As tragédias ambientais no Brasil têm se mostrado cada vez mais devastadoras, afetando milhões de pessoas e deixando um rastro de destruição. Nos últimos dez anos, desastres naturais atingiram 93% dos municípios do país, forçando mais de 4,2 milhões de brasileiros a abandonarem suas casas. De acordo com dados da Confederação Nacional de Municípios, esses números refletem a gravidade da situação que o país enfrenta diante de fenômenos climáticos extremos. Somente neste ano, o governo federal mapeou 1.942 cidades com risco de desastres como deslizamentos, alagamentos e inundações, afetando diretamente mais de 8,9 milhões de pessoas. Esses eventos não apenas geram perdas humanas e econômicas significativas, mas também expõem desigualdades profundas. Mulheres, em especial, enfrentam desafios desproporcionais durante e após esses eventos, que vão desde dificuldades para encontrar abrigo até um aumento de riscos relacionados à violência doméstica e sexual.
É o que destaca a advogada Ana Clara Fonseca Guilherme, que tem se dedicado ao apoio de mulheres em situação de vulnerabilidade social. “Durante desastres, as mulheres, especialmente aquelas responsáveis por crianças e idosos, enfrentam maiores dificuldades para encontrar abrigo seguro e lidar com a escassez de recursos essenciais. A vulnerabilidade social e econômica agrava o processo de recuperação, tornando-o ainda mais lento e complexo”, explica.
O trabalho de Ana Clara, que começou durante a faculdade, ganhou relevância após a tragédia de Brumadinho, em 2019. O rompimento de uma barragem resultou na morte de mais de 270 pessoas e teve um impacto ambiental de grandes proporções. Na ocasião, ela colaborou na criação de uma rede de apoio às mulheres afetadas, ajudando-as a lidar com o trauma e as dificuldades pós-desastre.
Mulheres merecem atenção redobrada em desastres naturais
Ana Clara Fonseca chama a atenção para os riscos adicionais que as mulheres enfrentam em situações de calamidade, como o aumento da violência doméstica e sexual em contextos de deslocamento forçado e colapso social. Para ela, a criação de políticas públicas que priorizem a proteção e o suporte às mulheres é uma urgência. “Além disso, em momentos de calamidade, as mulheres precisam de mais do que ajuda imediata. Elas precisam de oportunidades para se reconstruir. Por isso, nossa ação inclui cursos de capacitação e mentorias que as preparem para novos desafios e as empoderem tanto no mercado de trabalho quanto na vida pessoal”, afirma Ana Clara.
Durante Brumadinho, as atividades desenvolvidas por Ana e seu parceiros não apenas ajudaram a aliviar o sofrimento imediato, mas também criaram um espaço de apoio contínuo, no qual as mulheres puderam encontrar novas perspectivas e esperança. “Desenvolvemos o projeto Renova Mulher, que culminou da criação de diretrizes e orientações (relacionadas em uma cartilha) para lidar com situações de crise, apoiando a promoção de segurança, saúde mental e suporte emocional, com foco em fortalecer as mulheres diante dos desafios e ajudá-las a reconstruir suas vidas”, sublinha.
Segundo Ana, o projeto continua suas ações por meio da difusão e da capacitação de agentes que possam dar assistência nas áreas mais afetadas do Brasil. Há um curso elaborado para orientação e, além disso, suporte contínuo é oferecido para esclarecer dúvidas sobre entrevistas, elaboração de currículos e estratégias de carreira. “O importante é saber que o trabalho não termina com a resposta emergencial. Ele continua com o compromisso de promover inclusão e empoderamento, garantindo que essas mulheres tenham as ferramentas necessárias para reconstruir suas vidas e superar as adversidades”, conclui.
(Fonte: Engenharia de Comunicação)