Um dos contos de fadas mais conhecidos do planeta será apresentado em formato de ópera no Theatro São Pedro. Com récitas nos dias 12, 13, 19 e 20 de outubro, Cinderela, de Pauline Viardot (1821–1910), traz a adaptação de uma história que atravessa culturas e segue como fonte de inspiração universal para todas as gerações.
Com uma hora e quinze minutos de duração e dividida em três atos, a ópera tem libreto da própria compositora e será realizada em português, com versão de André Dos Santos, orquestração de Juliana Ripke e um elenco de sete cantores. A montagem conta com a direção musical de Fabrícia Medeiros e concepção cênica de Julianna Santos, que destaca o caráter atemporal do clássico. “É um tipo de literatura que pode ser infinitamente atualizado e o mais interessante é essa mobilidade que os contos de fadas trazem. Por isso, eles ainda são tão próximos da gente, tão vivos. A Cinderela tem seus desejos e vontades e a gente talvez se identifique com os desejos mais íntimos da personagem. É muito interessante quando ela e o príncipe se identificam com os mesmos desejos, o mesmo senso de ter liberdade para ser o que você quer, agir como você quer agir, escolher o que você quer escolher. E o mais bonito é ver essa beleza que existe, essa beleza na simplicidade”, avalia Julianna Santos.
Representatividade e processo criativo
Além de apresentar um enredo que oferece encantamento, entretenimento e identificação emocional para as pessoas ao longo do tempo, a montagem promovida pela Santa Marcelina Cultura tem um compromisso com a representatividade, conectando fantasia e realidade em um espetáculo protagonizado por pessoas negras: na ópera, a soprano Marly Montoni será Cinderela e os tenores Jean William e Mar Oliveira viverão o Conde e o Príncipe, respectivamente. “É muito especial ter esse protagonismo; isso faz toda a diferença e gera uma representatividade incrível para crianças e jovens pretos. É claro que a história ainda bebe na cultura ocidental de ser, mas já é um bom começo. E quem sabe um dia estaremos a contar, em ópera, histórias de príncipes e rainhas africanos?”, ressalta Oliveira.
No papel de Cinderela, Marly Montoni salienta a preferência por construir a personagem através do domínio da música, no processo de preparação para uma ópera. “Sempre busco encontrar alguma similaridade com minha personalidade para que a personagem possa ser mais real possível. Sobra a montagem, sinto que há o compromisso com a representatividade, já que os personagens principais são afro-brasileiros. Será muito gratificante ver as meninas afrodescendentes podendo sonhar em ser princesas”, observa Montoni.
Adaptação de Pauline Viardot
A versão de Cinderela que vai ao palco do Theatro São Pedro foi composta pela francesa Pauline Viardot e estreou em Paris em 1904, permanecendo relativamente fiel ao conto de fadas de Charles Perrault, que inspirou a obra. Nascida em uma família em que tudo girava em torno da música, Pauline começou a compor ainda menina e teve aulas de canto com os pais, harmonia e contraponto com Anton Reicha; porém, seu principal interesse era o piano – inclusive foi aluna de Franz Liszt, que declarou, a respeito de Viardot, que “o mundo finalmente tinha encontrado uma mulher compositora de gênio”.
No entanto, após o falecimento da irmã – Maria Malibran (1808-1836), grande diva da ópera no século XIX – Pauline optou por mudar de rumo e se profissionalizou como cantora. Seus maiores sucessos foram em papéis dramáticos, como Fidès em Le prophète, de Meyerbeer (que foi escrito para ela), e Rachel em La Juive, de Halévy. Além disso, Viardot interpretou o papel-título da ópera Orfeu e Eurídice, de Gluck, e cantou por diversas temporadas na ópera de São Petersburgo, na Rússia.
Paralelamente à sua carreira musical, Pauline se casou com Louis Viardot e estabeleceu um círculo social que incluía importantes figuras culturais da época, como Frédéric Chopin, George Sand, Hector Berlioz, Clara Schumann, Ivan Turgenev e Johannes Brahms, entre outras personalidades artísticas que lhe dedicaram obras musicais e literárias.
Além de dezenas de canções, obras de câmara para violino e piano e arranjos vocais para peças instrumentais de Chopin, Brahms, Haydn e Schubert, Viardot compôs cinco óperas de salão – sendo Cinderela a última dessas operetas. Com danças e canções alegres, a obra está repleta de valsas, mazurcas e polcas. E como uma ópera cômica, mistura canto e diálogos falados, sem fugir das típicas rimas fáceis e irônicas, quase sempre destacadas ritmicamente.
