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Tapeçarias de Concessa Colaço ganham destaque em mostra na Arte132 Galeria

São Paulo, por Kleber Patricio

Concessa Colaço, Eterno Paraíso, s.d., tapeçaria bordada, 123 x 239 cm. Fotos: Everton Ballardin.

Ao desistir da carreira musical, a artista Concessa Colaço (1929–2005), que nasceu em Portugal e naturalizou-se brasileira, emergiu na arte têxtil influenciada por sua mãe, Madeleine Colaço. Agora, quase 20 anos após seu falecimento, a tapeceira-musicista é homenageada com a mostra ‘Concessa Colaço: concertos bordados’, na Arte132 Galeria, a partir de 23 de novembro, evidenciando sua trajetória na tapeçaria.

Com curadoria de Denise Mattar, a mostra reúne um conjunto de 14 peças. Cada tapete levava, em média, seis meses para ser confeccionado. Concessa empregava lãs e sedas naturais em seus tapetes, confeccionados com cerca de 140 mil pontos em cada metro quadrado. Além de usar o ponto arraiolo e o brasileiro — criado pela própria mãe — ela usava ainda uma variante do ponto corrido inspirado nas tapeçarias medievais.

Para obter as inúmeras tonalidades de uma mesma cor, que conferem profundidade à tecitura criando um efeito gradual, a artista usava lãs coloridas que ganhavam outros tingimentos por cima, resultando em tons únicos. No auge de sua produção, a artista chegou a trabalhar com dez artesãs.

Concessa Colaço, O enigma das cores, s.d., tapeçaria bordada, 146 x 285 cm.

Descendente de artistas que produziam poesia, literatura e artes plásticas em Portugal, Concessa deu continuidade à tradição familiar, dedicando-se às letras e às lãs. Desde cedo ela havia revelado talento para a música e era uma excelente pianista. O falecimento de seu pai e de seu marido, sequencialmente, fizeram Concessa interromper sua carreira musical, optando por se dedicar à tapeçaria.

Iniciou na produção têxtil por volta de 1968 e, muito rapidamente, conseguiu abrir espaço para seu trabalho, especialmente na sociedade carioca. Em um acordo com a mãe, Concessa criou um ateliê próprio, absorvendo parte das artesãs e alternando períodos entre Maricá e o Rio de Janeiro.

“Nenhum trabalho de Concessa é datado e as fontes para pesquisa de seu trabalho são muito restritas, mas é possível perceber, nas 14 tapeçarias apresentadas na exposição, o desenvolvimento de algumas vertentes temáticas e estilísticas. Rita Cáurio, no livro ‘Artêxtil’, referência essencial para a tapeçaria brasileira, define o trabalho de Concessa como ‘um autêntico neobarroco têxtil’. De fato, existe uma faceta de sua obra na qual a artista parece retomar suas raízes portuguesas”, explica a curadora Denise Mattar.

Tapeçarias de Concessa

Curvas e espirais evocam os padrões tradicionais do arraiolo, com o uso da barra decorativa, a centralidade dos elementos e a simetria espelhada. Outra vertente de sua produção, mais narrativa, detém-se sobre a fé e a simplicidade do povo brasileiro. Nessas obras, ela retrata igrejas e casarios, anjos, flores e fitas, representados delicadamente e de forma quase ingênua, numa atmosfera tropical. A própria confecção desses tapetes é particular, com maior utilização do ponto corrido e o recurso do delineamento das figuras em tom escuro, que não aparece em outros trabalhos.

Concessa Colaço, Momentos de infinito, s.d., tapeçaria bordada, 128 x 276 cm.

Na sua produção mais constante e consistente, Concessa se libera de padrões, propondo mundos encantados. Seus pássaros, flores, frutas e folhagens entrelaçadas, não têm compromisso algum com a realidade ou a brasilidade — são míticos e mágicos. A beleza das formas, o alto nível artesanal, a execução primorosa dos acabamentos, a multiplicidade e densidade das cores e uma temática permeada por um saudosismo romântico são marcas da artista. Nessas peças, ela trouxe, da sua vivência musical, a sonoridade de poéticos títulos, como ‘Poema de um dia azul’; ‘Ao cantar a poesia’; ‘Eterno paraíso’; ‘Poema de cores’; ‘Momentos de infinito’; e ‘Quando o passado é presente’.

