Das 358 espécies de aves já mapeadas há algumas décadas em quatro unidades de conservação do interior do estado de São Paulo, apenas 278 foram registradas durante pesquisa de campo para identificar as aves remanescentes na região. O estudo, publicado na segunda-feira (22) na “Revista do Instituto Florestal”, sugere que algumas espécies podem estar desaparecendo das paisagens do interior paulista, especialmente as florestais.
O mapeamento foi realizado por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), da Universidade Federal de Itajubá (Unifei) e do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO) entre setembro de 2021 e janeiro de 2022 na Reserva Biológica de Andradina e nas Estações Ecológicas de Marília, de Paulo de Faria e de Santa Maria. A pesquisa teve financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), IdeaWild e The Rufford Foundation.
As aves foram identificadas por meio de binóculos e também de seus sons e o critério para registro seguia o método da lista de dez espécies. Nele, as aves são anotadas em sequência, sem repetição, até a décima espécie e aquelas já registradas só são inscritas novamente nas próximas listas. Ao final, foi possível determinar o Índice de Frequência de Lista (IFL) para cada espécie por localidade. Também foram produzidos mapas de calor para visualizar onde a maior parte das espécies foi detectada desde o início dos inventários de aves nestas localidades. Além do mapeamento do número total, o estudo identificou cinco espécies endêmicas do Cerrado, uma da Mata Atlântica e cinco ameaçadas de extinção no estado.
O objetivo do trabalho é disponibilizar dados para ações de gestão, ecoturismo, educação ambiental e conservação, uma vez que há pouco conhecimento disponível e atualizado sobre as aves remanescentes nessas regiões. “O que se sabia era quase nada. A gente tinha a informação antiga, que embasou toda a nossa pesquisa, e agora a gente trouxe informação recente. O problema é que entre a antiga e a recente não tinha nada no meio do caminho”, afirma Vagner Cavarzere, um dos autores do estudo.
O que o pesquisador chama de ‘meio do caminho’ diz respeito a um período em que o interior paulista sofreu um processo intenso de desmatamento e degradação da vegetação. As poucas áreas preservadas foram as Unidades de Proteção Integral, que são pequenas em comparação àquelas do litoral, como o Parque Estadual da Serra do Mar. Segundo Cavarzere, os registros anteriores indicavam que algumas áreas próximas às que foram mapeadas tinham muito mais espécies, especialmente as florestais, que não foram encontradas no último mapeamento. “Existe um indicativo de que elas sumiram e nem as áreas de preservação de hoje conseguiram manter uma vegetação boa suficiente para manter essas comunidades ali”, explica o pesquisador.
O mapeamento ajuda a chamar atenção para a biodiversidade que ainda existe no interior de São Paulo, mas que está ameaçada. Para Cavarzere, as poucas áreas de mata nativas existentes que estão fora de unidades de conservação precisam ser delimitadas e preservadas para não sumirem e proverem ambiente para espécies florestais. “Uma área que a gente nem conhece ainda, que poderia ser uma região importante para pesquisa, pode deixar de existir em um futuro muito breve”, pontua.
(Fonte: Agência Bori)