O tema proposto pelo Atelier Vivaz aos artistas – Noivas de 68 – nos remete a quase cinquenta anos atrás, nos levando a um retrospecto não só de nossa história, mas do mundo.
Noivas brasileiras, em 1968, tinham como parâmetro a Europa. Buscavam na moda seus modelos de vestidos e lingerie, maquiagem, perfumaria e acessórios. A elegância, a majestade e a sobriedade ditavam aos noivos sua vestimenta. O design francês e inglês dominava nas louças e tecidos para as moradias. Era de praxe as noivas francesas e brasileiras casarem em maio. E a tradição, depois de 68, resultou enfraquecida.
Maio de 68 foi um ano político. No Brasil, estudantes lutavam contra o regime militar e por melhor educação. Na França, a revolta de maio opôs estudantes e polícia em batalhas violentas. Nos Estados Unidos, a revolta contra uma guerra inglória no Vietnã e o racismo. Em todos, o desejo da luta por várias formas de liberdade que se espalhou: Praga, Berlim, Checoslováquia e Frankfurt.
É incontestável que a arte se modificou a partir maio de 1968, impondo o relativismo moral e intelectual a todos nós.
O cinema, a partir de 1968, toma caráter político em função das manifestações por parte dos movimentos sociais franceses. É a vez do cinema militante.
É a década dos happenings surgidos com a pop art, uma espécie de teatro instantâneo; uma mistura de artes visuais, música e dança que convida o espectador a participar da obra ou da ação – uma forma de tirá-lo da passividade, fazendo-o reagir à provocação do artista e do cotidiano político social. É na música, no movimento Tropicália, com a crítica ao conservadorismo e a situações impostas, que temos o slogan que foi eternizado: É proibido proibir.
Nas artes visuais, as propostas artísticas da vanguarda brasileira que se desenvolveram entre 1964 e 1968 estavam comprometidas com dar respostas ao golpe militar. A nova linguagem figurativa dialogava de forma mais direta com a realidade político-social. Dentre as manifestações artísticas, como Minimalismo, Op Arte, Arte Cinética, Novo Realismo e Tropicália, a pop art surgida na Inglaterra e apropriada e difundida pelos norte-americanos, foi a vanguarda mais decisiva da década.
Na arte de rua, o grafite, com frases que ficaram famosas por expressar, muitas vezes de maneira bem humorada e irônica, o desejo de transformação da sociedade por parte dos estudantes na época. E os mais criativos e eficazes cartazes de rua de toda a história foram criados em assembleias gerais, produzidos artesanalmente, discutidos abertamente nas semanas do maio francês de 1968. Foram criações coletivas que envolveram mais de 300 artistas. E começa a surgir o New Design, que passou a ser mais orgânico, colorido, emotivo, irracional e feminino.
Nas artes plásticas, é o momento da transição da vanguarda para a contemporaneidade. Abriu-se a liberdade da utilização de multi suportes, em substituição aos tradicionais, como elementos essenciais da obra de arte. É o momento da arte conceitual. Uma arte mais objetiva, intelectual, menos engajada, voltada para questionar a própria arte.
Divagando pelo Maio das Noivas de 1968…
Artistas participantes
Alexandre G. Vilas Boas – Guarulhos/SP
Alexandre Zaghetto – Brasília/DF
Alvaro Azzan – Campinas/SP
Andrea Mendes – Campinas/SP
Claus Steger – Campinas/SP
Cristina Brahemcha – Jundiaí/SP
Davi Faustino – Goio-Erê/PR
Erika Pedraza – Campo Grande/MS
Gejo Thedamn – São Paulo/SP
Giuseppe Ranzini – São Paulo/SP
Leo Brizola – Belo Horizonte/MG
Lícia Simoneti – Limeira/SP
Márcia Vinhas Fernandes – São Paulo/SP
Oscar Rodriguez Ortas – Málaga/Espanha
Patricia Amato – São Paulo/SP
Paulo Ely – Campinas/SP
Renato de Sousa – Louveira/SP
Rosy Jesus Vaz – Santa Bárbara d’Oeste/SP
Sergio Augusto Oliveira – Guarulhos/SP
Serviço:
Exposição Noivas de 68
Curadoria: Maria Inês Saba
Local: Atelier Vivaz – R. Dr. Sampaio Ferraz, 541 – CambuÍ – Campinas/SP
Abertura: Dia 7 de maio (até 3 de junho)
Horário: Das 10h30 às 17h
Visitação: Agendar de terça a sexta das 10h às 16h.