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Quase todas as faculdades de BH ficam em ‘pântanos alimentares’; entenda

Belo Horizonte, por Kleber Patricio

Pântanos alimentares são áreas com alta concentração de opções não saudáveis. Foto: Erik McLean/Unsplash.

Em Belo Horizonte, a maioria das instituições de ensino superior está localizada próxima de estabelecimentos que oferecem fácil acesso a alimentos ultraprocessados. 95% dos locais ficam em ‘pântanos alimentares’, ou seja, áreas com uma alta concentração de comércio de opções ultraprocessadas e não saudáveis, em detrimento de opções mais nutritivas. Esta é a descoberta de um estudo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) publicado nesta sexta (31) na Revista Brasileira de Epidemiologia.

O grupo avaliou o ambiente alimentar no entorno de instituições que oferecem cursos de ensino superior no formato presencial na capital mineira. Foram analisadas 81 universidades, institutos federais, centros universitários e faculdades, sendo a maior parte (68) da iniciativa privada. Os dados sobre cada instituição foram obtidos por meio da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais.

Os cientistas, então, traçaram um perímetro de 500 metros ao redor de cada local selecionado. Ao contrário de metodologias tradicionais, no entanto, foram consideradas as conectividades das vias, ou seja, ruas acessíveis a pé pelos frequentadores das instituições. Neste raio definido, foram coletadas informações sobre estabelecimentos de venda de alimentos junto à Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais, utilizando a Classificação Nacional de Atividades Econômicas. O levantamento foi realizado em 2022 com dados mais recentes de 2019.

De acordo com a classificação Nova de alimentos, os ultraprocessados são aqueles produtos que passaram por processos industriais intensos e que contêm ingredientes artificiais, como aditivos e conservantes, além de poucos ou nenhum ingrediente in natura. O Guia Alimentar para a População Brasileira recomenda evitar o consumo desses itens. Lanchonetes, restaurantes e bares foram as categorias mais disponíveis e mais próximas das instituições de ensino. Salgadinhos, refrigerantes, biscoitos recheados, doces, guloseimas e fast food foram exemplos de ultraprocessados mais encontrados ao redor das edificações.

A densidade de estabelecimentos que oferecem alimentos não saudáveis foi verificada através da mediana – cálculo que considera o padrão de concentração. A mediana total, que inclui os arredores de instituições públicas e privadas, foi de 73 estabelecimentos. Já a mediana do total de estabelecimentos em torno de instituições privadas foi de 84,5, enquanto entre as públicas foi de 41, quantidade consideravelmente menor. “Cada vez mais temos evidências de que os ultraprocessados são ruins para a saúde, então esse tipo de pesquisa oferece dados para fomentar políticas públicas que possam controlar o entorno dessas instituições onde jovens adultos, em sua maioria, circulam. É uma população que tem autonomia para escolher e que, muitas vezes, leva alimentos para casa”, afirma Thales Philipe Rodrigues da Silva, pesquisador do departamento de enfermagem da Unifesp e coorientador de mestrado da autora principal do artigo, Larissa Edwiges, da UFMG.

O cientista explica que, diferentemente dos desertos alimentares – áreas onde o acesso a alimentos in natura ou minimamente processados é escasso ou impossível –, os pântanos, onde as instituições de ensino superior se localizam, são vizinhanças que facilitam o acesso a alimentos não saudáveis. “Não sabemos se os estudantes e funcionários desses locais de fato consomem mais ultraprocessados, mas, com maior disponibilidade dos produtos, há mais chance de eles serem comprados”, avalia Rodrigues.

Uma das limitações do estudo foi justamente a dificuldade de avaliar quantas pessoas estão tendo acesso e, de fato, consumindo mais ultraprocessados. O grupo espera, no entanto, que os dados auxiliem no planejamento de políticas públicas que possam controlar a venda de alimentos não saudáveis no entorno de instituições de ensino e garantir a segurança nutricional de jovens adultos por meio de oferta de opções melhores para a saúde.

(Fonte: Agência Bori)