No próximo dia 19 de abril, data em que o Brasil celebra o Dia dos Povos Indígenas, a cidade de Altamira (PA) sediará um evento que reafirma o protagonismo do povo Mẽbêngôkre Xikrin e o valor da cultura indígena no cenário nacional. Realizada pela Associação Indígena Berê Xikrin da Terra Indígena Bacajá, a programação tem como objetivo valorizar as expressões culturais Xikrin, promover a integração entre comunidades indígenas e não indígenas e fortalecer o desenvolvimento social por meio da arte e do esporte. O dia será marcado por dois grandes momentos com a assinatura de um patrocínio da Transpetro para apoio à cultura e ao esporte Xikrin e o lançamento do documentário que retrata a festa Kwyrykangô (Festa da Mandioca), uma das tradições mais importantes do povo Mẽbêngôkre Xikrin.
Durante todo o dia, das 9h às 22h, o espaço do teatro – localizado na Travessa Treze de Maio, 201, Jardim Uirapuru, ao lado do Cinema Lúcio Mauro – será tomado por manifestações culturais, estéticas e artísticas que refletem a vitalidade do povo Xikrin. Um dos destaques será a Exposição de Artes e Artesanato Xikrin, com brincos, colares, braceletes, biojoias e bolsas, ecobags e mochilas estampadas com os grafismos tradicionais da etnia. As peças são produzidas pelas Menires (ou Niras), mulheres Xikrin responsáveis por manter viva a herança cultural por meio da arte.
Além de apreciar os objetos, o público poderá acompanhar demonstrações ao vivo das técnicas tradicionais, interagir com painéis informativos sobre o grafismo e a história dos objetos rituais e utilitários e ainda participar de sessões de pintura corporal com jenipapo, realizadas pelas próprias Menires, que aplicarão nos visitantes os traços típicos usados pelas aldeias nos braços, pernas e rosto. Toda essa movimentação representa também uma oportunidade de geração de renda para as comunidades envolvidas, que comercializarão seus produtos diretamente ao público local.
À tarde, das 14h às 16h, acontece um dos momentos centrais do evento: a cerimônia de assinatura do patrocínio da Transpetro ao projeto Kukràdjá Xikrin, que fomenta práticas esportivas tradicionais e contemporâneas nas 13 aldeias representadas pela associação. A iniciativa, contemplada pelo edital do Programa Transpetro em Movimento, prevê a realização de jogos de arco e flecha, corrida, cabo de guerra e pau de sebo, além de campeonatos de futebol masculino e feminino.
O projeto foi idealizado pela Associação Berê Xikrin como forma de promover saúde, identidade, integração e fortalecimento da juventude indígena. A cerimônia contará com a presença de atletas, representantes das aldeias, lideranças indígenas, autoridades locais e representantes da Transpetro. “Queremos que todos possam conhecer nossa cultura e assim sermos respeitados por ela”, afirma Bep Kamaty Xikrin, presidente da Associação Indígena Berê Xikrin da TI Bacajá, reforçando o papel do esporte e da cultura como pontes entre os povos.
O presidente da Transpetro, Sérgio Bacci, destaca a capilaridade do edital de patrocínios da companhia por todo o território nacional, permitindo a circulação e a valorização do patrimônio cultural brasileiro, como os costumes ancestrais do povo Xikrin. “Nossa ação visa à promoção de esportes tradicionais e contemporâneos da etnia Mẽbêngôkre Xikrin, com gestão e liderança da própria comunidade e conexão entre diferentes públicos e idades. A Transpetro é entusiasta da valorização dos povos originários brasileiros e busca a preservação da cultura e da história que essa população carrega”, afirma Bacci.
Lançamento do documentário ‘Raízes da Celebração’
Encerrando a programação do evento Dia dos Povos Indígenas, a partir das 19h30, será lançado oficialmente e exibido o documentário ‘Raízes da Celebração’, uma produção de 30 minutos que revela a beleza e os significados da festa Kwyrykangô (Festa da Mandioca), ritual ancestral que celebra a colheita, a fertilidade e a vida entre os Xikrin. O filme é resultado do projeto Festival Kwyrykangô, que aconteceu em 2024 via lei Rouanet e patrocinado pelo Itaú Cultural e a Equatorial Energia, duas instituições comprometidas com a preservação da memória e o apoio a expressões culturais plurais e autênticas.
Para Robson Santos, coordenador do projeto Festival Kwyrykangô, conquistar patrocínios como estes representa várias linhas para os povos indígenas Xikrin da Associação Berê. “É um marco de muitos significados e importâncias. E para os patrocinadores, acredito que participar desse lindo documentário com o incentivo fiscal amplia a diversificação dos aportes e fomenta o incentivo à cultura na Amazônia”, comenta ele.
