A vulnerabilidade que mulheres pretas experenciam ao longo da vida se reflete, também, na saúde materna. Um estudo mostra que esse grupo tem quase duas vezes mais risco de morrer durante o parto ou no período do puerpério que mulheres pardas e brancas. A constatação está em artigo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), publicado no dia 20 de junho na ‘Revista de Saúde Pública’.
A pesquisa procurou investigar a taxa de mortalidade materna segundo a cor da pele de 2017 a 2022, comparando as taxas de mulheres negras, pardas e brancas. Além do recorte racial, a análise considerou a região onde a morte ocorreu, a faixa etária e se a morte ocorreu no período antes ou durante a pandemia. Os dados foram coletados da base DataSUS, do Ministério da Saúde, e as categorias de raça seguiram a classificação do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A taxa de mortalidade materna mede as mortes ocorridas em decorrência da gravidez, durante o parto ou no pós-parto. De 2017 a 2022, esse índice foi de 67 mortes por 100 mil nascidos vivos. Entre as mulheres pretas, o índice chegou a 125,8 mortes por 100 mil nascidos vivos – muito superior ao de mulheres brancas e pardas, que contabilizaram 64 mortes a cada 100 mil nascidos vivos. Essa tendência também se manteve durante a pandemia.
“O achado mais surpreendente foi que as mulheres pretas têm maior risco de morte quando comparadas, também, às mulheres pardas”, destaca o pesquisador José Paulo Siqueira Guida, coautor do estudo, da Unicamp. “Isso mostra que, mesmo dentro de grupos vulneráveis, há mulheres expostas a mais vulnerabilidades”, analisa Fernanda Surita, da Unicamp, que também assina o estudo.
Em todas regiões geográficas do Brasil, a taxa de mortalidade foi maior entre mulheres pretas, atingindo 186 mortes por 100 mil por nascidos vivos no Norte. A maior diferença de mortes maternas entre mulheres negras e brancas foi no Sudeste – 115,5 mortes a cada 100 mil nascidos vivos, entre negras, contra 60,8 mortes a cada 100 mil nascidos vivos para brancas. Apenas na região Norte não houve diferença nas taxas de mortalidade de pretas e pardas.
Segundo os cientistas, o trabalho ajuda a entender a posição de vulnerabilidade de mulheres pretas, mais expostas a risco de morte durante e após o parto. Seu grupo de pesquisa, agora, tem explorado bases de dados nacionais de morte materna para entender as características de saúde de mulheres que morreram em decorrência desta situação. A ideia é levantar evidências científicas orientar intervenções e políticas públicas efetivas em prevenir essas mortes.
(Fonte: Agência Bori)