No dia 1º de outubro é comemorado o Dia do Idoso e dentro desse grupo, que já enfrenta algumas dificuldades por conta do estigma associado ao envelhecimento, ainda existe uma parcela dessas pessoas que também enfrentam a dupla marginalização devido ao preconceito por sua orientação sexual ou identidade de gênero. “A população LGBTQIA+ mais velha tem um histórico de resistência e luta por direitos. Muitas dessas pessoas foram pioneiras em movimentos sociais e ativismos, enfrentando a opressão e contribuindo para a conquista de direitos que temos hoje. No entanto, ao envelhecerem, muitas se encontram em ambientes que não reconhecem suas identidades ou necessidades específicas, resultando na falta de apoio adequado”, explica Amara Moira, coordenadora de Educação, Exposições e Programação Cultural do Museu da Diversidade Sexual.
Ainda existe um estranhamento da sociedade com pessoas LGBTQIA+ idosas. Um exemplo marcante ocorreu em 2015, quando a TV Globo exibiu a novela ‘Babilônia’, que apresentava um casal de senhoras lésbicas octogenárias, interpretadas por Nathalia Timberg e Fernanda Montenegro. Após a exibição de um beijo entre as personagens no terceiro capítulo, a audiência registrou uma queda significativa. Matérias da época relataram que a emissora decidiu cortar cenas de beijo após fazer pesquisas junto a telespectadores, que revelaram que, embora aprovassem as personagens, preferiam não ver cenas de beijo entre elas.
Nesse contexto social, espaços como o Museu da Diversidade Sexual são importantes para o acolhimento e também preservação da memória da cultura LGBTQIA+. A exposição ‘Pajubá: a hora e vez do close’ traz o documentário ‘LGBT+60: corpos que resistem’, obra audiovisual que documenta as vivências e experiências da população LGBTQIA+ na terceira idade. Além de exposições, o museu tem ações especiais como a Terapia Comunitária Integrativa, encontros organizados para que pessoas diversas possam ter um espaço de acolhimento e escuta ativa. Assim, os participantes podem transformar um grupo impessoal em uma comunidade solidária que legitima sua história e reconhece os valores de sua cultura. O encontro é aberto para todas as idades e, em outubro está marcado para o dia 19 às 14h.
O medo de não envelhecer ou de envelhecer sozinho
A preocupação da população LGBTQIA+ com a velhice começa muito cedo, pois existe um receio de sequer conseguir alcançá-la. A expectativa de vida de alguns membros da comunidade não é nada animadora. Em 2023, o Brasil foi eleito pelo 14° ano consecutivo como o país com mais homicídios de pessoas transexuais, de acordo com o relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). A associação também estima que a expectativa de vida de uma pessoa trans é de apenas 35 anos.
Como parte da comunidade ainda enfrenta a resistência de aceitação e respeito da família, existe também o medo de envelhecer sozinho carecendo de cuidados. Outros receios como discriminação em serviços de saúde, falta de reconhecimento da identidade de gênero ou da orientação sexual, precariedade financeira e desconexão da comunidade LGBTQIA+ também existem. “Embora a velhice possa trazer algumas limitações, é importante fazer um esforço para frequentar espaços que ainda nos representam, conectar-se com nossos semelhantes e cultivar um sentimento de pertencimento. O Museu da Diversidade tem como objetivo não apenas preservar a história da comunidade LGBTQIA+, mas também criar conexões genuínas e servir como uma rede de apoio para todas as gerações, valorizando, também, a diversidade entre os mais velhos. Pois sem eles, talvez nem estivéssemos onde estamos”, conclui Amara.
Sobre o Museu da Diversidade Sexual | O Museu da Diversidade Sexual de São Paulo é uma instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas destinada à memória, arte, cultura, acolhimento, valorização da vida, agenciamento e desenvolvimento de pesquisas envolvendo a comunidade LGBTQIA+ contemplando a diversidade de siglas que constroem hoje o MDS e seu reconhecimento pela sociedade brasileira. Trata-se de um museu que nasce e vive a partir do diálogo com movimentos sociais LGBTQIA+, se propõe a discutir a diversidade sexual e de gênero e tem, em sua trajetória, a luta pela dignidade humana e promoção por direitos, atuando como um aparelho cultural para fins de transformação social.
(Fonte: Com Mariana Mimoso/Pine PR)