A gênese da biografia ‘Frans Krajcberg: A Natureza como Cultura’, nova coedição entre Edusp e Edições Sesc, se deu em 1985, com um pedido do próprio Frans Krajcberg ao escritor João Meirelles. Os dois já eram amigos e essa amizade durou até a morte do artista, em 2017.
Em seu diário, Meirelles registrou a solicitação nas palavras de Krajcberg: “Eu sempre quis fazer a história da minha vida e de minha obra. […] Até alguns já se propuseram a fazer o livro, mas não encontrava diálogo. Eu, sozinho, até já tentei ligar o gravador, mas não sai nada, sai esta voz com som de estrangeiro e logo me acho um chato e desligo.”
A biografia engloba os 96 anos da vida de Krajcberg e sua vasta produção artística. Nascido em 1921 na Polônia, o artista viveu sua juventude em meio ao Holocausto, já naquela época entrando em contato com a arte que definiria sua trajetória.
Naturalizado brasileiro desde 1957, Krajcberg viajou o país e viu de perto a devastação da natureza, incorporando essa realidade em suas obras. “O que faço é denunciar a violência contra a vida”, relatou uma vez o artista. “Esta casca de árvore queimada sou eu”. Ele foi um dos artistas que assinaram o Manifesto do Rio Negro, que propõe um ‘naturalismo integral’, uma forma de arte baseada na natureza brasileira e independente de influências externas.
Sua arte englobou a escultura, a pintura e a fotografia, fazendo parte de mais de 200 exposições coletivas e 92 individuais. Em 1957, foi premiado como melhor pintor brasileiro na 4ª Bienal de São Paulo.
Meirelles explica que o processo de checagem foi muito importante por conta dos relatos de Krajcberg, que se provaram incongruentes mais de uma vez. Apesar da relação de amizade com o artista, o autor demonstrou o distanciamento de um estudioso na confirmação dos fatos.
O biógrafo enfrentou desafios adicionais durante o desenvolvimento do livro, incluindo os impedimentos da pandemia de covid-19. Sua pesquisa envolveria a busca por arquivos documentais no Brasil e na França, mas as restrições nas viagens complicaram essa parte do trabalho. Mesmo assim, ele foi capaz de completar a obra, traçando a trajetória pessoal e artística de Frans Krajcberg.
(Com Bruno Passos Cotrim/Ex-Libris Comunicação)