Os Cinemas Novos das décadas de 1950 e 1960 até hoje fazem espectadores se levantarem de seus sofás para encherem as salas de cinema. Esse fenômeno cinematográfico internacional deu proeminência a autores como Godard e Truffaut na França, Wim Wenders, Herzog e Fassbinder na Alemanha, Milos Forman, Věra Chytilová e Frantisek Vlácil na Tchecoslováquia, e Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos e Joaquim Pedro de Andrade no Brasil. Porém, pouca atenção é dada ao Cinema Novo Britânico.
Lindsay Anderson, um dos pioneiros do movimento, há muito reclamava que o cinema havia adquirido uma estrutura esnobe, anti-intelectual e emocionalmente inibida. Querendo revolucionar essa estrutura, cineastas como Tony Richardson, John Schlesinger e Ken Loach apostaram em temáticas sociais (as dificuldades da classe trabalhadora do Norte da Inglaterra), no estilo observacional do cinema direto, e, principalmente, no personagem do Jovem Homem Revoltado (Angry Young Man). A mostra Cinema Novo Britânico traz um panorama dessa mistura de neorrealismo, linguagem experimental e anti-heróis. A programação é gratuita e os ingressos são distribuídos na bilheteria uma hora antes de cada sessão.
A mostra será acompanhada de um curso ministrado pela Profª Drª Cecília Mello Antakly, da Universidade de São Paulo, composto por quatro aulas: 1 – O Free Cinema dos anos 1950; 2 – O Cinema Novo Britânico dos anos 1950 e 1960; 3 – Reverberações do Cinema Novo Britânico na televisão: Ken Loach; 4 – Reverberações do Cinema Novo Britânico na música: dos Beatles ao Arctic Monkeys. As aulas são gratuitas e presenciais aos sábados e domingos das 16h às 18h. As inscrições devem ser feitas pelo site da Cinemateca Brasileira. Será emitido certificado para aqueles que comparecerem em ao menos três aulas.
PROGRAMAÇÃO
18 de maio, quinta-feira
17h, na sala Grande Otelo
Almas em leilão | Room at the Top
Reino Unido, 1958, 117 min, p&b, 16 min.
Direção: Jack Clayton
Elenco: Simone Signoret, Laurence Harvey, Heather Sears, Donald Wolfit, Donald Houston
Sinopse: Um homem ambicioso e de família pobre consegue um emprego no norte da Inglaterra. Ele planeja se casar com a filha do homem mais rico da cidade, contudo se apaixona por uma mulher mais velha e casada.
Comentários: Uma adaptação do romance homônimo escrito por John Braine em 1957. O filme teve ótima recepção de público e foi indicado a seis Oscars, tendo sido premiado com a estatueta de melhor atriz para Simone Signoret e melhor roteiro adaptado.
19h, na área externa
O mundo fabuloso de Billy Liar | Billy Liar
Reino Unido, 1963, 98 min, p&b, 14 anos
Direção: John Schlesinger
Elenco: Tom Courtenay, Julie Christie, Wilfred Pickles, Mona Washbourne
Sinopse: Um jovem preguiçoso e irresponsável trabalha numa funerária e vive no seu próprio mundo da fantasia, tomando decisões imaturas, contando mentiras e afastando seus amigos e familiares.
Comentários: Baseado no romance de Keith Waterhouse, o filme é inspirado nos kitchen sink dramas e na Nouvelle Vague francesa, com traços do cinema documental. Em 1999, British Film Institute – BFI colocou a obra na posição de 76º na lista dos 100 melhores filmes britânicos.
19 de maio, sexta-feira
17h, na sala Grande Otelo
Se… | If…
Reino Unido, 1968, 111 min, cor, 14 anos
Direção: Lindsay Anderson
Elenco: Malcolm McDowell, Christine Noonan, David Wood, Richard Warwick
Sinopse: Uma sátira da vida escolar inglesa, o filme segue um grupo de alunos que preparam uma revolução em um internato masculino.
Comentários: Um marco da cinematografia britânica na época da contracultura dos anos 1960, o filme foi objeto de controvérsias na época de seu lançamento, recebendo um certificado de censura por suas representações de violência. Filmado no mesmo momento das revoltas estudantis em Paris em maio de 1968, inclui diálogos que contestam o sistema e criam apologias da violência. Conquistou a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 1969. Em 1999, o British Film Institute – BFI o escolheu como 12º melhor filme britânico do século XX.
