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Acessibilidade na prática: o que empresas podem fazer para criar ambientes verdadeiramente inclusivos

São Paulo, por Kleber Patricio

Foto: Getty Images/Unsplash+.

A acessibilidade é um direito humano fundamental garantido por lei, mas que ainda enfrenta muitos desafios para se tornar realidade no Brasil. Empresas, instituições e gestores têm um papel crucial na construção de ambientes inclusivos, que não só respeitem a diversidade, mas também reconheçam o valor que ela agrega à sociedade e à economia. A inclusão, porém, vai além de rampas e banheiros adaptados. Quando pensamos em pessoas com deficiência visual, é necessário considerar desde o acesso a informações em formatos acessíveis, como braille, áudio ou texto digital, até a experiência de navegação em sites e aplicativos que sigam diretrizes de acessibilidade. Muitas vezes, as barreiras mais difíceis de superar não são as físicas, mas as atitudinais, que exigem conscientização e mudança de cultura.

Nos últimos anos, o Brasil deu passos significativos na promoção da acessibilidade e inclusão. A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI), sancionada em 2015, é um marco nesse sentido. Ela estabelece obrigações claras para o poder público e para a iniciativa privada, garantindo que as pessoas com deficiência tenham acesso igualitário à educação, ao trabalho, à cultura, ao transporte e a outros serviços essenciais.

Entretanto, o desafio está em transformar o que está no papel em realidade. A falta de fiscalização e de incentivos para que empresas e governos implementem medidas concretas de acessibilidade ainda é um problema e, além disso, a necessidade de formação e sensibilização das lideranças é latente. Muitos gestores ainda enxergam essas iniciativas como custo e não como investimento em um mundo mais justo e inclusivo.

Para que a inclusão aconteça na prática, é essencial que as empresas se comprometam com a acessibilidade de forma ampla. Isso significa, por exemplo, revisar processos seletivos para garantir que sejam inclusivos, oferecer treinamentos para as equipes e investir em tecnologias que promovam autonomia. Pequenas mudanças também são capazes de grandes diferenças, como a adoção de leitores de tela em sistemas internos ou a disponibilização de manuais em braile.

Porém, é preciso ir além de soluções pontuais. A construção de uma cultura inclusiva requer envolvimento genuíno e diálogo constante com pessoas com deficiência. Ouvi-las é o primeiro passo para entender suas necessidades e desenvolver iniciativas que realmente atendam às demandas.

Ainda há muito espaço para inovação na área de acessibilidade. Soluções tecnológicas, como inteligência artificial e realidade aumentada, têm o potencial de criar experiências mais inclusivas, mas sua efetividade depende de uma projeção baseada em princípios de design universal. Isso exige que profissionais de diversas áreas – tecnologia, comunicação, recursos humanos, entre outras – estejam engajados em promover uma inclusão real, e não apenas superficial.

A acessibilidade não é um benefício restrito às pessoas com deficiência – ela melhora a experiência de todos. Ambientes mais inclusivos são também mais diversos, criativos e produtivos. Empresas que abraçam essa causa tendem a se destacar não apenas por sua responsabilidade social, mas também por se tornarem mais competitivas em mercados que valorizam inovação e diversidade.

Adotar uma postura inclusiva também fortalece a reputação das empresas perante a sociedade. Consumidores e colaboradores estão cada vez mais atentos ao impacto social das organizações com as quais interagem. Empresas que investem em acessibilidade mostram, na prática, que estão alinhadas aos valores de igualdade e respeito.

É um caminho que exige compromisso e, muitas vezes, superação de preconceitos e paradigmas. Mas o resultado é transformador: uma sociedade onde todos possam viver com dignidade e igualdade de oportunidades. Cabe a cada um de nós, enquanto cidadãos e agentes de transformação, impulsionar essas mudanças e construir um futuro verdadeiramente inclusivo.

Eduardo de Oliveira é presidente do Conselho de Curadores da Fundação Dorina Nowill para Cegos.

(Com Leticia Santos/RPMA Comunicação)