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Galerias Luisa Strina e Galatea anunciam colaboração inédita com exposições simultâneas de Cildo Meireles

São Paulo, por Kleber Patricio

Cildo Meireles (Luisa Strina) Tenda de Chão [Ground Tent], da série [from the series] Camuflagem, 1987 – 2023.

Após um hiato de cinco anos sem uma exposição robusta de Cildo Meireles no Brasil, as galerias Luisa Strina e Galatea unem forças para inaugurar, de maneira coordenada, duas mostras individuais do artista em São Paulo. A partir do dia 3 de outubro, a Luisa Strina, galeria que representa o artista, apresenta ‘Uma e algumas cadeiras/Camuflagens’, com obras inéditas de Cildo no país, enquanto a Galatea exibe uma seleção de desenhos em ‘Cildo Meireles: desenhos, 1964-1977’. Juntas, as mostras oferecem uma visão ampla e complementar do trabalho de Cildo Meireles, para quem o desenho muitas vezes é a gênese da sua prática no campo tridimensional. Esta primeira colaboração entre as galerias vizinhas — localizadas frente a frente na Rua Padre João Manuel — sela uma parceria que fortalece o cenário artístico local.
Luisa Strina reúne trabalhos de Cildo Meireles originalmente idealizados nas décadas de 1980-90. Cildo Meireles realizou sua primeira exposição na galeria Luisa Strina em 1981, onde apresentou sua última individual de obras inéditas, Pling Pling, em 2014.  A nova mostra acontece dez anos depois, no ano de celebração do aniversário de 50 anos da galeria.

Exibida pela primeira vez na Galeria Lelong, em Nova York, em 2023-4, a instalação Uma e Sete Cadeiras (1997-2023) faz referência à obra One and Three Chairs (1965), do artista Joseph Kosuth, considerada uma das obras seminais da arte conceitual. A instalação começa com a estrutura de uma cadeira simples de madeira; esse objeto é replicado e modificado em outras seis variações de uma cadeira construídas com materiais diversos: vidro, serragem e cinza, entre outros. Uma sétima variação, posicionada ao lado do conjunto central, consiste de uma torre de lâminas de acrílico em cujo interior distinguimos a forma imaterial de uma cadeira, destacando a ideia de vazio.

Cildo Meireles 1948, Sem título, da série Brasília [Untitled, from the series Brasília], 1977.

O vazio é um elemento constantemente abordado pelo artista em sua prática, como acontece na obra Esfera Invisível (1996) e na instalação Desaparecimentos (1982). Segundo Meireles, “me interessa essa coisa evanescente, ou seja, uma espécie de dissolução do objeto. Existe o desejo de jogar com a visão, uma espécie de invisibilidade da invisibilidade. São trabalhos que possuem uma autonomia quase de objeto semântico. É como a Esfera Invisível, que trata de uma existência constituída de inexistências”.

Em diálogo com a instalação, Cildo apresenta duas pinturas da série Épuras, conceito derivado da geometria descritiva para designar a representação planificada de objetos tridimensionais. Nessas obras, o artista combina representações do objeto cadeira em diferentes perspectivas, sendo uma delas um políptico de quatro partes, e a outra um tríptico que replica a estrutura tridimensional das reconhecidas obras de sua série Cantos.

Na sala 2 da galeria, o grupo de obras apresentadas em Camuflagem também lida com questões relativas ao objeto e à representação. Nesses trabalhos, a pintura é feita diretamente sobre objetos como guarda-sóis, cadeiras de praia e tendas. Algumas dessas pinturas-objeto são dedicadas a importantes artistas da história: uma cadeira de praia listrada homenageia Jasper Johns; o guarda-chuva monocromático negro, Malevich; e o banquinho de pescador, Volpi.

Sobre a série de pinturas inéditas que será exibida na mostra, o artista comenta: Camuflagem é um projeto anterior à instalação Uma e Sete Cadeiras e está sendo realizado trinta e seis anos depois. São basicamente pinturas sobre chassis diversos, que remetem a uma funcionalidade. Pintura camuflada em bancos, cadeiras, guarda-chuvas, objetos comuns de uso diário. Sempre utilizando um objeto que seja constituído de um tecido e uma estrutura.”

A cadeira reaparece na série Camuflagem, dessa vez acompanhada por um banco, um guarda-sol, um guarda-chuva, uma maca e tendas. “Essa parte da exposição, que chamo de Camuflagem, teria outro nome: Pintura de Chão. Pois todas as obras estão pousadas nele.”