Com um diferencial marcante, o documentário é falado integralmente na língua Xikrin, com legendas em português. Trata-se de um registro narrado pelos próprios indígenas, em primeira pessoa, sem intermediações externas, respeitando seu modo de vida e sua visão de mundo. A produção é nacional, desenvolvida com participação ativa da comunidade Xikrin em todas as etapas — da concepção à realização, reafirmando seu protagonismo e sua autonomia na preservação e na divulgação de sua cultura. “Este documentário é mais uma forma de sermos lembrados, vistos e compreendidos”, comenta Beb Kamati Xikrin.
Antes da exibição, o público poderá assistir a apresentações de dança e canto tradicionais com a participação ativa da comunidade Xikrin. Após o documentário, haverá um debate com realizadores, representantes das instituições parceiras e membros da comunidade indígena promovendo o intercâmbio entre saberes ancestrais e contemporâneos.
Sobre o Projeto Kukràdjá Xikrin Transpetro
A prática esportiva vai além do condicionamento físico. Para o povo Kurkràdjá Xikrin, representa um instrumento de fortalecimento cultural, socialização e resistência. O projeto Kurkràdjá Xikrin Transpetro surge com o propósito de democratizar o acesso ao esporte e ao lazer dentro das aldeias Xikrin promovendo atividades que respeitam suas tradições e incentivam a integração entre diferentes comunidades indígenas.
Realizado com o apoio da Transpetro, o projeto reforça o compromisso com a valorização da cultura indígena e a promoção do esporte como ferramenta de desenvolvimento. A iniciativa busca estimular a prática esportiva, resgatando jogos tradicionais e oferecendo novas modalidades, incluindo o futebol que é uma paixão dos Xikrins, sem descaracterizar o modo de vida desse povo.
Na cultura Xikrin, a coletividade é um valor essencial. Tudo é compartilhado e a prática esportiva não é diferente. As atividades do projeto são voltadas para toda a comunidade, promovendo integração, cooperação e bem-estar. Além dos esportes ocidentais, como futebol e corrida, os jogos tradicionais, como arco e flecha, cabo de guerra e pau de sebo, são valorizados como expressões culturais.
O esporte não apenas fortalece o corpo, mas também reforça a identidade e a conexão com a ancestralidade. Ao participar das oficinas e competições, crianças, jovens e adultos revivem práticas ancestrais e reafirmam a importância do pertencimento cultural.
Além do impacto direto dentro das aldeias, o projeto Kurkràdjá Xikrin Transpetro também tem um papel essencial na visibilidade do povo Xikrin perante a sociedade. Por meio de registros audiovisuais e materiais informativos, a iniciativa busca combater estereótipos e mostrar a riqueza cultural e organizacional desse povo.
Os Xikrin não vivem isolados ou alheios às transformações do mundo. Pelo contrário, são protagonistas na luta pela preservação de seus territórios e na defesa de suas tradições. O projeto não apenas incentiva o esporte, mas também promove um olhar mais respeitoso e realista sobre os povos indígenas, desconstruindo visões preconceituosas e equivocadas.
A expectativa é de que o Kurkràdjá Xikrin Transpetro alcance centenas de indígenas, promovendo o esporte como um direito e um elemento de resistência cultural. Com a realização de oficinas, torneios e atividades de integração, o projeto se consolida como um marco na valorização das práticas esportivas indígenas e no fortalecimento das comunidades Xikrin.
Sobre o Programa Transpetro em Movimento
O Programa Transpetro em Movimento impacta positivamente quase 300 mil pessoas em 55 municípios brasileiros em todas as regiões do país e é uma parceria com o Ministério da Cultura e o Ministério do Esporte por meio da Lei Rouanet e da Lei Federal de Incentivo ao Esporte. Com capilaridade nacional, o primeiro edital público de patrocínio incentivado da Transpetro valoriza e promove a circulação de traços culturais brasileiros e a formação profissional, fortalecendo a diversidade e estimulando a inclusão de públicos menorizados ou em situação de vulnerabilidade. Mais de 80% dos projetos contemplados acontecem em comunidades tradicionais ou em áreas de periferia, com público prioritário formado em sua maioria por crianças e adolescentes.
Sobre os Mẽbêngôkre Xikrin
Os Mẽbêngôkre Xikrin são um dos povos indígenas do Brasil que, por gerações, têm preservado sua cultura, seu território e seu modo de vida. Habitantes da Terra Indígena Trincheira Bacajá, no Pará, os Xikrin são conhecidos por sua forte conexão com a natureza, suas tradições e seu espírito coletivo. Mais do que um povo com um passado rico, são protagonistas do presente, reafirmando diariamente sua identidade e enfrentando desafios impostos pelo avanço da sociedade não indígena.
