Organizações com alta pontuação em indicadores de sustentabilidade têm em comum a liderança feminina, propositiva e atenta às responsabilidades sociais das corporações. É o que constata estudo inédito de pesquisadores da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV Eaesp) publicado na sexta (18) na revista “GV Executivo”. Ainda que sustentabilidade e equidade de gênero sejam desafios persistentes na sociedade, este é o primeiro estudo a analisar a relação entre esses dois temas nas empresas brasileiras.
Os autores partiram de uma análise quantitativa da pontuação dos fatores ESG (em português, indicadores ambiental, social e de governança) de 98 empresas de capital nacional. Os dados são provenientes do índice ESG Score, da agência Arabesque S-Ray, e correspondem ao período entre setembro de 2018 e agosto de 2020. 31% das organizações do grupo com baixa pontuação ESG não têm presença de mulheres na diretoria ou no conselho de administração. Já em empresas com alto ESG, essa ausência ocorre apenas em 17%.
Para validar as correlações positivas encontradas, os autores realizaram entrevistas em profundidade com 14 mulheres em cargos de liderança nas empresas pontuadas. Executivas de empresas com mais alto ESG entendem a sustentabilidade como uma pauta transversal e integrada e assumem postura proativa. Já em empresas com pior desempenho, as estratégias ESG são reativas, em estágio mais inicial e baseadas na pressão do mercado e nos riscos à reputação.
O estudo identifica pontos em comum para as executivas de empresas de organizações com alto e baixo desempenho ESG. O preconceito de gênero é agravado por serem a única mulher em situações de representação, o que inviabiliza a implementação de mudanças estruturais nas empresas. Por outro lado, o alinhamento das iniciativas ESG com valores pessoais traz olhar mais cuidadoso na gestão de indicadores e na administração de riscos socioambientais.
“O estudo mostrou que o bom desempenho socioambiental ocorre mais frequentemente nas empresas que têm mulheres em cargos de alta gestão em qualquer número acima de uma. Ouvir essas executivas ajudou a compreender por quê. Em vez de quererem ser como os homens ou assumir papéis masculinos, essas líderes estão convertendo os estereótipos ditos tipicamente femininos em atributos positivos de gestão, usando isso ao seu favor – o cuidado, intuição, cautela com riscos, atenção a normas e controles, saber ouvir. Comparando isso com a literatura já consolidada tanto em sustentabilidade como em liderança de gênero, esses atributos são os mesmos que geram favorabilidade à promoção da gestão para a sustentabilidade, revertendo-se em boa performance ESG”, afirma Monique Cardoso, uma das autoras do artigo.
(Fonte: Agência Bori)