A obra mescla fatos históricos a uma narrativa ficcional para reconstruir a jornada de uma família que, fugindo das perseguições nazistas, deixou a Alemanha rumo à China. Após enfrentar os desafios da ocupação japonesa em Xangai, em 1941, a família migrou para o Brasil, onde recomeçou sua vida. O Vazio na Mala será apresentado em temporada popular nos teatros do SESI de Campinas, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, São José dos Campos, Sorocaba e Itapetininga, de 17 de janeiro a 22 de junho de 2025 (ver roteiro das cidades no final do texto). A turnê começa por Campinas no dia 17 de janeiro, com sessões até 26 de janeiro, em duas semanas de temporada, no Centro Cultural SESI Campinas, na Av. das Amoreiras, 450 – Pq. Itália. Dias 17, 18, 19 de janeiro | Sexta-feira e sábado às 20h, e domingo às 19h. 24, 25 e 26 de janeiro | Sexta-feira e sábado às 20h, e domingo às 19h.
Inspirada e provocada pelas marcas deixadas pela perseguição nazista, a dramaturgia inédita de O Vazio na Mala constrói uma ficção atual que desdobra temas universais e atemporais. A peça aborda como o silêncio permeia as relações familiares e sociais, ao mesmo tempo em que explora o poder do afeto na regeneração de feridas, muitas vezes de forma inesperada. No espetáculo, o silêncio é elevado à condição de personagem principal, guardado e vigiado dentro de uma antiga mala. Este objeto, aparentemente banal, carrega os horrores de um passado que insiste em permanecer oculto. É na busca pelo vazio que habita essa mala que a história ganha vida e revela seus segredos.
O Vazio na Mala estreou em março de 2024 em São Paulo por meio do Edital SESI Artes Cênicas – Teatro do SESI-SP Inéditos, com grande êxito. Em sua temporada de estreia, alcançou um público de 22 mil pessoas. Venceu o Prêmio Bibi Ferreira 2024 nas categorias Melhor Dramaturgia Original, Melhor Atriz (Noemi Marinho) e Melhor Peça de Teatro. No mesmo ano, recebeu o Prêmio CENYM nas categorias Melhor Qualidade Artística e Melhor Cenário, além de indicações, com resultado para 2025, para o Prêmio Shell (Melhor Atriz – Noemi Marinho) e para o Prêmio APCA (Dramaturgia – Nanna de Castro e Melhor Atriz – Noemi Marinho). Concepção e idealização de Dinah Feldman, texto de Nanna de Castro e direção de Kiko Marques. No elenco, Noemi Marinho, Fabio Herford, Marcelo Varzea e Dinah Feldman. Compõem também a equipe Gregory Slivar (trilha sonora), Márcio Medina (cenário), João Pimenta (figurinos), Louise Helène (visagismo) Wagner Pinto (luz), André Grynwask (videomapping) e Marcela Horta (direção de produção). Está prevista uma circulação do espetáculo com 30 apresentações por seis cidades do Estado de São Paulo em 2025, incluindo seis sessões com interpretação em Libras para garantir acessibilidade e inclusão.
Idealização e texto
A atriz Dinah Feldman idealizou o espetáculo ao tomar conhecimento, por meio do depoimento em vídeo do primo William Jedwab, dos fatos ocorridos com pais e avós dele. De valor narrativo, os dados fornecidos na gravação e uma mala de couro surrada vinda da Segunda Guerra (contendo documentos em alemão e chinês), trazida pelos parentes, contam a trajetória e o drama dos Jedwab. Hoje são documentos preservados e guardados no Museu Judaico de São Paulo. À saga da família, junta-se a ficção em torno da curiosidade sobre o conteúdo de uma velha mala de couro. A ideia de montar a peça nasceu paralelamente ao trabalho de Dinah no núcleo Educação e Participação do Museu Judaico de São Paulo, quando conviveu por um ano com a mala, exposta no local depois de doada pelo primo. Nas visitas guiadas, a atriz contava a história do objeto. “Falando da mala, fui desenvolvendo o projeto do espetáculo” diz, informando que ela e o primo logo escolheram Nanna de Castro para escrever o texto.
