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“Agropeça” coloca o agronegócio nas terras de Dona Benta

São Paulo, por Kleber Patricio

Fotos: Ligia Jardim.

A influência do agronegócio na sociedade brasileira atual e o aumento acelerado do conservadorismo que cerca este posicionamento político são alguns dos temas de “Agropeça”, nova montagem do Teatro da Vertigem. A temporada acontece no Galpão do SESC Pompeia, de 4 de maio a 11 de junho de 2023, de quarta a sábado às 20h e, domingo, às 17h – os ingressos ficam disponíveis para venda em www.sescsp.org.br, e nas bilheterias das unidades do SESC SP. Dirigida e concebida por Antonio Araújo, com texto final de Marcelino Freire, co-direção de Eliana Monteiro e luz de Guilherme Bonfanti, o novo trabalho do Teatro da Vertigem investiga a tendência conservadora e reacionária atual e a relação do agro como forma de linguagem.

Para abordar esse tema, o grupo se faz valer de personagens bem conhecidos da literatura brasileira: Emília, Narizinho, Pedrinho, Tia Nastácia, Dona Benta, Visconde de Sabugosa, Marquês de Rabicó. Criação de Monteiro Lobato, o “Sítio do Picapau Amarelo” torna-se cenário (e personagem) do novo espetáculo do Vertigem, em uma versão bastante livre.

No elenco estão André D’ Lucca (Saco e Rainha de Sinop), Andreas Mendes (Dona Benta, Marquês de Rabicó e palhaço de rodeio), Lucienne Guedes (Narizinho e Santa | cantora gospel), Mawusi Tulan (tia Nastácia), James Turpin (Visconde de Sabugosa, Boi), Paulo Arcuri (Coronel Teodorico), Tenca Silva (Emília), e Vinicius Meloni (Pedrinho).

“Agropeça” comemora os 30 anos de existência do Teatro da Vertigem, grupo conhecido e premiado por montagens que investigam São Paulo utilizando espaços importantes da cidade para compor suas produções, criando novas formas de se relacionar com a arquitetura dos ambientes e provocando o movimento pelo espaço. Exemplos não faltam. “O Paraíso Perdido”, de 1992, que trata de questões metafísicas vividas pelo homem contemporâneo, foi encenado na Igreja Santa Ifigênia; “O Livro de Jó”, cujo personagem título foi vivido por Matheus Nachtergaele, teve como espaço o Hospital Humberto Primo, de 1995; “Apocalipse 1,11” (2000) usou o antigo Presídio do Hipódromo e “BR3” (2006) fez o público navegar pelo Rio Tietê.

Palco de disputa

Diferente de outras peças do grupo, dessa vez não haverá a ocupação de um lugar já existente, mas a transformação do Galpão do SESC Pompeia em uma arena. Para compor este imaginário rural brasileiro, a estrutura cênica onde é encenado o espetáculo toma todo o espaço, transformando-o em uma arena de rodeio. Porém, a experiência imersiva – uma das características do Teatro da Vertigem – se mantém, transportando os espectadores não só a uma arena de rodeios, como também ao próprio Sítio do Picapau Amarelo. A cenografia é de Eliana Monteiro e William Zarella Junior e a iluminação, de Guilherme Bonfanti. Os figurinos são de Awa Guimarães e a direção musical é de Dan Maia.

Ao abordar o universo do agro, o Teatro da Vertigem investiga o jeito de pensar e agir do neo-conservadorismo brasileiro. O universo agro será representado pelo mundo dos rodeios, com cenas que representam e exemplificam a fricção entre o pensamento retrógrado promovido pela ultradireita e o diálogo cheio de embates com as ideias progressistas e as novas formas de agir que fazem a sociedade avançar.

A peça faz o cruzamento desse mundo com o Sítio do Picapau Amarelo. Os personagens ganham novos contornos e novas funções sociais e o próprio Sítio se torna um elemento narrativo.

Em “Agropeça”, é criada uma amálgama entre o mundo do agro, os personagens do Sítio do Picapau Amarelo e episódios recentes da realidade política brasileira transformada em linguagem poética. Dividido em três blocos, cada uma das partes será narrada por um personagem do universo do Sítio – Pedrinho, Tia Nastácia e Emília. A partir disso, são criadas cenas que envolvem esses personagens (e os demais personagens do Sítio), o que de certa forma relê a série de literatura criada por Monteiro Lobato entre 1920 e 1947.

A dramaturgia foi escrita depois de um longo período de pesquisas e oficinas e em processo colaborativo entre direção, elenco e o escritor.

À procura do interior

O novo trabalho do Teatro da Vertigem busca investigar a tendência conservadora e reacionária que está cada vez mais se ampliando pelo Brasil. Para compor este imaginário rural brasileiro, a estrutura cênica escolhida para a realização da peça consiste em uma arena de rodeio, uma competição esportiva de montaria em touros.

