O Instituto Tomie Ohtake prorrogou até 2 de junho ‘Roda dos Bichos’, exposição dedicada à produção de Maria Lira Marques. Tendo como curador Paulo Miyada e curadora assistente Sabrina Fontenele, a mostra reúne trabalhos de toda a carreira de Lira Marques, que nas últimas três décadas extrai o barro das encostas mineiras para produzir cerâmicas e pigmentos naturais para suas pinturas e esculturas. Com uma produção profundamente marcada pelo imaginário do semiárido mineiro, a artista se destaca por desenvolver uma linguagem singular, pintando em pedras ou sobre o papel, seres que habitam seu universo. A mostra conta com o patrocínio da Oliver Wyman, Dasa, Instituto SYN e Shopping Tietê Plaza, por meio da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo via Programa Municipal de Apoio a Projetos Culturais e do Ministério da Cultura, via Lei de Incentivo à Cultura.
A mostra no Instituto Tomie Ohtake, a primeira institucional de sua carreira, é dividida entre as três salas à esquerda do grande hall. Na primeira, redonda, estão as pinturas em seixos de rio e outros trabalhos em papel. A segunda traz diferentes grupos de obras e famílias de bichos, reunindo grande parte dos trabalhos apresentados na exposição, enquanto a terceira sala, além de apresentar obras do início da carreira de Maria Lira, é dedicada sobretudo a contextualizar o seu trabalho e sua ligação com o Vale do Jequitinhonha por meio de documentos, objetos, cantos e fotografias. Um curta-metragem produzido especialmente para a exposição, exibindo seus cantos, trajetória e obra, completa a exposição.
Natural de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, Maria Lira tem 78 anos, é ceramista, pintora e pesquisadora autodidata. O interesse pelo barro surgiu ainda na infância, observando a mãe criar presépios em barro cru para presentear vizinhos. Foi com a cera de abelha que o pai usava em sua sapataria que moldou seus primeiros objetos. Mais tarde, aprendeu o ofício com a vizinha Joana, ceramista que lhe ensinou a coleta correta do barro e sua queima em forno à lenha.
Com o auxílio de livros emprestados por familiares e vizinhos, passa a produzir bustos, que rapidamente são substituídos por obras que retratam a complexa realidade de sua região, historicamente marcada pela pobreza. Na década de 70, conhece Frei Chico, missionário holandês que vira seu grande amigo e parceiro profissional. Juntos, passam a documentar a memória cultural do Jequitinhonha gravando cantos e rezas tradicionais.
Acometida por uma tendinite, Maria Lira troca as esculturas pela pintura, usando o barro em diferentes tonalidades como pigmento para desenhar seus bichos. Segundo Paulo Miyada, “Os bichos do sertão de Lira vivem na paisagem imaginante que se forma na ressonância entre a artista e o território. Tomam assento na superfície arredondada de seixos de rio, delineiam-se entre manchas feitas de água, cola e pigmentos minerais. Reaparecem enquadrados em planos de tons de vermelho, ocre, branco e amarelo, sozinhos ou em grupo, muitas vezes junto a símbolos-runas que traduzem elementos mais-que-humanos. São bichos de terra, marcam-se na terra e estão sempre grávidos de movimento”.
Programa Público Gratuito
Dia 16/5, das 19h às 20h30
Conversa: Memória do Vale
Com Aline Carmona e Sirlene Giannotti
Mediação: Sabrina Fontenele
Mais informações e inscrições: https://www.institutotomieohtake.org.br/programas-publicos/conversa-memorias-do-vale/.
Exposição Maria Lira Marques – Roda dos Bichos
Curadoria: Paulo Miyada
Em cartaz até 2 de junho de 2024 – De terça a domingo, das 11h às 19h
Entrada franca.
(Fonte: Instituto Tomie Ohtake)