A década de 1990, entretanto, marcaria o encerramento do período dourado para as artes têxteis, tanto no Brasil quanto no exterior. A proposta da síntese das artes caiu em desuso e a tapeçaria perdeu espaço. Concessa, assim como muitos outros tapeceiros, não resistiu a esse momento e parou sua produção com as bordadeiras. Deixou o apartamento no Rio e se mudou para cidade de Maricá, onde residiu até seu falecimento, em 2005.

A Arte132 Galeria recebe a exposição ‘Concessa Colaço: concertos bordados’ como o último projeto antes de seu fechamento.

Sobre a Arte132 Galeria

Fundada em 2021, por Telmo Porto, o propósito da Arte132 é expor e manter em acervo artistas brasileiros reconhecidos. Nascido em 1955, no Rio de Janeiro, Telmo viveu boa parte da vida na cidade de São Paulo. Formou-se engenheiro civil ferroviário, professor e doutor pela Escola Politécnica da USP, onde lecionou por mais de 30 anos. Exerceu a profissão de forma notável, tanto no âmbito público quanto privado, até o final de sua vida. Paralelamente à engenharia, foi amante e profundo conhecedor das artes, integrando conselhos de grandes instituições culturais, fomentando e participando ativamente da vida cultural de São Paulo.

Durante 30 anos, atuou como Patrono do Museu de Arte Moderna de São Paulo [MAM-SP]. Nessa mesma instituição, exerceu o cargo de diretor administrativo, entre 2019 e 2022, ajudando a consolidar uma nova fase do MAM-SP. Membro do Conselho Deliberativo do Museu de Arte de São Paulo [MASP], no período entre 2014 e 2022, participou ativamente das atividades do museu como integrante do Comitê Cultural e do Comitê de Infraestrutura. Foi também diretor no Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia [MuBE], nos anos 2000. Ao longo de sua vida, Telmo realizou incontáveis doações de obras de arte para esses importantes museus e, principalmente, à Pinacoteca do Estado de São Paulo.

A Arte132 Galeria é fruto [e legado] dessa grande trajetória. Telmo apoiava diretamente artistas e músicos em suas produções e entendia que a arte de um país e de um período não é constituída apenas por alguns nomes definidos pelo mercado, mas por todos os artistas que desenvolveram um entendimento do mundo e do homem em determinado momento. Dessa forma, ele possuía particular interesse na produção menos conhecida dos mais reconhecidos, além da produção dos pouco consagrados pela História da Arte Brasileira, mas que demandam [e merecem] uma revisão.

Sua intenção inicial sempre foi privilegiar, mas sem exclusividade, as realizações mais autorais dos artistas, menos sujeitas às limitações materiais de execução ou de sobrevivência econômica dos autores. Nas suas palavras, “pretendemos reincluir nomes no cenário das galerias e instituições, sempre com orientação curatorial e escolhas motivadas.”

Até o momento, a casa serviu como um ponto de conexão entre vários tempos e as muitas manifestações artísticas. Das artes visuais à música, a Arte132 é um lugar de encontros, diálogos e descobertas onde todos são bem-vindos.

Serviço:

Concessa Colaço: concertos bordados

Local: Arte132 Galeria — Av. Juriti, 132 – Moema, São Paulo, SP
Abertura: 23 de novembro, das 11h às 17h
Período expositivo: 23 de novembro a 14 de dezembro de 2024
Horários de visitação: segunda a sexta, das 14h às 19h; sábados, das 11h às 17h
Entrada gratuita

https://arte132.com.br
https://www.instagram.com/arte132galeria/.

(Com Julio Sitto/A4&Holofote comunicação)