Sinopse
Silêncio, memória e afeto em cena: O Vazio na Mala explora os ecos do trauma familiar e da perseguição nazista. O Vazio na Mala é um espetáculo teatral baseado em fatos reais que mergulha nas profundas marcas deixadas pelo Holocausto e suas repercussões nas gerações subsequentes. A trama explora o impacto do silêncio e dos traumas nas relações familiares, revelando como o passado molda o presente e como o afeto pode ser uma poderosa ferramenta de cura. A história se desenrola em torno das memórias de uma família que fugiu da Alemanha nazista, atravessou a China e chegou ao Brasil, destacando os segredos guardados por décadas. Temas universais como os ciclos familiares, a busca por significado e a herança emocional permeiam a narrativa, enquanto a peça nos convida a refletir sobre o que resta de uma vida vivida em meio à violência e ao medo. A mala, objeto central e símbolo do espetáculo, guarda não apenas documentos, mas o silêncio e as memórias reprimidas de uma família que lutou pela sobrevivência. À medida em que essas memórias são desvendadas, o público é levado a contemplar as complexidades do passado e o impacto dessas histórias no presente. O Vazio na Mala é uma jornada emocional que explora a força da memória, do tempo e da resiliência humana.
Sobre a montagem – por Kiko Marques
A encenação de Kiko Marques é centrada nas atuações, no poder das palavras, na qualidade ao mesmo tempo particular e pública daquilo que está sendo contado e também na comunhão desses fatores com o cenário, figurinos, luz, som e projeções. “Contamos uma história criada a partir de um fato real e que trazemos ao espectador na forma de uma visita aos protagonistas dessa história, um encontro com suas vidas particulares e seus dramas mais íntimos”. Kiko pretende levar o espectador a ser testemunha e cúmplice dessas vidas e suas trajetórias. “Para isso, os apresentamos à intimidade das personagens, às suas casas, aos quartos de sua infância, seus hábitos, suas roupas”. Ao mesmo tempo, a proposta é centrada na perspectiva ampla dessa história que nasce no holocausto, da fuga de uma mulher judia à perseguição nazista durante a 2ª guerra mundial, história de uma sobrevivente ao projeto nazista de extermínio em massa de seres humanos.
“Em cena temos as casas de Esther e Franz, mãe sobrevivente e filho já morto, que aparece na forma de espectro/memória; Sami, neto de Esther e filho de Franz, que chega para visitar ao mesmo tempo a avó e suas memórias de infância; e uma mala fechada onde Esther pretendeu aprisionar sua história, como sua memória que se esvai. Também temos um céu de malas por sobre nosso mundo e nossa mala particular. Um céu de histórias iguais a dela. Temos as duas casas, espelhadas, onde a ação acontece, e que se separam à medida em que as memórias se encarnam e o vazio se instaura; temos a segunda guerra e a perseguição que são projetadas nas paredes dessas casas como balas e bombas a corroer não mais a matéria presente, mas a perspectiva do futuro.”
Sobre o texto de Nanna de Castro
Nanna de Castro foi uma das pessoas entrevistadas por Dinah e William quando selecionavam quem escreveria o texto. Da história ouvida por ela, o ponto considerado marcante da trama, “o que tocou minha alma” foi a relação entre pai e filho. De forma intuitiva e emocional, a autora logo imaginou o resgate dessa relação danificada. “Propus o caminho e William topou”, conta, lembrando do frio na barriga ao imaginar “andar pela história de uma família, pelos meandros afetivos das relações”. Para escrever o texto, Nanna baseou-se também em entrevistas que fez com pessoas da família de William – a irmã, os amigos do pai, uma tia. “Aprofundei-me em pesquisas no Museu Judaico, estudei histórias similares e li alguns livros; entre eles, A Garota Alemã, de Armando Lucas Correa; Maus, a História de um Sobrevivente, de Art Spiegelman, e Ten Green Bottles, de Vivian Kaplan”, conta, observando que a peça tem um lugar quase de uma constelação familiar. “De alguma forma, o teatro tem o poder de revisitar a ligação de pai e filho e trazer para um lugar mais saudável”, finaliza.