19h, na sala Grande Otelo
A mulher que pecou | The L-Shaped Room
Reino Unido, 1962, 126 min, p&b, 16 anos
Direção: Bryan Forbes
Elenco: Leslie Caron, Tom Bell, Bernard Lee, Brock Peters, Cicely Courtneidge, Patricia Phoenix, Emlyn Williams
Sinopse: Uma jovem francesa descobre estar grávida e então se muda para uma pensão miserável em Londres frequentada por pessoas que vivem à margem da sociedade. Ali, ela pensa em abortar, enquanto estabelece vínculos com os outros hóspedes.
Comentários: Baseado em no livro homônimo de Lynne Reid, o filme é considerado um kitchen sink drama, movimento cinematográfico ligado ao realismo social. Ao tratar de gravidez fora do casamento e de aborto, temas tabus na época, foi considerado muito polêmico e, por isso, não teve tanto sucesso de público. Além disso, traz personagens raramente representados no cinema naquele tempo, como um jovem negro inteligente e uma atriz lésbica. A protagonista, Leslie Caron, ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz por sua atuação nesse filme.
20 de maio, sábado
14h, na sala Grande Otelo
FILME SURPRESA
16h, na sala Grande Otelo
Curso Cinema Novo Britânico
Aula 1: O Free Cinema dos anos 1950
18h, na sala Grande Otelo
Um gosto de mel | A Taste of Honey
Reino Unido, 1961, 101 min, p&b, 14 anos
Direção: Tony Richardson
Elenco: Dora Bryan, Robert Stephens, Murray Melvin, Paul Danquah, Rita Tushingham
Sinopse: Uma adolescente grávida deve se virar sozinha quando sua mãe omissa se casa novamente e abandona a filha, deixando a garota apenas com um novo amigo para ajudá-la.
Comentários: Uma adaptação à peça homônima de Shelagh Delaney, de 1958. O filme se tornou um exemplo clássico de um gênero cinematográfico britânico chamado de Kitchen Sink, que partia de um estilo de realismo social para representar a classe trabalhadora. Com Lindsay Anderson e Karel Reisz, Tony Richardson, diretor de Um gosto de mel, é o mais conhecido realizador do Free Cinema, um movimento britânico atrelado a uma “consciência social”. Muitos de seus filmes lidam com a classe trabalhadora e incluem adaptações literárias e teatrais para as telas.
20h, na sala Grande Otelo
A solidão de uma corrida sem fim | The Loneliness of the Long Distance Runner
Reino Unido, 1962, 104 min, p&b, 14 anos
Direção: Tony Richardson
Elenco: Avis Bunnage, Tom Courtenay, Michael Redgrave
Sinopse: A história de um jovem rebelde de classe trabalhadora que vai para reformatório depois de um roubo malsucedido. Lá consegue privilégios por meio de sua destreza como corredor de longa distância, que é aproveitada pelo diretor da instituição para tentar conquistar o campeonato entre reformatórios.
Comentários: Adaptação do conto de Alan Sillitoe, o filme retrata o Reino Unido do final dos anos 1950 e início dos 1960 como um país elitista, onde a classe alta goza de privilégios enquanto a classe baixa sofre uma vida dura. Uma crítica aos centros de detenção, que funcionam de forma a manter a classe trabalhadora submissa e obediente. Com Lindsay Anderson e Karel Reisz, Tony Richardson, diretor de A solidão do corredor de fundo, é o mais conhecido realizador do Free Cinema, um movimento britânico atrelado a uma “consciência social”. Muitos de seus filmes lidam com a classe trabalhadora e incluem adaptações literárias e teatrais para as telas.
21 de maio, domingo
14h, na sala Grande Otelo
FILME SURPRESA
15h, na sala Oscarito
Curso Cinema Novo Britânico
Aula 2: O Cinema Novo Britânico dos anos 1950 e 1960
18h, na sala Grande Otelo
Odeio essa mulher | Look Back In Anger
Reino Unido, 1959, 98 min, p&b, 16 anos
Elenco: Richard Burton, Gary Raymond, Mary Ure, Claire Bloom
Direção: Tony Richardson
Sinopse: Um universitário desiludido e furioso de classe trabalhadora tem uma esposa de classe mais alta. Ele terá que lidar com seu rancor contra a vida e os valores da classe média.
Comentários: Inspirado na peça de John Osborne, trata-se de um exemplo clássico do movimento cultural britânico conhecido como realismo kitchen sink. Com Lindsay Anderson e Karel Reisz, Tony Richardson, diretor de Odeio essa mulher, é o mais conhecido realizador do Free Cinema, um movimento britânico atrelado a uma “consciência social”. Muitos de seus filmes lidam com a classe trabalhadora e incluem adaptações literárias e teatrais para as telas.