Cildo Meireles 1948, Sem título [Untitled], 1973, Assinado no verso [Signed on the reverse]. Ficha Técnica: Guache sobre cartão [Gouache on card], 48 x 64 cm [18 7/8 x 25 1/4 in],(CM-0140). Crédito: Ding Musa.

A Galatea traz uma seleção de desenhos produzidos desde 1964, quando o artista tinha apenas 17 anos, até 1977. A mostra coloca em destaque o Meireles desenhista, faceta menos explorada em comparação a outras vertentes do seu trabalho. Por outro lado, é essa a sua prática mais constante e longeva. Em entrevista ao curador Hans Ulrich Obrist no número que lhe é inteiramente dedicado da revista francesa Cahiers d’Art, o artista afirma: “Parei de desenhar por cinco anos, de julho de 1968 a junho de 1973. Quando voltei, me senti um idiota por ter parado, porque os desenhos são como pontes entre o pensamento e o papel.”

A seleção realizada pela galeria reúne obras tanto dotadas de aspectos figurativos quanto de experimentações abstratas com campos de cor, formas orgânicas, rabiscos e círculos criados a partir das digitais do próprio artista. No âmbito da figuração, as cenas de interiores domésticos e suas linhas, seus mobiliários e personagens evocam temas recorrentes na produção de Meireles, como o espaço, a escala e o objeto; o projeto e a arquitetura; e a crítica à ditadura militar. O diálogo com importantes obras tridimensionais, como as da série Cantos (1967-1968/2008), também é evidente em vários desses desenhos.

O texto crítico de ambas as exposições é assinado pelo curador Diego Matos, um dos editores convidados para o número da Cahiers d’Art dedicado a Cildo Meireles, publicado em 2022; além de co-curador da mostra Entrevendo, individual de Meireles realizada em 2019 no Sesc Pompeia.

Sobre as exposições apresentadas pela Luisa Strina e a Galatea, Matos comenta: “A exposição ‘Uma e algumas cadeiras/Camuflagem’ traz um conjunto de trabalhos inéditos no Brasil que sublinham um dos caminhos bifurcados da já incontornável trajetória de Cildo Meireles: a subversão dos objetos mais ordinários de nossa vida cotidiana, submetendo-os à reestruturação de seus signos, tanto em termos linguísticos como do próprio uso. Ao mesmo tempo, o artista também atualiza uma das primeiras discussões adquiridas pelo debate contemporâneo da arte: o conceito, a ideia e a materialidade do readymade. Ao mesmo tempo, trazer ao público uma seleção generosa de desenhos de Cildo Meireles é tornar visível e acessível a prática mais onipresente na trajetória de mais de 60 anos do artista. Prática, aliás, indissociável de sua produção objetual e instalativa. Feitos em um quarto de hotel, na calada da noite; na calmaria caseira da manhã; ou em ateliê, num momento intervalar de trabalho — seus desenhos nos contam muito de um repertório poético e conceitual que ele encadeou desde o início da sua produção.”

Sobre o artista

Cildo Meireles Épura – Cadeira 2 [Épura – Chair 2], 2023.

Cildo Meireles tem um papel crucial na esfera da arte conceitual do país. Sua prática multifacetada explora as possibilidades da participação do público, destacando-se por elaborar as primeiras experimentações instalativas no campo da arte brasileira.

Em 1963, estudou com o artista peruano Félix Barrenechea em Brasília e morou em Nova Iorque entre os anos 1971 e 1973. É representado pela Luisa Strina desde 1981, onde vem realizando exposições individuais que marcam importantes inflexões de sua prática artística.

Sua obra foi exposta no mundo todo, incluindo as Bienais de Veneza, São Paulo, Istambul, Lyon, Festival Internacional de Arte de Lofoten, Documenta, em Kassel, Alemanha. Em 2023, Meireles foi contemplado com o Prêmio Roswitha Haftmann, o mais conceituado da Europa, sendo o primeiro latino-americano a recebê-lo em 22 anos. Dentre os demais prêmios nacionais e internacionais com os quais foi contemplado ao longo de sua carreira, estão Prêmio Faz Diferença, O Globo (2019); Prêmio ABCA (2015); Velázquez Prize for Visual Arts, Madrid, Espanha (2008); Prêmio APCA (2007); Honorary Doctorate of Fine Arts, San Francisco, EUA (2005) e Officier de L’Ordre des Arts et des Lettres, Paris, França (2005), entre outros.