Sobre a cenografia de Marcio Medina
A velha mala de couro – com os segredos e as memórias de uma história de vida – foi o objeto que inspirou e norteou a cenografia de Marcio Medina. Para reproduzir o passado de duas gerações – o quarto de Esther (Noemi Marinho) e do seu filho Franz (Fábio Herford) – o cenógrafo concebeu dois quadrantes espelhados com objetos e mobiliário. O fundo do palco abriga um grande telão de papel – como uma antiga carta – emoldurado com palavras e fragmentos de frases em hebraico, chinês etc. Medina explica que as peças retratam o que resta de memória no cérebro e alma de Esther e servem de superfície para inúmeras projeções de lembranças e fatos passados. Os quadrantes pouco a pouco deslizam para as coxias, deixando o palco nu, deserto. Como o apagamento da mente, fica o nada absoluto. Várias malas ocupam todo o espaço aéreo do palco. “Iluminadas, revelam em seu conteúdo imagens de vários grupos perseguidos pelos nazistas na segunda guerra”, explica. “Uma mala pode transportar uma história de sobrevivência, resguardada e reduzida por um apagamento de memória da personagem Esther, de 92 anos. São histórias, objetos e documentos consumidos pela luta e manutenção de uma família”, finaliza Marcio.
Sobre o figurino de João Pimenta
O figurinista João Pimenta inverteu seu processo de trabalho na construção do figurino dos personagens. Depois de receber o briefing do diretor Kiko Marques, solicitando “uma roupa casual, do cotidiano”, o criativo logo partiu para a criação das peças. Pelo que absorveu, começou a desenvolver as roupas antes mesmo de ter o texto finalizado e de saber o perfil, as características dos personagens – quem era essa família – mãe, pai, cuidadora e filho. “Minha proposta com o Kiko foi fazer este caminho inverso – criar o figurino e depois encaixá-lo na necessidade do espetáculo. A gente costuma dizer que na moda a roupa é a segunda pele e que no figurino ela é a primeira pele, a casca do personagem”. Pimenta considera positivo o processo pois permite que o elenco ensaie com as roupas desde o começo e não em uma etapa mais adiante. “Assim, o ator já pode sentir o personagem. E a ideia agora é ir ajustando até finalizar.”
Uma única cor foi concebida para todas as peças – o cinza e suas várias tonalidades. No design, a proposta de mesclar referências de várias não define tempo nenhum. Todas as roupas foram confeccionadas em tecido de alfaiataria, como risca de giz, lã fria, cinza mescla. Para dar a ideia de uma roupa com história, o figurino passou por um tratamento de envelhecimento, menos na roupa do filho. Um vestido em tecido de gola fechada transmite a austeridade demandada pela personagem Esther. Desgastado, o figurino do pai – “uma roupa de ficar em casa” – é formado por camiseta regata, roupão e chinelo. Já o da cuidadora, em tom mais claro, tem fluidez e passa o conceito de um anjo. Camisa e calça social, o do filho jornalista é mais elegante e atual.
Sobre a trilha sonora de Gregory Slivar
O universo da música judaica e suas variadas matizes são o foco da pesquisa de Gregory Slivar, autor da trilha sonora. “Com a ajuda de Dinah Feldman, entrevistamos pessoas ligadas à música deste contexto cultural, como músicos de Klezmer, cantores e pesquisadores, bem como também assistimos reuniões em sinagogas. Para além dessas pesquisas, ainda estou experimentando como me apropriar deste material a fim de poder colaborar com a história da peça”, conta Gregory. Uma vez imerso neste universo, Greg pretende usá-lo como inspiração para suas composições. “As músicas irão aparecer como traços de memória e ligações entre os recortes de espaço e tempo da peça”. Slivar explica que as vozes serão um elemento sonoro de lembrança e, remetendo aos conjuntos tradicionais, uma base instrumental será usada para realizar a costura das cenas. “Penso na trilha como este caminho entre o subjetivo destas personagens, suas buscas de um lugar de pertencimento, a fuga dos traumas e seus ritos de cura.”