Apresentação no Dia das Crianças
Dedicada ao público infantojuvenil, a montagem de Cinderela traz uma história de conto de fadas clássica que é amada por crianças e adultos. Além de envolver elementos de magia, romance e transformação, especialmente cativantes ao público jovem, a ópera será apresentada em português, tornando o espetáculo ainda mais acessível para estimular a imaginação das crianças e promover a apreciação das artes cênicas e da ópera. Inclusive para celebrar o Dia das Crianças, a récita de estreia será apresentada em 12 de outubro, em uma experiência cultural marcante e enriquecedora para toda as famílias.
Cinderela, no Theatro São Pedro, inclui Giorgia Massetani na cenografia; Fábio Retti na iluminação; Fábio Namatame no figurino e Tiça Camargo no visagismo. Integram o elenco Johnny França (Barão de Pictordu), Fernanda Nagashima (Amelinde), Daiane Scales (Maguelone) e Maria Sole Gallevi (Fada)
BILHETERIA
Os ingressos custam de R$40 (meia-entrada) a R$120 (inteira) e podem ser adquiridos aqui
Transmissão ao vivo
A récita de 19 de outubro, sábado, às 17h, será transmitida ao vivo gratuitamente pelo canal de YouTube do Theatro São Pedro
TEMPORADA LÍRICA | ORQUESTRA DO THEATRO SÃO PEDRO
CINDERELA
PAULINE VIARDOT (1821–1910)
[ópera em três atos, com libreto original da compositora, versão brasileira de André Dos Santos e orquestração de Juliana Ripke]
ORQUESTRA DO THEATRO SÃO PEDRO
Fabrícia Medeiros, direção musical
Julianna Santos, direção cênica
Giorgia Massetani, cenografia
Fábio Retti, iluminação
Fábio Namatame, figurino
Tiça Camargo, visagismo
Fábio Bezuti, preparador vocal e dicção
ELENCO
Marly Montoni, soprano (Cinderela)
Mar Oliveira, tenor (O Príncipe)
Jean William, tenor (O Conde)
Johnny França, barítono (Barão de Pictordu)
Fernanda Nagashima, mezzo-soprano (Amelinde)
Tati Reis, soprano (Maguelone)
Maria Sole Gallevi, soprano (A Fada)
Ensaio geral aberto: 9 de outubro, quarta-feira, 19h, Theatro São Pedro
Récitas: 12, 13, 19 e 20 de outubro | sábados, às 11h; domingos, às 17h
Local: Theatro São Pedro (R. Barra Funda, 171 – São Paulo/SP)
Plateia: R$120/R$60 (meia)
1º Balcão: R$100/R$50 (meia)
2º Balcão: R$80/R$40 (meia)
Duração: 75 minutos (sem intervalo)
Classificação etária: Livre
THEATRO SÃO PEDRO
Com mais de 100 anos, o Theatro São Pedro, instituição do Governo do Estado de São Paulo e da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, gerido pela Santa Marcelina Cultura, tem uma das histórias mais ricas e surpreendentes da música nacional. Inaugurado em uma época de florescimento cultural, o teatro se insere tanto na tradição dos teatros de ópera criados na virada do século XIX para o XX quanto na proliferação de casas de espetáculo por bairros de São Paulo. Ele é o único remanescente dessa época em que a cultura estava espalhada pelas ruas da cidade, promovendo concertos, galas, vesperais, óperas e operetas. Nesses mais de 100 anos, o Theatro São Pedro passou por diversas fases e reinvenções. Já foi cinema, teatro, e, sem corpos estáveis, recebia companhias itinerantes que montavam óperas e operetas. Entre idas e vindas, o teatro foi palco de resistência política e cultural, e recebeu grandes nomes da nossa música, como Eleazar de Carvalho, Isaac Karabtchevsky, Caio Pagano e Gilberto Tinetti, além de ter abrigado concertos da Osesp. Após passar por uma restauração, foi reaberto em 1998 com a montagem de La Cenerentola, de Gioacchino Rossini. Gradativamente, a ópera passou a ocupar lugar de destaque na programação do São Pedro, e em 2010, com a criação da Orquestra do Theatro São Pedro, essa vocação foi reafirmada. Ao longo dos anos, suas temporadas líricas apostaram na diversidade, com títulos conhecidos do repertório tradicional, obras pouco executadas, além de óperas de compositores brasileiros, tornando o Theatro São Pedro uma referência na cena lírica do país. Agora o Theatro São Pedro inicia uma nova fase, respeitando sua própria história e atento aos novos desafios da arte, da cultura e da sociedade.
(Fonte: Julian Schumacher/Santa Marcelina Cultura)