A região hidrográfica do rio Paraná, que abrange os estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e Distrito Federal, é a mais populosa e de maior desenvolvimento econômico do país. A partir de 2020, a nascente de seu principal rio, o Paraná, passou a ser receptora dos efluentes secundários da estação de tratamento de esgoto (ETE) localizada em Aparecida do Taboado (MS). Em artigo publicado na sexta (10) na “Revista Engenharia Sanitária e Ambiental”, pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Brasil alertam que o lançamento desses efluentes pode causar deterioração da qualidade da água – que já era comprometida – afetando as atividades de piscicultura, turismo e recreação da região.
O trabalho mostra que o rio Paraná, antes do lançamento dos efluentes, tinha mais da metade de suas amostras analisadas (57% – 61%) comprometidas, não atendendo à Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) n° 357/05 para demanda bioquímica de oxigênio e fósforo total, respectivamente. O potencial de impactos negativos está relacionado a esses dois fatores e à presença da bactéria Escherichia coli, indicando que o lançamento pode resultar na deterioração da qualidade da água do rio e comprometer seus múltiplos usos. Já a análise realizada no córrego Rondinha, quando ainda era o receptor dos efluentes da estação de tratamento de esgoto de Aparecida do Taboado, apontou a qualidade da água entre ruim e péssima.
A qualidade da água nestes pontos amostrais foi avaliada por meio do índice da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (IQACETESB), que utiliza parâmetros físicos, químicos e biológicos, como temperatura, turbidez, pH, demanda bioquímica de oxigênio, fósforo total e coliformes fecais (Escherichia coli). A escala do índice compreende as gradações ótima (80 – 100), boa (52 – 79), regular (37 – 51), ruim (20 – 36) e péssima (0 – 19). A qualidade geral do rio Paraná foi avaliada como boa (IQACETESB ≥ 72).
Por que a coleta das amostras precedeu o lançamento de efluentes?
Os autores explicam que a análise foi feita antes do lançamento dos efluentes para poder fornecer uma base documental e subsídios para discussões sobre os possíveis impactos ambientais e sociais da ampliação da estação de tratamento de esgoto, operada pela Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul (Sanesul). Os monitoramentos foram realizados em quatro pontos específicos, no período de agosto de 2019 a fevereiro de 2020. Em junho de 2019, também foi feita uma coleta de amostras em três locais do córrego Rondinha, onde eram lançados os efluentes anteriormente.
Para João Miguel Merces Bega, um dos autores do artigo e doutorando do Programa de Engenharia Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenharia de São Carlos da USP, diante desse quadro é necessário monitorar constantemente a qualidade da água. Isso deve ser feito, principalmente, na área a jusante do ponto de lançamento, onde há empreendimentos turísticos, como um balneário e ranchos utilizados para moradia, locação e lazer.
A princípio, segundo ele, o estudo não terá continuidade. “No entanto, pesquisadores e gestores ambientais podem consultar o artigo e usar os nossos resultados em seus trabalhos. Seria interessante avaliar a qualidade da água do rio Paraná, nos mesmos pontos amostrais do nosso trabalho, para verificar as alterações provocadas pelo lançamento dos esgotos tratados”, sugere.
(Fonte: Agência Bori)