A Pinacoteca de São Paulo inaugura principal sala expositiva da Pinacoteca Contemporânea, a Grande Galeria, com a mostra “Chão da praça: obras do acervo da Pinacoteca”. Com coordenação curatorial de Ana Maria Maia, curadora chefe da Pinacoteca, e Yuri Quevedo, a mostra reúne cerca de 60 obras do acervo de arte contemporânea em montagem pautada pelo desejo de falar sobre territórios, encontros e narrativas de atravessamento. A mostra tem inauguração prevista para o dia 4 de março e apresenta obras como “Modificação e apropriação de uma identidade autônoma” (1947/2023), de Gretta Sarfatty, “Parede da memória” (1994-2015), de Rosana Paulino, “Máscara de ritual Tukano I”, de Duhigó e “Estrutura dissipativa/Gangorra” (2013), de Rommulo Vieira Conceição.
A exposição nasce da articulação de uma variedade de suportes e abordagens, bem como da diversidade de artistas representados, pertencentes a diferentes gerações, perfis identitários, regiões do país e circuitos de produção. Em um campo fluido de presenças e relações, diversas gestualidades aparecem nas instalações e esculturas de grandes dimensões, que até então encontravam limites para serem expostas em outros espaços e foram, por isso mesmo, tomadas como uma das motivações para se construir a terceira sede do museu. Desenhos, pinturas, fotografias, vídeos e performances compõem a narrativa que é orientada por três grandes ideias: a de travessias, vizinhanças e transcendências.
“O desejo da curadoria é que os visitantes possam estabelecer seus próprios percursos e encontrar um ambiente convidativo para se relacionarem com cada obra. Como um dos projetos inaugurais da Pina Contemporânea, esta exposição deve servir-se ao início de um processo de interface e aprendizado com as experiências de um novo espaço, dotado de novos usos e públicos”, afirma Ana Maria Maia.
A exposição “Chão da Praça: obras do acervo da Pinacoteca” tem patrocínio do Bradesco, na cota Apresenta, e da Bloomberg, na cota Prata.
Travessias, vizinhanças e transcendências
A exposição é organizada a partir de três argumentos – travessias, vizinhanças e transcendências – encontrados nas diferentes obras e articulados em relações de proximidade. A ideia de travessia pode ser entendida tanto no sentido de percurso quanto de atravessamento, movimento que permite o confronto de estruturas socioculturais e históricas. Esse espectro está contemplado nas obras “Irruption Series” [Série irrompimento] (2010), de Regina Silveira (Porto Alegre – RS, 1939), e “Galinha d’Angola” (2017), de Paulo Nazareth (Governador Valadares – MG, 1977), marcadas pelos fluxos e contrafluxos de um caminhar incessante. Na performance “Modificação e apropriação de uma identidade autônoma” (1980), de Gretta Sarfatty (Atenas – Grécia, 1954), o deslocamento individual de uma mulher destitui as camadas de um cubo confeccionado para abarcar (e, nesta medida, comportar) seu corpo e sua subjetividade. Esta performance será apresentada na abertura da exposição e em uma segunda data a ser divulgada no decorrer do período de visitação. Nesta ocasião, não é a própria Gretta que se apresentará, mas a também artista Val Souza, convidada a interpretar o roteiro histórico trazendo-o para seu corpo e sua experiência.
Em outro conjunto de trabalhos da exposição, ganha força a ideia de vizinhança, tomada como medida para se pensar como as coletividades se dão nos territórios e, em específico, no território da Pina Contemporânea. A localização deste edifício amplia o perímetro urbano com o qual o museu dialoga diretamente, articulando seu programa ao Parque Jardim da Luz e reconfigurando a relação com o bairro do Bom Retiro. Situações de encontro e afeto dão a tônica de uma longa parede, ocupada em uma montagem densa e constelativa por obras de Lúcia Laguna (Campos de Goytacazes – RJ, 1941), Bené Fonteles (Bragança – PA, 1953), Matheus Rocha Pitta (Tiradentes – MG, 1982) e Yuli Yamagata (São Paulo – SP, 1989), entre outros nomes.