20h, na sala Grande Otelo
O criado | The Servant
Reino Unido, 1963, 116 min, p&b, 14 anos
Direção: Joseph Losey
Elenco: Dirk Bogarde, Sarah Miles, James Fox
Sinopse: Um homem rico se muda para Londres e contrata um criado para cuidar da casa. Aos poucos, ele manipula seu patrão e o coloca em uma posição de subserviência, invertendo a dinâmica das relações de poder anteriormente estabelecidas.
Comentários: Baseado no romance de Robin Maugham, o filme é um drama psicológico de ataque direto à aristocracia inglesa. Considerado uma das obras mais perturbadoras da história do cinema, conquistou grande sucesso crítico e comercial e inspirou o clássico contemporâneo Parasitas de Bong Joon-ho.
25 de maio, quinta-feira
17h, na sala Grande Otelo
Como conquistar as mulheres | Alfie
Reino Unido, 1966, 114 min, cor, livre
Direção: Lewis Gilbert
Elenco: Michael Caine, Shelley Winters, Millicent Martin, Julia Foster, Jane Asher
Sinopse: Um charmoso e egocêntrico galanteador de mulheres que busca apenas o prazer se vê obrigado a questionar seu comportamento, solidão e prioridades.
Comentários: Nomeado para cinco Oscars, o filme teve duas refilmagens (1975 e 2004). A criação mais conhecida do escritor Bill Naughton, a personagem Alfie Elkins surgiu em uma peça de rádio e fez sucesso nos palcos antes de dar ao carismático Michael Caine um dos papeis mais famosos do cinema Britânico da década de 1960.
19h, na sala Grande Otelo
A mulher que pecou | The L-Shaped Room
Reino Unido, 1962, 126 min, p&b, 16 anos
Direção: Bryan Forbes
Elenco: Leslie Caron, Tom Bell, Bernard Lee, Brock Peters, Cicely Courtneidge, Patricia Phoenix, Emlyn Williams
Sinopse: Uma jovem francesa descobre estar grávida e então se muda para uma pensão miserável em Londres frequentada por pessoas que vivem à margem da sociedade. Ali, ela pensa em abortar, enquanto estabelece vínculos com os outros hóspedes.
Comentários: Baseado em no livro homônimo de Lynne Reid, o filme é considerado um kitchen sink drama, movimento cinematográfico ligado ao realismo social. Ao tratar de gravidez fora do casamento e de aborto, temas tabus na época, foi considerado muito polêmico e, por isso, não teve tanto sucesso de público. Além disso, traz personagens raramente representados no cinema naquele tempo, como um jovem negro inteligente e uma atriz lésbica. A protagonista, Leslie Caron, ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz por sua atuação nesse filme.
26 de maio, sexta-feira
17h, na sala Grande Otelo
Se… | If…
Reino Unido, 1968, 111 min, cor, 14 anos
Direção: Lindsay Anderson
19h, na sala Grande Otelo
Tudo começou num sábado | Saturday Night and Sunday Morning
Reino Unido, 1960, 89 min, p&b, 18 anos
Direção: Karel Reisz
Elenco: Albert Finney, Shirley Anne Field, Rachel Roberts, Hylda Baker, Norman Rossington
Sinopse: Um jovem operador de torno mecânico trabalha em uma fábrica a contragosto e passa seus finais de semana bebendo e jogando. Ele vive em relacionamentos com duas mulheres, sendo que uma delas é casada com seu colega de trabalho e está grávida de seu filho e a outra exige que haja um compromisso sério.
Comentários: Uma adaptação do romance homônimo de 1958, escrito por Alan Sillitoe, que também escreveu o roteiro do filme. A obra apresenta um traço comum nos kitchen sink dramas, que é a presença de jovens homens furiosos da classe trabalhadora que se rebelam contra o sistema de opressões. Em 1999, British Film Institute – BFI, colocou a obra na posição de 14º na lista dos 100 melhores filmes britânicos.
27 de maio, sábado
14h, na sala Grande Otelo
FILME SURPRESA
15h, na sala Oscarito
Curso Cinema Novo Britânico
Aula 3: Reverberações do Cinema Novo Britânico na televisão: Ken Loach
18h, na sala Grande Otelo
Up the Junction
Reino Unido, 1965, 75 min, p&b, 16 anos
Direção: Ken Loach
Elenco: Carol White, Geraldine Sherman, Vickery Turner, Tony Selby, Michael Standing, Ray Barron
Sinopse: Três mulheres operárias no sul de Londres na década de 1960 lidam com família, amizade, romance, sexo e aborto.
