Em parceria com a Fundação Síndrome de Down, de Campinas, o Restaurante Vila Paraíso, no distrito de Joaquim Egídio, abriu suas portas para um projeto que tem como propósito a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Desde o segundo semestre de 2016, dois jovens assistidos pela fundação passaram por estágios na casa por um período de três meses cada um e outros serão recebidos ao longo deste ano. Durante o estágio, os jovens têm a oportunidade de conhecer o mundo corporativo e praticar coisas como responsabilidade de horário, bater o ponto, assumir responsabilidades no serviço e a conhecer o funcionamento dos negócios.
Essa experiência de inclusão social do Vila Paraíso teve inicio com Gabriel Felipe Mariano, de 19 anos, jovem com deficiência intelectual que, com poucos meses de trabalho, demonstrou que gosta da gastronomia e conseguiu um notável avanço social, tendo atuado como auxiliar de cozinha.
Segundo a especialista em inclusão corporativa da Fundação Síndrome de Down, Renata Lellis, a ação de busca de parceiros a fim de promover a iniciação ao trabalho das pessoas com alguma deficiência foi batizada de Curso de Iniciação ao Trabalho (CIT) e tem colhido resultados positivos aos usuários da fundação.
“Nós acolhemos as famílias na fundação e, de acordo com o estudo que fazemos caso a caso, identificamos quem já está apto para ter seu primeiro contato com o mundo corporativo. São identificadas as preferências e aptidões dos usuários da instituição, através de conversas feitas pela nossa equipe”, explica. “Após esta análise, é possível dar o primeiro passo na carreira que mais lhe é peculiar. A inserção nos estabelecimentos é realizada, primeiramente, por um período de três meses. Conversamos com os responsáveis do estabelecimento para analisarmos uma prorrogação do prazo ou ver se há a necessidade de trocarmos o local de trabalho. É muito importante receber esse feedback dos empresários para podermos dar sequência no trabalho de estágio e o usuário estar apto para ser registrado na CLT”, disse.
No período em que a pareceria é firmada, o usuário é avaliado nos quesitos de funcionalidade do trabalho, como assiduidade, compromisso com horários e responsabilidades peculiares a cada função, além do relacionamento com os colegas de trabalho.
Segundo o chef do restaurante, Ricardo Barreira, os dois jovens se tornaram amigos de todo o pessoal que atua na cozinha. Além disso, houve o cuidado de nomear um integrante para acompanhar os dois jovens ao longo de seus estágios. “É muito legal ver a evolução deles na cozinha do restaurante. Nos primeiros dias eles chegaram tímidos, falando pouco. Para nós é uma experiência incrível e os jovens estão cumprindo rigorosamente tudo o que se propuseram a fazer”, disse.
Para a gerente de marketing do Vila Paraíso, Fernanda Barreira, a experiência tem sido bastante positiva. “Ficamos encantados com o trabalho da fundação. Nós ajudamos no crescimento profissional e eles nos ajudam também, com mais paciência, compreensão e coletividade no ambiente de trabalho.”
A instituição
A Fundação Síndrome de Down foi criada por três pais que enfrentaram dificuldades com a inclusão social de seus filhos, pessoas com Síndrome de Down. Ao batalharem para a evolução de seus filhos, eles decidiram criar a fundação para também auxiliar outros pais que enfrentam as mesmas situações que eles. A entidade atende 200 pessoas com alguma deficiência intelectual e tem no mercado corporativo 60 usuários do programa.
De acordo com Renata Lellis, o trabalho é muito mais complexo do que parece e exige um acompanhamento não só do usuário do programa, mas também da família. “Quando nós os recebemos, percebemos que por muitas vezes, a família cria certa resistência em dar autonomia às pessoas que têm alguma deficiência intelectual. Nós atuamos com o propósito de quebrar essa barreira e mostramos que, mesmo com todos os desafios enfrentados, a vida pode ser cheia de conquistas. Todos têm a capacidade de alcançar seus objetivos e crescer como cidadãos. A família tem uma importante participação no programa, mas prezamos pela autonomia. Quem decide o que quer fazer profissionalmente e se aceita as condições de trabalho é o próprio usuário. Este é um grande passo rumo à autonomia na tomada de decisões de cada um”, concluiu.