O avanço de atividades de acúmulo de capital, como extração de madeira, agronegócio e exploração mineral, tem posto a porção de floresta do sul do estado do Amazonas sob ameaça. Segundo artigo publicado na revista “Ambiente & Sociedade” nesta sexta (28), o avanço das atividades econômicas aumenta os conflitos por terras na região e altera os valores da sociedade local, que passa a considerar a natureza como inimiga do progresso. Além de contribuir para o desmatamento do bioma, a perspectiva de desenvolvimento coloca em risco áreas protegidas e terras indígenas, dizem pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).
Os cientistas investigaram a fronteira do Amazonas com seus estados vizinhos Acre, Rondônia e Mato Grosso para avaliar os efeitos do avanço de negócios ligados à ocupação de terras sobre as populações que vivem nos municípios de divisa. A equipe viajou por dois anos para observar a expansão da fronteira agrícola sobre o sul do estado do Amazonas, além de recolher dados cartográficos sobre a região para medir o desenvolvimento de atividades econômicas na região.
A pressão para o desenvolvimento econômico não vem apenas do setor privado, mas também de agentes do Estado, por meio de políticas públicas que desfavorecem a conservação ambiental, como a implementação da rodovia Transamazônica a partir dos anos 1970. Já nos anos 1990, por pressão de organismos internacionais e de movimentos sociais, o governo brasileiro assumiu uma postura mais direcionada à preservação e conservação ambiental. Para os autores do artigo, no entanto, há uma contradição na ação do Estado ao implementar políticas ambientais e, ao mesmo tempo, estimular economias destrutivas dos espaços protegidos.
Além de crimes ambientais, há uma nova perspectiva social sendo posta nos locais de disputa. “A expansão de negócios está chegando ao estado do Amazonas, que era um dos mais conservados da Amazônia Legal, da região Norte”, conta Viviane Vidal da Silva, autora do artigo, professora e pesquisadora da UFAM. “Mas o sul do estado está passando por uma dinâmica territorial relacionada com o mercado de commodities e do agronegócio”, explica. A grilagem e o plantio de soja são algumas das atividades econômicas que têm avançado as fronteiras do Amazonas.
Uma das consequências diretas é o impacto ambiental, que é bastante perceptível na região. “As cidades estão um cinzeiro”, afirma Ricardo Gilson da Costa Silva, professor da UNIR e um dos autores do estudo. Outro problema identificado na fronteira é uma releitura sobre o sentido da floresta. “Com esses grupos econômicos avançando no sul do estado do Amazonas, a população não vê a floresta amazônica como um bem social, cultural e cria-se a ideia de que a floresta em pé não rende dinheiro”, lamenta.
A ideia de progresso e de crescimento econômico está associada ao impacto ambiental sobre áreas de preservação e terras indígenas. “Quem vive na floresta está sob ameaça”, afirma Silva. Além de alertar os órgãos públicos sobre a gravidade das consequências do avanço das atividades predatórias, os pesquisadores esperam fomentar o debate dentro das universidades para que mais estudos sejam realizados sobre o que eles chamam de “sociedade de fronteira” no sul do Amazonas. Os resultados serão reunidos em um livro que mostrará os dados sobre a região e a formação social local.
(Fonte: Agência Bori)