenida Paulista. A obra está sendo transmitida ao vivo no site do projeto desde o dia 25 de maio desse ano, no mesmo espaço virtual onde serão veiculadas as demais chamas.
A Extinção É Para Sempre | Trata-se de um projeto que une diversas linguagens artísticas e busca expressar uma resposta urgente às incertezas do presente: o momento político e social e a situação pandêmica que o mundo atravessa. O projeto multilinguagem e inédito é idealizado pelo artista, compositor, diretor e escritor Nuno Ramos e realizado pelo SESC São Paulo com apoio do Goethe-Institut. Organizado em sete episódios e com colaboração de nomes das artes visuais, da dança, do teatro e do cinema, o laboratório teve início em janeiro de 2021 e seguirá com desdobramentos ao longo de um ano.
“Estamos vivendo um misto de queda sem fim com ataque por todos os lados. O projeto é uma tentativa de reagir, com balas múltiplas, a um ataque múltiplo, de manter a linguagem viva em vários níveis”, afirma Nuno Ramos. “É também uma forma de fazer arte ‘a quente’, uma produção em movimento, que vá contra o atual estado de apatia e responda aos assuntos que percorrem o espaço público hoje – como o luto, a violência, a ameaça às instituições e a relativização da nossa história”, completa.
“Em meio à imprecisão e complexidade do momento atual, realizar tal proposta, com apoio do Goethe-Institut, é matizar possibilidades para uma travessia coletiva mais acolhedora, abastecida pelas múltiplas camadas que envolvem o fazer artístico-cultural e as descobertas infindas que a arte proporciona”, reflete Danilo Santos de Miranda, diretor do SESC São Paulo. Configurado como um laboratório artístico, o projeto tem promovido diálogos sobre as proposições com artistas de diversas origens e linguagens, como a escritora Noemi Jaffe, o cineasta Jorge Bodanzky, a diretora Tarina Quelho, a atriz Edna de Cássia, o coreógrafo Eduardo Fukushima e o encenador Antonio Araújo.
Nuno, que costuma trabalhar com diversos registros, explica que, aqui, o instinto “foi logo ir juntando muita gente. Temos de fazer, na cultura, o que a representação política não tem conseguido fazer, que é uma abertura, uma capacidade de contaminação entre o que pareceria incongruente. Isso tudo tem de somar agora, mostrar a força que as diferenças têm quando pisam num mesmo chão”, ele pontua.
Em cada um dos sete episódios, a equipe artística é reorganizada. Há participações pontuais e também um núcleo que perpassa todo o projeto. Ele é composto por Tarina Quelho, coreógrafa e diretora Tarina Quelho, o músico Romulo Fróes e os performers Allyson Amaral, Tenca Silva, Nilcéia Vicente, Ivy Souza e Leandro Souza. Esse grupo fixo, que nasceu de uma busca por novas parcerias, também irá ajudar a criar um diálogo entre todas as obras. “As ideias são muito diferentes entre si, mas formam um todo, e a gente vai carregando as ideias de um episódio para outro”, explica Nuno.
Os dois primeiros episódios, o monumento virtual Chama e a performance Chão-Pão, podem ser vistos pelo site do projeto (sescsp.org.br/aextincaoeparasempre). Os próximos trabalhos seguem em desenvolvimento no laboratório artístico e seus desdobramentos públicos estarão sujeitos às possibilidades de interação que as mudanças no contexto da pandemia venham a permitir nos próximos meses.
Ficha técnica Os Desastres da Guerra
Criação: Nuno Ramos
Direção e dramaturgia: Nuno Ramos, Tarina Quelho e Vicente Antunes Ramos
Performance e Colaboração Criativa: Allyson Amaral, Edgar Jacques, Eliana de Santana, Gabriela Silveira, Igor Caracas, Joy Catharina, Leandro Souza, Rayra Maciel, Renan Proença, Tenca e Vinícius Lordelos.
Direção musical: Igor Caracas e Romulo Fróes
Desenho e operação de luz: Gabriela Miranda e Matheus Brant
Figurino: Valentina Soares
Assistente de figurino: Caio
Direção técnica: André Boll
Direção de palco: Carolina Bucek
Direção de produção: Marisa Riccitelli Sant’ana e Rachel Brumana
Produção executiva: Giovanna Monteiro, Luiza Alves e Paulo Gircys
Execução cenográfica: William Zarella Jr
Assistente técnica e operação de vídeo: Giovanna Kelly
Sonoplastia e Consultoria audiovisual : Rodrigo Gava
Fotos divulgação: Matheus José Maria
Direção de filmagem: Pedro Nishi
Assessoria jurídica: José Augusto Vieira de Aquino
Assistência de assessoria jurídica: Paula Malfatti
Agradecimentos pela cessão de acervo de figurinos aos grupos e companhias: Cia Livre, Folias d’Arte, Mescla, Teatro Oficina Uzyna Uzona, Cia Antropofágica
Gestão e Produção: Superfície de Eventos
Realização: SESC SP
Apoio: Goethe-Institut
Ficha técnica do projeto A Extinção É Para Sempre
Realização: SESC São Paulo
Apoio: Goethe-Institut
Idealização e direção artística: Nuno Ramos
Assistência de direção: Vicente Antunes Ramos
Direção de produção: Rachel Brumana
Gestão e coordenação de produção: Marisa Riccitelli Sant’ana
Assistência de produção: Giovanna Monteiro e Luiza Alves
Direção técnica: André Boll e William Zarella Jr.
Artistas convidados e performers: Romulo Fróes, Tarina Quelho, Noemi Jaffe, Edna de Cássia, Eduardo Fukushima, Antonio Araujo, Allyson Amaral, Tenca
Serviço:
Performance Os Desastres da Guerra
16/7, sex., às 20h30, em instagram.com/sescaovivo e youtube.com/sescsp
17/7, sáb., às 20h30, em instagram.com/sescvilamariana e youtube.com/sescvilamariana
18/7, dom., às 17h, em instagram.com/sescvilamariana e youtube.com/sescvilamariana
Classificação indicativa: 14 anos.