Diferente da sociedade ocidental, os Xikrin não vivem sob a lógica do relógio. Seu tempo é regido pelos ciclos da natureza, pelos rios, pela caça e pela plantação. A vida na aldeia segue um ritmo próprio, no qual o coletivo tem papel essencial. Se um come, todos comem. Os alimentos e bebidas são sempre compartilhados, fortalecendo o espírito comunitário que caracteriza esse povo.
A transmissão do conhecimento se dá pela oralidade e pela prática. As crianças aprendem observando os mais velhos, participando do dia a dia e se envolvendo nos rituais e festividades. A pintura corporal, os adornos e os cantos são expressões culturais carregadas de significados que reforçam a identidade e a conexão com os ancestrais.
Entre as tradições mais importantes do povo Mẽbêngôkre Xikrin está a Festa da Mandioca (Kwyrykangô), uma celebração de grande significado para a comunidade. Mais do que um evento, a festa simboliza a fertilidade da terra, a valorização das mulheres e a partilha de saberes ancestrais. Durante dias, a aldeia se mobiliza para cantar, dançar, preparar alimentos e reafirmar sua identidade cultural. A mandioca, alimento base da dieta Xikrin, é reverenciada como símbolo de fartura e sobrevivência.
Apesar da riqueza cultural e da força de sua organização social, os Xikrin enfrentam desafios cada vez maiores. A construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte trouxe impactos significativos para seu território, afetando a dinâmica dos rios e da fauna, elementos essenciais para sua sobrevivência. Além disso, o avanço de atividades extrativistas impõe constantes ameaças à preservação da floresta e ao modo de vida tradicional.
Mesmo diante dessas adversidades, os Xikrins seguem resistindo. Buscam, por meio de projetos e parcerias, fortalecer sua autonomia, preservar sua cultura e garantir que as futuras gerações possam viver conforme suas tradições.
Um olhar livre de estereótipos
Ao falar sobre os Xikrins ou qualquer outra etnia indígena, é essencial evitar estereótipos que reduzem os povos indígenas a imagens ultrapassadas, pejorativas e equivocadas. Eles não são povos do passado, mas sim, sociedades vivas, com saberes sofisticados e modos de organização exemplares. Seu conhecimento sobre a floresta e sua coletividade são lições valiosas que a sociedade não indígena tem muito a aprender. A relação do indígena com o tempo é diferente do padrão do ‘kuben’ (homem branco) e, em tempos de discussão sobre saúde mental, é algo que muito tem para ser observado e aprendido. “Dar visibilidade ao povo Mẽbêngôkre Xikrin é reconhecer sua importância e fortalecer a luta por seus direitos. Preservar sua cultura não é apenas um compromisso com o passado, mas um investimento no futuro da diversidade e da identidade brasileira”, garante Beb Kamati Xikrin, presidente da Associação Indígena Bere Xikrin da TI Bacajá.
Local do evento: Teatro Jarbas Passarinho
O Teatro Municipal Jarbas Passarinho, localizado na Travessa Treze de Maio, 201, no bairro Jardim Uirapuru, em Altamira (PA), é um importante espaço cultural da cidade. Após passar por reformas, o teatro foi reinaugurado com instalações modernizadas, oferecendo infraestrutura adequada para apresentações de artes cênicas, danças, musicais, leitura e outras atividades artísticas.
O teatro tem sido palco de diversos eventos culturais, incluindo espetáculos de dança e música, além de servir como espaço para grupos teatrais locais, como o GRUTBBRA, que realiza encontros regulares no local. Sua localização central e acessível o torna um ponto de encontro para a comunidade, fortalecendo a identidade cultural de Altamira.
Com capacidade para receber um público significativo, o Teatro Municipal Jarbas Passarinho desempenha um papel fundamental na promoção da cultura e das artes na região, sendo um espaço de expressão e valorização das tradições locais e será palco para a celebração deste dia marcante na história do povo Mẽbêngôkre Xikrin.
Serviço:
Dia dos Povos Indígenas – Associação Indígena Berê Xikrin da Terra Indígena Bacajá
Data: 19 de abril
Local: Teatro Jarbas Passarinho – Travessa Treze de Maio, 201 – Jardim Uirapuru, ao lado do Cinema Lúcio Mauro
Início do evento Dia dos Povos Indígenas: 9h
Assinatura do patrocínio da Transpetro ao projeto esportivo Kukràdjá Xikrin: 14h
Lançamento documentário: 19h30.
(Com Gustavo Ribeiro/Pessoa Comunicação)