Transcendências é a terceira ideia aglutinadora de trabalhos a serem mostrados. Em seguida às abordagens de travessias individuais e de relações interpessoais no espaço, convém pensar aberturas e conexões que se dão também no tempo. Na contramão do apagamento sistêmico das histórias e saberes da população negra no Brasil, a “Parede da memória” (1994-2005), de Rosana Paulino (São Paulo – SP, 1967) elabora uma identidade coletiva entremeando exercícios de lembrar e imaginar. Em obras como “Kebranto” (2021), de Jonas Van (Fortaleza – CE, 1989) e Juno B. (Fortaleza – CE, 1982), e “Yiki Mahsã Pâti” [Mundo dos espíritos da floresta] (2020), de Daiara Tukano (São Paulo – SP, 1982), somam-se maneiras de expressar percepções metafísicas e de se orientar a partir de escutas e cosmovisões da natureza.
Para privilegiar o ineditismo da visualização da Grande Galeria, a expografia criará o mínimo de construções no espaço. A implantação das obras objetiva sugerir afinidades e diálogos entre elas, mas sem expressar fluxos ou núcleos delimitados em textos setoriais de parede ou outras formas de dirigir a apreciação do público.
Em diálogo com a mostra, a obra “Tríade Trindade” (2001), trabalho de escala monumental do artista Tunga, inaugura a grande praça aberta da Pinacoteca Contemporânea, projetada para receber eventos das mais variadas linguagens. A obra contém as cargas simbólica e energética que particularizam a produção de Tunga. Tanto por sua constituição física, de uma estrutura composta de metais e imãs com cinco metros de altura e quatro toneladas de peso, como pelas representações de trança, cabelereira, sinos, caldeirão, tacape, jarras, taças e outros objetos recipientes. O trabalho se conecta à mostra “Chão da praça” não apenas pela grandeza de seu tamanho, mas também por sua conexão da arte com a vida.
Sobre a Pinacoteca de São Paulo | A Pinacoteca de São Paulo é um museu de artes visuais com ênfase na produção brasileira do século XIX até a contemporaneidade e em diálogo com as culturas do mundo. Museu de arte mais antigo da cidade, fundado em 1905 pelo Governo do Estado de São Paulo, vem realizando mostras de sua renomada coleção de arte brasileira e exposições temporárias de artistas nacionais e internacionais. A Pina também elabora e apresenta projetos públicos multidisciplinares, além de abrigar um programa educativo abrangente e inclusivo.
Artistas participantes da mostra:
Analívia Cordeiro (SP), Antonio Poteiro (Portugal), Bené Fonteles (BA), Brígida Baltar (RJ), Carmela Gross (SP), Carmélia Emiliano (RO), Castiel Vitorino Brasileiro (ES), Claudia Andujar (Suíça), Claudio Tozzi (SP), Cristiano Mascaro (SP), Daiara Tukano (SP), Delson Uchôa (AL), Djanira (SP), Duhigó (AM), Emanoel Araújo (BA), Emmanuel Nassar (PA), Ernesto Neto (RJ), Gisela Motta e Leandro Lima (SP), Gretta Sarfaty (Grécia), Hudinilson Jr (SP), Ilê Sartuzi (SP), Jonas Van e Juno B (CE), Laura Lima (MG), Lucia Laguna (RJ), Lygia Pape (RJ), Lygia Reinach (SP), Marepe (BA), Maria Bonomi (Itália), Martinho Patrício (PB), Matheus Rocha Pitta (MG), No Martins (SP), Paula Garcia (SP), Paulo D’Alessandro (SP), Paulo Nazareth (MG), Paulo Pjota (SP), Regina Silveira (RS), Renina Katz (RJ), Rommulo Vieira Conceição (BA), Rosana Paulino (SP), Sandra Cinto (SP), Sara Ramo (Espanha), Sidney Amaral (SP), Tiago Sant’Ana (BA), Vera Chaves Barcellos (RS), Yuli Yamagata (SP) e Zica Bérgami (SP).
Serviço:
Chão da praça: obras do acervo da Pinacoteca
Período: 4.3.2023 a 30.7.2023
Curadoria: Ana Maria Maia e Yuri Quevedo, com colaboração de Ana Paula Lopes, Horrana de Kassia Santoz, Pollyana Quintella, Renato Menezes, Thierry Freitas e Weslei Chagas
Pinacoteca Contemporânea (Grande Galeria)
De quarta a segunda, das 10h às 18h – R$10,00 (inteira) e R$5,00 (meia-entrada) – até junho de 2023
Gratuito aos sábados
A entrada será gratuita no primeiro mês de funcionamento do novo prédio
Ingressos no site a partir de março ou direto na bilheteria física da Pinacoteca Contemporânea.
(Fonte: Pinacoteca de São Paulo)