Por Henrique Kopittke — As eleições presidenciais no Brasil serão decididas no segundo turno, em menos de uma semana. A disputa é uma das mais acirradas das últimas décadas e reflete uma nação dividida entre dois candidatos conhecidos, o atual presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os candidatos finalistas Bolsonaro e Lula são líderes populistas? Existe algo como populismo de direita e de esquerda? A minha pesquisa analisa o populismo, a democracia e os movimentos sociais atuais no Brasil e trata de processos em que a mobilização popular e os movimentos sociais podem resultar no fortalecimento de contestadores populistas. Este não é um processo que acontece de forma deliberada ou linear. Em vez disso, é uma história do desfecho de opções políticas, de como uma forma política passou a dominar outras e por quê.
Existem muitas definições sobre populismo. Esses relatos geralmente concordam que os populistas idealizam e procuram decretar sua forma de soberania popular, alimentar sentimentos contra os partidos (‘anti-establishment’) e postular um antagonismo fundamental entre o povo e a elite. Se o populismo corrói ou melhora a democracia é um ponto de discórdia.
Os populistas podem expandir a soberania popular e os direitos civis para segmentos excluídos da sociedade enquanto subvertem os mecanismos institucionais de prestação de contas. Os movimentos sociais complicam ainda mais o quadro. Na medida em que priorizam suas demandas e identidades e não se submetem inteiramente às necessidades estratégicas dos líderes e de suas coligações, podem tornar a representação menos abafada do “povo”. Os líderes populistas podem se aliar aos movimentos sociais e atender às suas demandas, mas, ao fazê-lo, podem cooptar e subjugar totalmente esses movimentos.
Nas últimas décadas, houve um aumento do populismo no país. O atual presidente é um líder populista. Em termos de retórica, Bolsonaro enfatiza o antagonismo com o “sistema político”, especialmente o Partido dos Trabalhadores. Seu estilo de liderança populista também se destaca pela comunicação contínua com seus seguidores por meio das redes sociais, transmissões ao vivo diárias e reuniões de imprensa, onde seus seguidores têm agredido jornalistas.
Olhando além de Bolsonaro, sua eleição em 2018 foi resultado do fracasso dos partidos políticos em apresentar uma resposta coerente à crise multifacetada que a sociedade brasileira vive desde 2013. Bolsonaro já capturou grande parte da raiva e indignação do eleitorado. Lula aposta no desejo popular de retornar a um passado mais próspero – e ordeiro. O cenário político está saturado, sem oportunidades para o surgimento de novos atores ou propostas.
Lula e Bolsonaro se comunicam de maneira popular e direta. Ambos têm elementos antagônicos em sua retórica. Mas as semelhanças param por aí. Lula transita com facilidade entre diferentes formas de discurso e modula sua comunicação de acordo com o eleitorado a que se dirige. Bolsonaro é mais consistente em antagonizar instituições e retratar seus apoiadores como a “verdadeira maioria.”
Os líderes populistas de esquerda geralmente enfatizam os antagonismos econômicos e de classe, se concentrando na oposição ao “grande negócio” ou ao “capital financeiro”. Já os populistas de direita enfatizam os antagonismos culturais. O problema é quando esses antagonismos saem da retórica para as vias de fato, e legitima-se a violência política. Esse parece ser o grande legado de Bolsonaro.
Sobre o autor | Henrique Kopittke é doutorando do Departamento de Sociologia da Universidade de Michigan e estuda a relação entre populismo, democracia e movimentos sociais na América Latina.
(Fonte: Agência Bori)