Ao contrário do que a literatura científica apontava até agora, pesquisa inédita mostra que, ao longo da sua evolução, as espécies de plantas e algas desenvolveram diferentes mecanismos de absorção do ferro. A descoberta, feita por pesquisadores das universidades federais de Minas Gerais (UFMG) e do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Michigan State University, está descrita em artigo publicado na quarta-feira (11) pela revista “New Phytologist”.
Os pesquisadores reuniram informações genéticas de mais de 50 espécies de plantas e algas e identificaram o gene responsável pelo transporte do ferro nestes organismos. O método utilizado foi o da genômica comparativa, que compara semelhanças entre partes do genoma com origens iguais em espécies diferentes.
A análise mostrou que o gene que produz a proteína transportadora do ferro nas plantas se difere entre plantas e algas como “primos distantes de uma mesma família”, nas palavras do pesquisador que chefiou o estudo, Luiz Eduardo Del Bem. Apesar da origem diferente, as estruturas tridimensionais das proteínas são semelhantes. Segundo o pesquisador, isso demonstra que, no processo evolutivo, duas proteínas diferentes convergiram para ter estruturas parecidas, que tem relação com o transporte do ferro.
“Sabemos que a evolução criou a porta de entrada do ferro por pelo menos duas vezes”, detalha o pesquisador. Um exemplo é o gene que faz a proteína que existe nas algas verdes, que não é o mesmo que faz nas plantas terrestres. “Estes genes têm apenas um parentesco distante. Eles fazem parte de uma grande família de transportadores de diversos tipos de metais que são usados por boa parte dos seres vivos, inclusive nós humanos”, afirma.
Essencial para todos os organismos, o ferro está relacionado a muitos processos bioquímicos nas plantas, incluindo a síntese de clorofila, que é essencial para a fotossíntese. Os mecanismos da sua captura do ambiente podem ser modificados em plantas transgênicas, transformando-as em ricas em ferro em um processo conhecido como biofortificação. “Criar plantas geneticamente modificadas com um transporte eficiente de ferro para grãos seria uma utilização positiva e poderia atender, principalmente, a população infantil do Sul global, como o Brasil, que sofre com anemias causadas pela falta do ferro”, afirma Del Bem.
(Fonte: Agência Bori)