As interações entre animais marinhos contribuem para o equilíbrio e a manutenção da diversidade no oceano. Oito associações inéditas entre ofiúros e esponjas, dois grupos de animais que fazem parte do ecossistema marinho, foram encontradas na costa Nordeste do Brasil. Dessas, sete foram observadas em áreas importantes de conservação da biodiversidade: o Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio e o Canal das Arabaianas, ambos em Fortaleza. As descobertas reforçam a relevância das áreas de conservação ambiental para estudos sobre a biodiversidade brasileira. O achado está descrito em estudo publicado na segunda (18), na revista científica “Ocean and Coastal Research”, por pesquisadoras da Universidade Federal do Ceará (UFC), do Instituto Federal de Brasília (IFB) e da Universidade de Brasília (UnB).
Os ofiúros, ou ofiuróides, são conhecidos como serpentes-do-mar e são parentes próximos das estrelas-do-mar. Eles atuam na reciclagem de matéria orgânica dos oceanos. Já as esponjas, também conhecidas como poríferos, desempenham um papel fundamental na formação e manutenção do ecossistema marinho. Muitas vezes, animais como os ofiúros se aproveitam da estrutura das esponjas para obter alimentos, para se proteger contra predadores ou para se abrigar. Ao mesmo tempo, esses animais fazem a limpeza dos canais de água das esponjas, que se alimentam filtrando a água do mar.
Para investigar as relações ecológicas entre ofiúros e esponjas, as pesquisadoras analisaram coleções científicas da UFC e do Museu Nacional do Rio de Janeiro, que abrigam exemplares desses dois grupos de animais. Os animais estudados foram coletados na costa do estado do Ceará, nordeste do Brasil, entre julho de 2009 e outubro de 2021. No total, foram encontrados registros de 14 interações entre quatro espécies de ofiúros e 11 espécies de esponjas. Dessas, oito foram documentadas pela primeira vez nesse artigo. “Os animais foram coletados e analisados em laboratório”, explica Mariany Oliveira Arruda, coautora do artigo. Dessa forma, as pesquisadoras conseguiram registrar as associações existentes entre as espécies.
Segundo Oliveira, investigar as relações que acontecem entre diferentes grupos marinhos é uma maneira de entender melhor o funcionamento dos ecossistemas. Isso pode proporcionar o estabelecimento de medidas de conservação mais efetivas dos oceanos. “Os oceanos são os principais reguladores da temperatura do nosso planeta, permitindo que possamos viver adequadamente. Se cuidamos do mar, estamos cuidando de todas as relações ecológicas existentes, que são essenciais para a nossa sobrevivência no planeta Terra”, explica a autora.
Além disso, a pesquisadora enfatiza que os impactos ambientais, derivados de atividades como a pesca industrial, prejudicam as interações ecológicas e afetam o equilíbrio dos oceanos: “Semelhante aos desmatamentos em massa das florestas terrestres, as esponjas acabam sendo retiradas e isso atrapalha a relação ecológica desempenhada por esses animais. E tal qual como ocorre nos biomas terrestres, essas grandes devastações geram um desequilíbrio em cadeia no funcionamento do ecossistema marinho”.
A pesquisa também enfatiza a importância das coleções biológicas de museus e universidades para estudos de biodiversidade e para a elaboração de planos de conservação, por exemplo. Para Oliveira, o estudo “reforça a importância de investigar o ambiente marinho a partir de coleções científicas, locais onde os componentes da biota são depositados. Elas funcionam como importantes fontes de dados para estudos de biodiversidade”.
(Fonte: Agência Bori)