O evento foi objeto de pesquisa durante o processo criativo, tanto para a realização do roteiro quanto para as referências de modalidade de montaria. Em 2022, o início desse estudo que se transformaria na Agropeça foi aberto ao público durante a 6ª edição do Mirada – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas do SESC São Paulo. Os estudos do universo rural perpassaram também pela clássica personagem da cultura brasileira, Jeca Tatu, entrevistas com profissionais do rodeio – como o peão Cleber Henrique, um dos ganhadores da última edição de Barretos, e a primeira locutora mulher de rodeios do Brasil, Mara Magalhães. O espetáculo propõe a pensar um Brasil contemporâneo que se vê como manutenção da exploração histórica, construindo um país atualizado de passado.

Na peça, as personagens espelham a complexidade da estrutura social brasileira que ainda necessita revisitar sua memória. Elas expressam discursos distintos, que se colocam em disputa, construindo e desconstruindo um projeto político reacionário. O embate que se apresenta na arena é atravessado por narrativas que friccionam o pensamento retrógrado presente em parte da sociedade brasileira diante da diversidade de gênero, raça e discursos políticos.

Sinopse | No meio de uma arena, que ora é rodeio, ora é o centro de um sítio, os personagens, à mesa de jantar ou prestes a domar um touro brabo, enfrentam-se na tentativa de desvendar um país que “rumina” e ao mesmo tempo “agoniza” em busca do próprio destino. Não sabemos se o que estamos assistindo é a representação de um país cruel e conservador, ou se tudo faz parte de uma antiga fábula infantil que, de alguma forma, moldou o imaginário brasileiro.

Serviço:

Agropeça

Teatro da Vertigem

Data: 4/5/2023 a 11/6/2023 – de quarta-feira a sábado às 20h, domingo e feriado, às 17h

Local: SESC Pompéia – Rua Clélia, 93 – Lapa – São Paulo – SP | Galpão

Ingressos: R$50 (inteira), R$25 (pessoas com +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino) e R$15 (Credencial Plena)

Classificação indicativa: 14 anos | Duração: 120 minutos

Ficha técnica:

AGROPEÇA

Uma criação do Teatro da Vertigem

Texto: Marcelino Freire

Concepção e Direção Geral: Antonio Araújo

Codireção: Eliana Monteiro

Desenho de luz: Guilherme Bonfanti

Performers:

André D’ Lucca, Andreas Mendes, James Turpin, Lucienne Guedes, Mawusi Tulani, Paulo Arcuri, Tenca Silva e Vinicius Meloni

Artistas Colaboradores: Nicolas Gonzalez (1ª e 2ª Fase) | Lee Taylor (1ª Fase)

Dramaturgismo: Bruna Menezes

Assistente de Dramaturgismo: João Crepschi

Conceito do Espaço: Antonio Araújo

Cenografia: Eliana Monteiro e William Zarella Junior

Sound Designer Associados: Randal Juliano, Guilherme Ramos e Kleber Marques

Figurino: Awa Guimarães

Visagismo: Tiça Camargo

Direção Musical e Trilha Original: Dan Maia

Direção vocal: Lucia Gayotto

Videografismo: Vic von Poser

Preparação Corporal: Castilho, Ricardo Januário

Preparação Corporal (1ª Fase): Fabrício Licursi

Direção de movimento: Castilho

Assistente de Direção: Gabriel Jenó

Assistentes de Iluminação: Giorgia Tolaini

Músicos: Lisi Andrade e Ricardo Saldaña

Operação de luz: Giorgia Tolaini

Operador de Áudio: Fernando Sampaio

Operadoras de Projeção: Júlia Ro e Vic von Poser

Operadores de Câmera: André Voulgaris e Matheus Brant

Operadores de seguidor: Igor Beltrão e Lays Ventura

Contrarregras: Clay Dalim, Flores Ayra, Gabriel Jenó e Jacob Alves

Cenotécnico: Zé Valdir Albuquerque

Montagem, Pintura e Tratamento de Cenografia: Elástica SP Cenografia

Costureiras: Francisca Rodrigues e Cleonice Barros Correa

Sonoplastia dos Ensaios: Dener Moreira

Aulas de Laço: Gui Sampaio

Crânios de Boi: Vinicius Fragata

Máscara Rabicó: Pietro Schlager

Tradutor Yorubá: Mariana de Òsùmàrè

Assistente de arquitetura: Maria Piedade

Acompanhamento no projeto de luz: Chico Turbiani

Estagiária de Direção: Julie Douet Zingano

Estagiário de Iluminação: Felipe Mendes e Caio Maciel

Fotos: Lígia Jardim

Documentarista: Padu Palmerio

Designer: Guilherme Luigi

Assessoria de Imprensa: Canal Aberto

Produção: Corpo Rastreado – Leo Devitto e Gabi Gonçalves

Sobre o Teatro da Vertigem

O grupo Teatro da Vertigem, criado em 1992 na cidade de São Paulo, desenvolve um trabalho artístico com base em elementos característicos, que vão desde a utilização de espaços não convencionais da cidade, passando pela criação de espetáculos a partir do depoimento pessoal dos seus integrantes e de processo colaborativo entre atores, dramaturgo, encenador e demais criadores, até a pesquisa sobre os processos de interferência na percepção do espectador.

(Fonte: Canal Aberto Assessoria de Imprensa)