O legado cultural indígena enriquece o patrimônio brasileiro e diz muito sobre nossa identidade e formas de contato com meio ambiente e território. Esse histórico, que tem sido negligenciado há séculos, ainda precisa de valorização e difusão, tanto para ajudar a combater estereótipos e preconceitos que ainda existem sobre os povos indígenas no Brasil, quanto para garantir que os saberes tradicionais sejam repassados para as futuras gerações. É para ajudar com esse desafio que a organização social Ponto de Cultura Povos da Mata Atlântica criou um projeto de valorização do patrimônio cultural do povo Guarani M’Bya, que vive em Cananéia (SP), por meio de registros fonográficos e audiovisuais da memória, dos saberes e das tradições culturais.
A iniciativa, que começou em 2015, foi uma demanda das próprias comunidades, que despertaram no Ponto de Cultura a possibilidade de expandir os trabalhos com a cultura indígena local em parceria com a Terra Indígena Tekoa Takuari-Ty, da etnia Guarani M’Bya. Segundo a liderança Abílio da Silva Martins Wera Poty, o apoio do Ponto de Cultura facilitou os trabalhos burocráticos e o acesso a recursos financeiros, promovendo mais autonomia para a comunidade. “Ficou mais fácil realizar nosso trabalho, participar de encontros e apresentações fora do município de Cananéia, além da importância da divulgação que eles fazem dos nossos direitos e da realidade das aldeias”. Sobre os registros audiovisuais, Abílio considera que esses materiais têm grande importância na divulgação da cultura indígena numa esfera nacional. “A sociedade precisa reconhecer a existência do nosso povo”, reivindica.
Segundo a pesquisa qualitativa “Narrativas Ancestrais, Futuro do Presente”, lançada em março por Amoreira Comunicação, Ipsos e DAPP/FGV, entre tomadores de decisão, como empresários, economistas e políticos, há desconhecimento sobre a realidade dos povos indígenas, rejeição e contestações quando o assunto são os direitos indígenas. O estudo mostrou que quanto mais conhecimento sobre o tema as pessoas pesquisadas mostraram, mais favoráveis eram à causa indígena.
Em 2021, o Ponto de Cultura colaborou com o registro dos cantos e danças tradicionais da Tekoa Takuari-Ty. Os conteúdos gerados estão disponíveis em plataformas digitais, como YouTube e Spotify, assim como também foram produzidas mídias (CD e DVD) como possibilidade de venda e geração de renda, potencializando a economia comunitária na aldeia.
A história e a cultura Guarani M’Bya são de tradição oral, passadas dos mais velhos aos mais jovens, constando muito pouco sobre elas nos livros e na história oficial. “O registro criativo da cultura e da memória oral dos Povos da Mata Atlântica é importante não só para as culturas relacionadas a eles em si, mas principalmente para recontar a verdadeira história do Brasil”, afirma Fernando Oliveira, gestor do Ponto de Cultura Povos da Mata Atlântica. “Temos direitos que estão na Constituição Federal, inclusive a demarcação do nosso território. Tirar esse direito é preocupante para todos nós. Vejo que é muito importante o apoio de todos, secretarias e terceiro setor, para manutenção dos nossos direitos que estão na Constituição”, finaliza Abílio.
Em 2016, o Ponto de Cultura também cocriou um roteiro de turismo pedagógico para incluir a Terra Indígena Tekoa Takuari-Ty como destino de grupos escolares que visitam o município de Cananeia, fortalecendo assim a cultura indígena por meio da educação e do turismo responsável e de base comunitária. Todas as ações fazem parte do programa Ponto de Memória, um programa cooperativo e participativo do Ponto de Cultura Povos da Mata Atlântica para registro, fortalecimento, valorização, apoio, disseminação e transmissão do patrimônio cultural imaterial relacionado às comunidades tradicionais e aos povos indígenas que vivem na Mata Atlântica.
Sobre o Ponto de Cultura Povos da Mata Atlântica
Organização social que tem por finalidade social promover a educação e a cultura a partir da valorização da pluralidade cultural e da sociobiodiversidade como bases em processos de inovação cidadã capazes de gerar tecnologias sociais e soluções sustentáveis em conexão com os saberes ancestrais dos Povos da Mata Atlântica, tendo todas as faixas etárias dessa população como público alvo.
Cria e realiza ações em toda a cadeia produtiva sustentável para a elaboração, captação de recursos, execução e prestação de contas de projetos e programas, tendo como foco principal as seguintes áreas: educação, meio ambiente, cultura, turismo, agricultura e segurança alimentar, saúde humana e bem-estar; experimentação de novas tecnologias sociais e de modelos de negócios sociais.
(Fonte: DePropósito Comunicação de Causas)