Notícias sobre arte, cultura, turismo, gastronomia, lazer e sustentabilidade

Histórica e contemporânea: Usina Henry Borden completa 97 anos

Cubatão, por Kleber Patricio

Vista aérea do Complexo Henry Borden. Fotos: divulgação/EMAE.

A Usina Hidrelétrica Henry Borden, localizada no sopé da Serra do Mar, em Cubatão, e operada pela Empresa Metropolitana de Águas e Energia (EMAE) – oriunda da antiga Light – completou 97 anos no último dia dia 10 de outubro. Se engana quem pensa que a hidrelétrica está ultrapassada – pelo contrário, há alguns anos a EMAE vem modernizando suas usinas e estruturas e, dentro dos seus objetivos, está manter a originalidade e confiabilidade que é marca da empresa desde os tempos da antiga Light. Entre as suas prioridades, está o complexo Henry Borden. Formado por duas usinas, uma externa e outra subterrânea, ambas de alta queda (720 metros de desnível), possui 14 grupos de geradores que totalizam uma capacidade de geração de 889 MW, o que é equivalente ao consumo de energia de aproximadamente três milhões de pessoas. A usina é antiga, mas seus sistemas estão sendo atualizados com tecnologias de última geração.

É o caso do mecanismo de controle do complexo que passou pelo retrofit e ganhou novas telas de operação. Os novos equipamentos aumentaram a consciência situacional dos operadores, proporcionando maior precisão e agilidade nas tomadas de decisão.

O sistema de automação da casa de válvulas da seção externa, responsável pela supervisão, comando e controle das válvulas borboletas das adutoras das oito unidades geradoras, também passou por atualização tecnológica. Duas das seis válvulas esféricas existentes na usina subterrânea foram desmontadas, modernizadas e aprovadas para voltarem em operação, após os diversos testes de confiabilidade. Três de seus transformadores de 65 MW, que estavam em operação desde a década de 1940, também estão na lista dessas melhorias que foram feitas, assim como outras.

A Usina Henry Borden marcou história e teve um papel essencial no desenvolvimento do estado de São Paulo. Por meio da eletricidade gerada, contribuiu para o crescimento do parque industrial paulista e a expansão da urbanização da cidade de São Paulo na primeira metade do século 20.

Para saber mais

A história da Usina Hidrelétrica Henry Borden é repleta de curiosidades memoráveis e, para comemorar seus 97 anos, contamos algumas delas:

Quem passa pela estrada sentido capital, vindo do litoral sul paulista, certamente já viu aqueles tubos gigantes encravados na Serra do Mar, no meio da Mata Atlântica. Mas, ao contrário do que muita gente pensa, eles não são dutos de petróleo. Por eles, passa a água necessária para a geração de energia em uma das mais antigas usinas hidrelétricas do Brasil.

Casa de Válvulas da usina externa do Complexo Henry Borden.

Inaugurada em 1926 como Usina de Cubatão, a partir de fevereiro de 1964, passa a se chamar Henry Borden, em homenagem ao advogado canadense que foi o mais alto executivo da Light, entre 1946 e 1965.

A sua fama chegou ao exterior e, no ano seguinte à inauguração, o local foi visitado pelo autor e poeta britânico, Prêmio Nobel de Literatura de 1907 Rudyard Kipling.

Para que as suas turbinas gerem energia elétrica, a usina é abastecida pelas águas da represa Billings, que, por sua vez, foi projetada para receber as águas do rio Pinheiros. O fornecimento dessa água só foi possível por meio da reversão do curso da Bacia do Tietê, que naturalmente corre para o interior de São Paulo, fazendo com que águas desçam a Serra do Mar. Tudo isso fez parte do “Projeto da Serra”, investimento da antiga Light, concebido entre as décadas de 1920 e 1960. Quem esteve à frente do projeto foi o engenheiro americano Asa White Kenney Billings, que deu nome à represa.

Obra inédita na engenharia do país, além do alto custo financeiro, havia ainda a malária como impedimento à permanência de trabalhadores na serra. O local era conhecido pelos engenheiros como “Mar Morto”, de tão inviável julgavam ser para qualquer empreendimento. Apesar disso, a Light conseguiu convencer os acionistas a investir no projeto e contratou o sanitarista Arthur Leiva, que havia tratado de endemias durante a construção do Canal Panamá, e as obras foram adiante.

O complexo tem duas usinas – uma externa, inaugurada em 1926, e uma subterrânea, que começou a operar 30 anos depois. Somadas, as duas unidades possuem capacidade instalada de 889 MW. Para movimentar os geradores, as águas descem pelos tubos até chegar às turbinas, uma queda d’água de 720 metros, gerando energia elétrica.

Entrada da usina subterrânea do Complexo Henry Borden.

A história que envolve a subterrânea, aliás, é bastante peculiar. Existe uma lenda que diz que ela foi construída para garantir a geração de energia caso a usina externa fosse destruída por um bombardeio. Mas a verdade é que o projeto construtivo de uma usina subterrânea era bem mais adequado ao local, pois a instalação de adutoras na encosta da Serra do Mar, como as da usina externa, era tecnicamente mais complicado, o que elevaria os custos da obra.

A área de máquinas da usina subterrânea fica encravada sob a montanha, a cerca de um quilometro da parte central do complexo. As águas chegam às turbinas por um túnel adutor que percorre as entranhas do solo rochoso do alto da serra até a casa de máquinas.

Durante a Revolução de 1932, a Usina Henry Borden chegou a sofrer um bombardeio aéreo do Governo Vargas que atingiu a casa de máquinas do complexo. A ideia era interromper o fornecimento de energia e parar o Polo Industrial da cidade de São Paulo. O plano não deu certo e o local sofreu apenas algumas avarias e a sua atividade não chegou a ser paralisada.

Uma resolução ambiental de 1992 que só permite o bombeamento das águas do rio Pinheiros para o reservatório Billings para controle de cheias reduziu em 75% aproximadamente a energia produzida em Henry Borden. Mesmo assim, ela é essencial para o setor elétrico nacional. Sempre que necessário, a usina é demandada para atender às necessidades do SIN (Sistema Interligado Nacional).

A vasta trajetória da usina pode ser pesquisada também no portal da Fundação Energia e Saneamento.

(Fonte: EMAE)