Com cerca de 98% da população coberta por programas da Estratégia Saúde da Família (ESF), municípios rurais de Minas Gerais apresentam taxas de mortalidade e de desnutrição infantil menores que as regiões urbanas do estado. Menos de uma morte a cada mil crianças com até um ano de idade acontece nesses municípios, enquanto a média estadual é de 11 mortes a cada mil crianças nesta faixa etária. É o que revela pesquisa publicada na segunda (18), na revista científica “Saúde em Debate”.
O estudo, resultado de uma colaboração entre a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES/MG), aponta para resultados positivos da estratégia liderada pelo Ministério da Saúde e traz dados importantes para a análise e gestão do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado.
Para investigar as características socioeconômicas e de saúde dos municípios do estado de Minas Gerais e explorar possíveis associações com os indicadores de desenvolvimento humano e de saúde, o grupo de pesquisadores coletou dados de 2021 de todos os 853 municípios mineiros a partir de fontes oficiais acessíveis ao público. A análise estatística e comparativa englobou 15 variáveis relacionadas com a localização geográfica do município, indicadores sociais e de saúde, bem como sua classificação como rural ou urbano, de acordo com os critérios estabelecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Aproximadamente 65% dos municípios mineiros são classificados na tipologia rural do IBGE”, comenta João Alves Pereira, especialista em Políticas e Gestão em Saúde da SES/MG. “No geral, são municípios pequenos, com até 20 mil habitantes, com baixo IDH, forte desigualdade na distribuição de renda, grandes distâncias entre cidades e baixa densidade demográfica”, completa o autor. Mesmo nesse contexto, foram as áreas rurais que apresentaram as melhores taxas de mortalidade infantil do estado. Outro dado relevante mostrado pelo estudo é que o número de crianças mineiras de até dois anos, em zonas rurais, que enfrentam a desnutrição é de 4,35% — menor do que a meta definida pelo estado, de 4,82%.
A alta cobertura de regiões rurais pela ESF pode ser um dos fatores responsáveis por esses resultados positivos. A cobertura de quase 100% desses serviços em áreas rurais de MG também pode ter colaborado para a distribuição uniforme da cobertura vacinal identificada pelo estudo, que pode ter gerado uma proteção mais eficaz da população contra diversas doenças.
O estudo mostra, por outro lado, que as médias de IDH ainda são mais altas em municípios urbanos. Os municípios rurais apresentam as maiores taxas de analfabetismo e de baixa renda do estado de Minas. Isso acende um alerta para a necessidade de se direcionar atenção para a educação e renda nestes municípios. “É preciso estabelecer uma agenda intersetorial para investimento em estratégias de desenvolvimento social e econômico, incluindo o acesso à renda, o investimento em alfabetização e em infraestrutura básica”, defende Pereira.
O pesquisador revela que o próximo passo da pesquisa envolve expandir a avaliação dos indicadores estudados para o nível nacional, abrangendo todos os municípios brasileiros. “A associação de indicadores contextuais e indicadores de saúde ainda é pouco explorada no Brasil e poderia trazer informações importantes para mudar a vida dos brasileiros de forma prática”, finaliza.
(Fonte: Agência Bori)