Uma pesquisa inédita da Universidade Federal do Ceará (UFC) e parceiros pode indicar os efeitos da insegurança alimentar na saúde de comunidades e povos tradicionais do país. Cerca de 19% das crianças e adolescentes de comunidades ribeirinhas têm altura baixa para a sua idade — a taxa mais alta dentre os povos e comunidades tradicionais. Os dados estão descritos em artigo científico publicado na segunda (18) na “Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde”.
A alta prevalência de ribeirinhos com altura baixa para sua idade pode estar associada à desnutrição causada pela falta de acesso a pescados por causa de ciclos intermitentes de secas e cheias nos rios da região Norte. O acesso a alimentos de pouca qualidade também parece ser um problema nesta e em outras comunidades e povos tradicionais: 23% das mulheres adultas de comunidades tradicionais camponesas de todo o país tinham obesidade, em comparação a 11% dos homens.
O trabalho analisou o estado nutricional de quase 14 mil indivíduos de comunidades e povos tradicionais de ambos os sexos, entre zero e 101 anos de idade, de todas as regiões do país, com base em informações registradas no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) em 2019.
As comunidades tradicionais representam 1% dos registros do Sisvan — e têm os ribeirinhos (50%), geraizeiros (13%) e quilombolas (10%) em maior quantidade. Mais da metade dos indivíduos com dados analisados pela pesquisa são da região Norte (56,4%), seguidas por Nordeste (20,8%), Sudeste (18,9%), Sul (2,2%) e Centro-Oeste (1,6%) — e a maioria se identifica como tendo a cor parda (65%), seguidas de branca (13,7%), amarela (7,1%), preta (5%) e indígena (4,3%).
Segundo o coautor do estudo, Ítalo Wesley Oliveira Aguiar, da UFC, as taxas de peso e altura baixas são consideradas índices de desenvolvimento nutricional para a saúde pública. A Organização Mundial da Saúde (OMS) sugere que para as crianças de 3 a 4 anos o peso ideal é cerca de 15,4 kg para os meninos e 15 kg para as meninas, com uma altura para os meninos de 100 cm e, para as meninas, de 99 cm.
Aguiar explica que, os índices podem estar ligados ao isolamento e à falta de amparo a estas comunidades. “Apesar dos indicadores serem de 2019, sabemos que, desde então, a situação destas comunidades potencialmente se agravou por conta da pandemia de Covid-19 e da recorrência maior de eventos climáticos extremos como a recente seca na Amazônia”, comenta o pesquisador.
O trabalho mostra a profissionais de saúde a diversidade entre grupos étnicos, raciais e culturais no país. Considerados preocupantes pelos pesquisadores, os indicadores de saúde nutricional e alimentar destas comunidades podem servir para sensibilizar os tomadores de decisão nas instâncias públicas e profissionais da saúde.
(Fonte: Agência Bori)