O conjunto de fatores que determina o tamanho ideal de golfinhos, baleias azuis e outras espécies de cetáceos é muito mais dinâmico do que os cientistas acreditavam ser, segundo uma pesquisa publicada no periódico “Current Biology” na terça-feira (28). As paisagens adaptativas – ou seja, o conjunto de relações entre características de uma espécie e seus efeitos na reprodução e sobrevivência dessa espécie –, são muito diferentes do esperado pelos pesquisadores, que reuniram dados de mais de 3 mil indivíduos de 345 espécies de cetáceos.
Este foi o primeiro estudo que usou uma grande quantidade de dados de fósseis, além de espécies viventes, para estimar o tamanho de cetáceos ao longo da evolução do grupo. A pesquisa foi co-liderada por um brasileiro no Museu de História Natural de Londres, na Inglaterra.
Os cientistas partiram da dúvida sobre porque existe tanta variação de tamanho dentro do grupo dos cetáceos, que inclui desde golfinhos até as baleias azuis, ao longo de sua evolução. Normalmente, o conceito de paisagens adaptativas é utilizado em pequenas escalas de tempo, mas a equipe aplicou para uma escala de 53 milhões de anos, quando os cetáceos se originaram, e se surpreendeu com o resultado. O esperado era que as análises mostrassem dois picos adaptativos (que representam os tamanhos ideais), um para tamanhos grandes e outro para tamanhos considerados pequenos, mas eles encontraram uma série de diferentes tamanhos considerados ideais para diferentes grupos dentro dos cetáceos. Não há um tamanho considerado ótimo para todos os golfinhos e um para as baleias, por exemplo.
“A evolução de tamanho corporal em cetáceos é muito mais difusa e dinâmica”, afirma Gustavo Burin, pós-doutorando do Museu e um dos autores do artigo. “Existe um tamanho ideal baseado em alguns contextos que muda conforme esse contexto muda”, explica o pesquisador. No início, os cetáceos eram animais terrestres e, quando ocuparam o ambiente marítimo, seus tamanhos mudaram. Uma das hipóteses é de que na água haveria menos competição por alimento e menos predadores para os cetáceos. “É mais fácil ser gigante na água do que fora dela”, explica Burin.
A aplicação desse tipo de resultado é mais indireta, segundo o cientista. Mas as descobertas podem ajudar a entender o processo evolutivo dos animais e qual o papel de fatores sobre a evolução de algumas espécies. “Pode dar pistas para tentar entender como vai ser a resposta de organismos a mudanças climáticas futuras, por exemplo, como esses organismos respondem a mudanças ambientais em escala de tempo grande”, exemplifica Burin.
Além de tentar fazer previsões, esse tipo de estudo pode auxiliar na reconstrução da história da evolução dos mamíferos marinhos, o que pode ajudar a entender melhor como a diversidade de espécies funciona e porque há tanta variação de tamanhos deste grupo dentro do ambiente aquático.
(Fonte: Agência Bori)