Realizou exposições individuais em importantes instituições nacionais e internacionais. Dentre as coleções públicas que possuem seu trabalho, estão Museum of Modern Art – MoMA, Nova York, EUA; Tate, Londres, Reino Unido; Stedelijk Museum voor Actuele Kunst, Gent, Bélgica; Instituto Inhotim, Brumadinho, MG; MAC – Niterói; 21st Century Museum of Contemporary Art, Kanazawa, Japão; Fundação Serralves, Porto, Portugal; MACBA, Barcelona, Espanha; Centre Georges Pompidou, Paris, França; Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madrid, Espanha; Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto, Portugal; Museum für Moderne Kunst, Frankfurt, Alemanha; Los Angeles County Museum of Art – LACMA, EUA; Art Institute of Chicago, Chicago, EUA; New Museum, Nova York, EUA; MASP, São Paulo; MAM-SP, São Paulo; MAM-Rio, Rio de Janeiro; Pinacoteca de São Paulo.

Sobre a Luisa Strina

Fundada em 1974, a Luisa Strina, que comemora 50 anos de sua fundação no próximo 17 de dezembro, ajudou a promover as carreiras de uma geração de novos artistas conceituais do Brasil, incluindo Antonio Dias, Cildo Meireles, Tunga e Waltercio Caldas. Em 1992, a galeria foi a primeira da América Latina a participar da feira Art Basel.Luisa Strina começou a trabalhar com artistas brasileiros emergentes, como Alexandre da Cunha, Fernanda Gomes e Marepe. Ao longo dos anos 2000, o grupo foi ampliado para incorporar nomes latino-americanos — Jorge Macchi, Juan Araujo e Pedro Reyes — e artistas mulheres já estabelecidas, como Laura Lima, Leonor Antunes e Renata Lucas. Na última década, a consolidou a sua trajetória com a representação de nomes influentes incluindo Alfredo Jaar e Anna Maria Maiolino, assim como artistas mais jovens, como Bruno Baptistelli e Panmela Castro.

Sobre a Galatea

Sob o comando dos sócios Antonia Bergamin, Conrado Mesquita e Tomás Toledo, a Galatea conta com dois espaços vizinhos na cidade de São Paulo: a unidade localizada na Rua Oscar Freire, 379 e a nova unidade localizada na Rua Padre João Manoel, 808. A galeria também tem uma sede em Salvador, na Rua Chile, 22, no centro histórico da capital baiana.

A Galatea surge a partir das diferentes e complementares trajetórias e vivências de seus sócios-fundadores: Antonia Bergamin, que foi sócia-diretora de uma galeria de grande porte em São Paulo; Conrado Mesquita, marchand e colecionador especializado em descobrir grandes obras em lugares improváveis; e Tomás Toledo, curador que contribuiu para a histórica renovação institucional do MASP, saindo em 2022 como curador-chefe.

Com foco na arte brasileira moderna e contemporânea, trabalha e comercializa tanto nomes consagrados do cenário artístico nacional quanto novos talentos da arte contemporânea, além de promover o resgate de artistas históricos. Idealizada com o propósito de valorizar as relações que dão vida à arte, a galeria surge no mercado para reinventar e aprofundar as conexões entre artistas, galeristas e colecionadores.

Serviço:
Cildo Meireles: uma e algumas cadeiras/Camuflagens
Local: Galeria Luisa Strina

Abertura:  3 de outubro, quinta, das 19h às 21h

Endereço: Rua Padre João Manuel, 755 – Cerqueira César, São Paulo – SP

Período expositivo: 3 de outubro a 30 de novembro

Horários: segunda-feira à sexta-feira, das 10h às 19h, e sábado, das 10h às 17h
Mais informações: www.luisastrina.com.br

Instagram: @galerialuisastrina 

Cildo Meireles: desenhos, 1964-1977

Local: Galatea

Endereço: Rua Padre João Manuel, 808 – Jardins, São Paulo – SP

Abertura: 3 de outubro | 18h às 21h

Período expositivo: 3 de outubro a 1 de novembro

Horários: segunda à quinta das 10h às 19h | Sexta das 10h às 18h | Sábado das 11h às 17h

Mais informações: https://www.galatea.art/
Instagram: @galatea.art_.

(Fonte: Com Edgard França/A4&Holofote Comunicação)