Comentários: O quarto episódio da terceira temporada do programa de TV da BBC “The Wednesday Play”. Controverso, o episódio foi assistido por quase 10 milhões e a BBC recebeu mais de 400 reclamações sobre sua representação de aborto.
20h, na sala Grande Otelo
Título: Cathy Come Home
Reino Unido, 1966, 75 min, p&b, 16 anos
Direção: Ken Loach
Elenco: Carol White, Ray Brooks, Winifred Dennis, Wally Patch
Sinopse: Um jovem casal enfrenta problemas financeiros devido ao rígido e problemático sistema de bem-estar de seu país.
Comentários: O sétimo episódio da quinta temporada do programa de TV da BBC “The Wednesday Play”, Cathy Come Home foi votado o melhor drama pelo BFI100 de Televisão Britânica em 2000.
28 de maio, domingo
14h, na sala Grande Otelo
FILME SURPRESA
15h, na sala Oscarito
Curso Cinema Novo Britânico
Aula 4: Reverberações do Cinema Novo Britânico na música: dos Beatles ao Arctic Monkeys
18h, na sala Grande Otelo
Kes
Reino Unido, 1969, 110 min, cor, 12 anos
Direção: Ken Loach
Elenco: David Bradley, Brian Glover, Freddie Fletcher, Lynne Perrie, Colin Welland
Sinopse: Um menino de uma família de classe baixa e problemática sofre abusos e humilhações em casa e na escola. Ele consegue fugir dessa dura realidade quando encontra um pequeno falcão e decide treiná-lo.
Comentários: Um dos primeiros filmes de Ken Loach, seu sucesso de público no Reino Unido é atribuído à divulgação boca a boca. Algumas cenas foram dubladas para o lançamento do filme nos EUA devido à dificuldade de entender o dialeto Yorkshire dos atores.
20h, na sala Grande Otelo
O pranto de um ídolo | This Sporting Life
Reino Unido, 1963, 134 min, p&b, 16 anos
Direção: Lindsay Anderson
Elenco: Richard Harris, Rachel Roberts, Alan Badel
Sinopse: Frank Machin é um minerador ambicioso que consegue se tornar uma estrela de rugby no time dirigido por seu chefe. Apesar do sucesso no campo, ele sente um vazio crescente em sua vida enquanto sua angústia interior começa a se materializar através da agressão e brutalidade. Ele tenta então conquistar uma mulher na esperança de encontrar uma razão para viver.
Comentários: Primeiro longa-metragem de um dos maiores nomes do Free Cinema, movimento cinematográfico ligado ao gênero documental surgido na Inglaterra em meados da década de 1950. O Pranto de um Ídolo é baseado em um romance homônimo escrito em 1960 por David Storey. O filme impulsionou enormemente a carreira do diretor e do ator estreante, Richard Harris, que ganhou o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes de 1963.
Cinemateca Brasileira
Largo Senador Raul Cardoso, 207 – Vila Mariana – São Paulo (SP)
Horário de funcionamento:
Espaços públicos: de segunda a segunda, das 8 às 18h
Salas de cinema: conforme a grade de programação
Biblioteca: de segunda a sexta, das 10h às 17h, exceto feriados
Sala Grande Otelo (210 lugares + 4 assentos para cadeirantes)
Sala Oscarito (104 lugares)
Retirada de ingresso 1h antes do início da sessão
Cinemateca Brasileira | A Cinemateca Brasileira, maior acervo de filmes da América do Sul e membro pioneiro da Federação Internacional de Arquivo de Filmes – FIAF, foi inaugurada em 1949 como Filmoteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo, tornando-se Cinemateca Brasileira em 1956, sob o comando do seu idealizador, conservador-chefe e diretor Paulo Emílio Sales Gomes. Compõem o cerne da sua missão a preservação das obras audiovisuais brasileiras e a difusão da cultura cinematográfica. Desde 2022, a instituição é gerida pela Sociedade Amigos da Cinemateca, entidade criada em 1962 e que recentemente foi qualificada como Organização Social.
O acervo da Cinemateca Brasileira compreende mais de 40 mil títulos e um vasto acervo documental (textuais, fotográficos e iconográficos) sobre a produção, difusão, exibição, crítica e preservação cinematográfica, além de um patrimônio informacional online dos 120 anos da produção nacional. Alguns recortes de suas coleções, como a Vera Cruz, a Atlântida, obras do período silencioso, além do acervo jornalístico e de telenovelas da TV Tupi de São Paulo, estão disponíveis no Banco de Conteúdos Culturais para acesso público.
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(Fonte: Trombone Comunicação)