Serviço:
Circulação O Vazio na Mala
Culturas em Movimento – coletivo artístico e produção cultural
Drama, adulto, 90 min. Recomendado para maiores de 14 anos.
Dramaturgia: Nanna de Castro. Direção: Kiko Marques. Elenco: Dinah Feldman, Fábio Herford, Marcelo Varzea e Noemi Marinho.
De 17 de janeiro a 22 de junho de 2025
Centro Cultural SESI Campinas
Av. das Amoreiras, 450 – Pq. Itália
17, 18, 19 de janeiro | Sexta-feira e sábado às 20h e domingo às 19h
24, 25 e 26 de janeiro | Sexta-feira e sábado às 20h e domingo às 19h
Sessão com intérprete de Libras: sábado, 25 de janeiro
Oficina de Produção: Dia 25 de janeiro, das 10h às 13h.
Sobre a oficina: A Oficina de Produção Teatral tem como objetivo proporcionar uma vivência prática no âmbito da produção teatral, com foco na resolução de problemas enfrentados no dia a dia da área. Os participantes terão a oportunidade de trabalhar em grupo para superar desafios reais da produção, desenvolvendo habilidades de trabalho em equipe, comunicação e solução criativa de problemas. O projeto final dependerá da capacidade de cada participante em lidar com as dificuldades apresentadas ao longo da oficina.
Centro Cultural SESI Ribeirão Preto
Rua João Ignacchitti, 20-364 – Jardim Castelo Branco, Ribeirão Preto – SP
7, 8, 9 de fevereiro | Sexta-feira e sábado às 20h, e domingo às 19h
14, 15 e 16 de fevereiro | Sexta-feira e sábado às 20h, e domingo às 19h
Sessão com intérprete de Libras: sábado, 15 de fevereiro
Oficina de Produção: Dia 15 de fevereiro, das 10h às 13h.
Centro Cultural SESI São José do Rio Preto
Av. Duque de Caxias, 4656 – Jardim dos Seixas, São José do Rio Preto – SP
14, 15, 16 de março | Sexta-feira e sábado às 20h, e domingo às 19h
21, 22 e 23 de março | Sexta-feira e sábado às 20h, e domingo às 19h
Sessão com intérprete de Libras: sábado, 22 de março
Oficina de Produção: Dia 22 de março, das 10h às 13h.
Centro Cultural SESI São José dos Campos
Av. Cidade Jardim, 4389 – Bosque dos Eucaliptos, São José dos Campos – SP
11, 12 e 13 de abril | Sexta-feira e sábado às 20h, e domingo às 19h
Sessão com intérprete de Libras: sábado, 12 de abril
Oficina de Produção: Dia 12 de abril, das 10h às 13h.
Centro Cultural SESI Sorocaba
Rua Gustavo Teixeira, 369 – Vila Independência, Sorocaba – SP
9, 10, 11 de maio | Sexta-feira e sábado às 20h, e domingo às 19h
16, 17 e 18 de maio | Sexta-feira e sábado às 20h, e domingo às 19h
Sessão com intérprete de Libras: sábado, 17 de maio
Oficina de Produção: Dia 17 de maio, das 10h às 13h.
Centro Cultural SESI Itapetininga
Av. Padre Antônio Brunetti, 1360 – Vila Rio Branco, Itapetininga – SP
20, 21, 22 de junho | Sexta-feira e sábado às 20h, e domingo às 19h
Sessão com intérprete de Libras: sábado, 21 de junho
Oficina de Produção: Dia 21 de junho, das 10h às 13h.
(Com Maurício Barreira/ARTEPLURAL Comunicação)