Exú Mulher, Dona Mulambo é a pombagira que tira seus filhos da sujeira e os conduz, à força, à coragem e ao renascimento. É entidade de reconstrução e amor. Para falar dessa fé preta e cabocla como instrumento para se manter de pé no país que mais mata pessoas trans no mundo, Flor de Mururé, artista trans e amazônida, abre caminhos e lança o single e o clipe ‘Dona Mulambo’. O projeto tem patrocínio da Natura Musical e do Governo do Estado do Pará via Lei Semear e Fundação Cultural do Pará, com produção executiva da Psica Produções.
‘Dona Mulambo’ foi escolhida para apresentar ao público o disco de estreia de Flor, batizado de CROA, que chega às plataformas digitais ainda este mês. Neste trabalho inédito, o artista traz suas vivências como homem trans e a relação de afeto e sobrevivência de corpos dissidentes por meio das religiões de matrizes africanas e originárias, que celebram orixás, voduns e encantados.
Com levada de Tambor de Mina e participações do Trio Manari na percussão, do suíço Thomas Rohrer na rabeca e produção musical de André Magalhães, ‘Dona Mulamba’ mostra a força da sonoridade popular e dos terreiros do Pará e do Maranhão, com as bênçãos de Mãe Rosa de Luyara de Oyá em áudio captado durante gira no Terreiro Rainha Bárbara Soeira e Tóy Azaká – Casa de Santo dedicada a pessoas LGBTQIA+ no subúrbio de Belém, capital do Pará.
“Imagina ser trans na Amazônia, periferia do país que mais assassina pessoas trans no mundo e que, ao mesmo tempo, é o que mais consome pornografia trans no planeta?”, provoca o artista, que deixou a própria casa ainda adolescente em busca de sobreviver às tensões familiares. Nesse contexto hostil, Flor se volta à arte e se aproxima da fé afro religiosa.
Na invenção genuína de seu lar e de pertencimento, Flor ganha irmãos e acolhida no terreiro de Tambor de Mina encabeçado por uma travesti, a Mãe Rosa de Luyara. “O nosso corpo é marginalizado em todos os lugares e ambientes. Essa é a verdade. A gente não tem espaço nem para o espiritual. Então, quando eu me deparo com a Mãe Rosinha, vejo nela um corpo trans, minha imagem e semelhança. Sinto que ali poderia seguir o meu caminho”, diz.
Lugar de resistência, o terreiro é frequentado por pessoas LGBTQIA+ que se tornaram fundamentais para erguer CROA. Do single ‘Dona Mulambo’, participam as artistas trans Anastácia Marshelly, Valesca Minaj e Mulambra. “A gente sofre muitas retaliações, é mal visto. Mas pode entrar na Casa a pessoa que for, que ninguém vira as costas, a gente ajuda. Imagina o mundo contra nós e a gente abraçando e perdoando. A nossa capacidade de perdão é muito grande para poder existir no mundo”.
De força e luz, o amor materno de Dona Mulambo é celebrado na composição de Flor de Mururé em parceria com João Feijão. “Fui tirado do lixo para ser melhor. Foi mamãe quem falou. Eu vou te alimentar, vou te fortificar. Você é minha mamãe, Saravá!”.
O clipe, com direção artística de Flor de Mururé e Cabron Studios, traz imagens das festas no terreiro, seus corpos trans em gira, imagens de bastidores da gravação da música, cenas dos artistas em visita a regiões ribeirinhas da Amazônia e trechos de shows realizados em Belém: uma compilação da potência e da trajetória de insistência e arte do músico paraense, de apenas 23 anos. “Eu não queria precisar lutar só por ser uma pessoa trans, não queria me provar o tempo todo. Não faço questão da fama, do sucesso. Pra mim, o que importa é nosso corpo-território vivo”, diz o artista.
CROA
A poesia política e religiosa marca as composições do cantor paraense. Em sua sonoridade, Flor de Mururé traz ritmos como coco, hip hop, guitarrada, pop, blues, carimbó e outros ritmos amazônicos.
Flor é formado em violão popular, com 10 anos de estudo musical no conservatório Carlos Gomes, além de estudos em canto coral, violino e flauta. Além disso, é pesquisador em ritmos ancestrais e diretor de trilha sonora, com dois longas, um curta e um documentário na bagagem.
Prestes a ser lançado, CROA é o primeiro álbum do multi-instrumentista. No Candomblé e na Umbanda, “croa” pode ser relacionado ao termo “coroa”, que é utilizado para descrever a coroa de um orixá ou entidade espiritual. Para Flor, o disco é uma forma de agradecer às entidades que regem sua cabeça, seu ori, que cuidam do seu espírito e corpo. As músicas falam sobre o caminho espiritual de Flor, seu caminho de cura a partir da experiência de um corpo trans que tem a espiritualidade como uma ferramenta de sobrevivência.
O trabalho, que tem registros em áudio de cerimônias religiosas do Pará e do Maranhão e participações ilustres como Tiganá Santana, Grupo Bongar, Trio Manari e um coro de vozes de artistas trans, traz 7 faixas com um olhar único para a cultura popular e religiosa da Amazônia.
CROA foi selecionado pelo edital Natura Musical por meio da lei estadual de incentivo à cultura do Pará (Semear), ao lado de nomes como Azuliteral, Daniel ADR, Elas no Comando, Festival Lambateria e Raidol. No Estado, a plataforma já ofereceu recursos para mais de 80 projetos até 2022, em diferentes formatos e estágios de carreira, como Dona Onete, Raidol, Nic Dias e os festivais Mana, Lambateria e Psica.
Sobre Natura Musical | Natura Musical é a plataforma cultural da marca Natura que há 18 anos valoriza a música como um veículo de bem estar e conexão. Desde seu lançamento, em 2005, o programa investiu mais de R$190 milhões no patrocínio de mais de 600 artistas e projetos em todo o Brasil, promovendo experiências musicais que projetam a pluralidade da nossa cultura. Em parcerias com festivais e com a Casa Natura Musical, fomenta encontros que transformam o mundo. Quer saber mais? Siga nas redes sociais: @naturamusical.
Ficha técnica
Dona Mulambo (Flor de Mururé e João Feijão)
Voz: Flor de Mururé
Percussão: Flor de Mururé, André Magalhães, João Feijão e Trio Manari
Rabeca: Thomas Rohrer
Violão e contrabaixo: João Feijão
Coro: Anastácia Marshelly, Valesca Minaj, Mulambra, Flor de Mururé e André Magalhães
Gravação de Rabeca no Estúdio Parede Meia (São Paulo – SP) por Rovilson Pascoal
Trecho de áudio Mãe Rosa de Luyara de Oyá captado no Terreiro Rainha Bárbara Soeira e Tóy Azaká (Belém – PA) por Flor de Mururé.
Serviço:
Flor de Mururé lança o single e clipe ‘Dona Mulambo’ nas redes e plataformas digitais.
(Fonte: Assessoria de Imprensa Flor de Mururé)