Assim como a matéria-prima de qualquer indústria, a uva também necessita de equipamentos para ser lapidada. Utensílios que ampararam esse processo, contribuindo na sua transformação em néctar na forma de vinho ou de espumante, compõem uma das grandes atrações do revitalizado Complexo Enoturístico da Cooperativa Vinícola Garibaldi.
A presença desses aparelhos nos corredores do espaço do enoturismo e do varejo – datados desde fins do século 19 a meados dos anos 1980 do século passado – ajuda a compor não só um panorama histórico da vitivinicultura regional, mas também, da própria trajetória de evolução do vinho brasileiro.
Andar por ali é como visitar um museu dedicado à enologia. Ao todo, são 10 acessórios expostos, como bigunços e mastelas. Outros cinco itens pertencentes ao acervo da vinícola foram apenas catalogados e serviram para inspirar na montagem do espaço. Entre eles estão equipamentos como a “slita”, um rudimentar veículo sem rodas puxado por mulas, de meados dos anos 1880, similar a um trenó e utilizado para transportar a colheita da uva dentro das propriedades. “Geralmente, ela era construída a partir de dois troncos de árvores ou uma ‘forquilha’, onde eram apoiados os cestos para o transporte”, conta o jornalista Cassius André Fanti, responsável pela pesquisa histórica que amparou a ambientação dos espaços.
Para dar início à proposta, ele realizou um levantamento de equipamentos guardados na vinícola. Fotografou cada um deles e estabeleceu a sequência da cadeia produtiva, desde a colheita da uva, o transporte até a propriedade, a elaboração do vinho colonial ou a destinação à vinícola e o processo industrial. Além disso, pesquisou registros bibliográficos sobre o tema, visitou museus e entrevistou trabalhadores de outros tempos que utilizaram alguns dos equipamentos ou preservam a memória de itens usados em sua época e na de antepassados.
Fanti destaca como esses acessórios contribuíram para estabelecer o desenvolvimento da vitivinícola regional. “A cultura da videira evoluiu juntamente com os avanços tecnológicos de cada época, principalmente porque as condições geográficas da Serra do Nordeste do Rio Grande do Sul nunca foram favoráveis ao trabalho humano. Só se comemora a importância econômica e social deste setor atualmente porque homens e mulheres superaram desafios inimagináveis e criaram habilidades para abrir caminhos, com superação e persistência, para estabelecer o que hoje nos orgulhamos em chamar de Região da Uva e do Vinho”, avalia.
Além da “slita”, o jornalista destaca outra curiosidade garimpada em sua pesquisa. Trata-se da “sfoladora”, também utilizada nos primórdios da viticultura na Serra, e um dos equipamentos catalogados pela pesquisa. “Hoje, alguns estabelecimentos turísticos a utilizam para que os visitantes ‘pisem as uvas’. Antigamente, ela ficava sobre a mastela para a extração do mosto. Em resumo, é uma espécie de caixa com furos em sua parte de baixo”, explica Fanti.
Itens em exposição
– Bigunço (até os anos 1980) | Parecidos com pipas de madeira, eram usados para o transporte das uvas entre as propriedades rurais e as vinícolas.
– Desengaçadeira (década de 1950) | É a etapa inicial do processamento da uva. Este equipamento separa os grãos do cacho e inicia o processo de esmagamento.
– Mastela (década de 1880) | Tina de madeira onde eram colocadas as uvas para serem pisadas no processo de esmagamento para extrair o mosto para a elaboração dos vinhos. Além disso, também serviam para a trasfega do vinho ou para o preparo da calda bordalesa (verderame, no dialeto), um fungicida para ser aplicado nas parreiras.
– Prensa Manual (década de 1940) | Separa as partes sólidas (casca, sementes) do líquido por meio da compressão dos grãos nas paredes internas.
– Bomba manual (década de 1950) | Usada para transferir vinhos entre as pipas e para auxiliar no engarrafamento.
– Amadurecimento (pipas de madeira) | Após a fermentação e filtragem dos vinhos, o vinho fica por um período para concentrar aromas e ganhar maior complexidade.
– Envasadora (Utilizada a partir da década de 1950) | Aparelho para encher garrafas e outros recipientes de vinho ou espumantes. Modelo manual cuja pressão era exercida por gravidade.
– Rolhadora | Aplicava as rolhas em garrafas e garrafões por meio de pressão, para garantir a conservação dos vinhos e, em alguns casos, no envelhecimento nas próprias garrafas.
– Gabietador | Usada para prender as gaiolas nas garrafas de espumantes (amarrações com arames que seguram a rolha).
– Capsulador (década de 1950) | Colocava a cápsula no gargalo das garrafas, com o objetivo de proteger a rolha e a bebida de possíveis danos.
Itens do acervo catalogados
– Slita (a partir de 1880) | Parecido com um trenó, era um veículo sem rodas puxado por mulas, utilizado para transportar a colheita da uva em cestos, das parreiras até a propriedade.
– Sfoladora (década de 1880) | Também era usada para a pisa das uvas. Espécie de caixa com furos em sua parte de baixo, que era colocada sobre a mastela.
– Carroça (começaram a ser construídas na região a partir de 1885) | Meio de transporte com tração animal (geralmente bois) usado para a transportar os bigunços com uvas.
– Balaios | Cestos produzidos com vime (fibra natural obtida de um arbusto) utilizados para armazenar a uva após a colheita até serem transportadas à propriedade.
– Rotuladora | Equipamento utilizado para a aplicação dos rótulos em garrafas, melhorando muito a padronização de sua identificação, o que antes era feito manualmente.
(Fonte: Exata Comunicação)