Mais do que os níveis de salinidade ou de transparência da água, é a vegetação local que define a distribuição de cavalos-marinhos Hippocampus reidi em estuários de rios. Um estudo da Universidade Federal do Ceará (UFC) mostra que esta espécie em risco de extinção se concentra em áreas de manguezais do rio Pacoti, no Ceará, pois consegue se fixar nas raízes das árvores do mangue, o que torna urgente a preservação deste bioma. Estas conclusões estão em artigo científico publicado nesta semana na revista “Neotropical Ichthyology”.
Os pesquisadores monitoraram a população de cavalos-marinhos em regiões próximas à foz do rio Pacoti, no Ceará, durante um ano – entre dezembro de 2017 e novembro de 2018. Ao todo, 248 indivíduos foram identificados e tiveram perfil, sexo, tamanho e gravidez registrados. Aspectos do ambiente, como salinidade e transparência da água, também foram observados pelos cientistas.
“A salinidade costuma variar nos estuários de acordo com a entrada de água doce, a partir dos rios, ou de água salgada, a partir das marés”, explica Gabriela Valentim, pesquisadora da UFC e autora do artigo. O estudo observou que a quantidade de cavalos-marinhos grávidos aumenta na época seca, entre os meses de janeiro e dezembro, período em que o nível de salinidade das águas tem menos variação.
A pesquisadora relata que a turbidez da água pode dificultar a alimentação de espécies como os cavalos-marinhos, que ficam parados aguardando suas presas para sugá-las com a boca em formato de tubo. Outros fatores como alterações de temperatura e profundidade das águas também podem influenciar o tamanho da população desses animais. “O cavalo-marinho é dependente de seu habitat como forma de abrigo de predadores e de locais de fixação, já que ele se prende com sua cauda em substratos como raízes, ervas-marinhas e algas”, conta Valentim.
O Hippocampus reidi é uma das espécies de cavalos-marinhos que constam como vulneráveis na edição de 2018 do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que lista as espécies de peixes e invertebrados aquáticos ameaçados de extinção. Para a cientista, os resultados da pesquisa podem ser relevantes para a criação de futuros programas de conservação do cavalo-marinho e de seu habitat preferido, os manguezais. “Para que qualquer programa de conservação seja desenhado e posto em prática, é necessário obter informações básicas sobre o estado das espécies-alvo. Por isso, a importância de monitoramentos como esse”, conta a autora.
A partir de agora, os autores seguem em busca de respostas sobre a fauna aquática do nordeste brasileiro. O próximo passo é monitorar as comunidades de peixes que vivem em diversos estuários distribuídos no Ceará para levantar dados sobre a fauna desta região costeira.
(Fonte: Agência Bori | Ressoa Oceano – Pesquisa indexada no Scielo)