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Diogo Nazareth une ritmos rituais afro-brasileiros à harmonia do choro e beats do hip-hop no primeiro CD

Campinas, por Kleber Patricio

Foto: divulgação.

A prospecção de um “pré-sal musical” de ritmos que dividem a matriz africana com o Samba, mas seguem ignorados na produção atual: essa é a proposta de Cultura de Existência, primeiro álbum de Diogo Nazareth, que será lançado com agenda de shows em São Paulo em novembro, mês da Consciência Negra. Em Campinas, a apresentação integra a programação oficial da Prefeitura para a data (confira o calendário abaixo).

Formado em Piano Popular pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em 2014, o músico, de 30 anos, apresenta um trabalho totalmente autoral composto de 12 faixas, unindo toques do ritual da nação Ketu, que envolvem atabaques e agogôs, com as técnicas de composição europeias.

“Na prática, fundimos o sotaque do Aguerê, o Alujá, o Ijexá, o Ilú de Inhansã, com a formação típica do regional de Choro: violão de sete cordas, violão de seis cordas, cavaco e/ou bandolim. Ou seja, instrumentos harmônico-melódicos que abrem as possibilidades do emprego de técnicas eruditas de composição para o tratamento desses ritmos desconhecidos do grande público”, explica Nazareth. A junção desses universos constitui o centro estético do disco, complementado por linhas em naipe de sopros e participações de viola caipira.

O músico evoca a formação do próprio Samba, um amálgama da linguagem percussiva afro com as polcas e rondós vindos da Europa, ao falar do objetivo do projeto. “Esses ritmos têm potencial de criação tão rico quanto o Samba, mas são sistematicamente ignorados por grande parte dos arranjadores. Então a nossa aposta é que esse é um reservatório com imensas possibilidades sonoras praticamente inexplorado, e Cultura de Existência pretende ser uma contribuição, ainda que modesta, nesse sentido. É um projeto de música afro-brasileira”, define o músico.

Crédito da foto: Pedro Henrique Gava.

A produção é parceria de Nazareth com Eduardo Balbino, o DJ Duh (que também trabalha com Emicida, Vanessa da Matta e Gabi Amarantos), que deu o tratamento comercial ao álbum e contribuiu para a levada urbana que o autor quis imprimir com a batida eletrônica do hip-hop. Como produtor, Nazareth também incluiu toques sagrados das casas de Candomblé, ressaltando a religiosidade que permeia não apenas seu trabalho, mas sua trajetória acadêmica e sua vida pessoal.

“Sendo Ogã de Umbanda (coordenador dos tambores rituais) e possuindo uma família de santo em Juazeiro, na Bahia, tive acesso e permissão pra trazer esses ritmos à música popular ‘profana’”, comenta Nazareth. Além disso, o álbum é baseado em sua pesquisa de mestrado sobre toques e ritmos afro-religiosos. Essa mescla de fé e musicalidade vinda dos terreiros é encarada pelo campineiro como “militância musical contra o preconceito dentro das academias, das mídias e das massas”.

Do ponto de vista formal, as faixas de Cultura de Existência seguem o formato tradicional das cantigas, das ladainhas, dos pontos de Umbanda e Jongo, dos jogos de roda, de pergunta e resposta, em que o “puxador” canta o verso e o coro retorna em uníssono. “Esse formato anda lado a lado com manifestações populares de matriz africana, então esse joguete é o que procuramos emular”, afirma Nazareth.

Fé, protesto e resistência

As letras fazem a conexão dos ritos com os enfrentamentos cotidianos da população negra, em críticas sociais contextualizadas na cultura de resistência – que, aliás, é um paralelo traçado pelo próprio título do álbum. “São canções que retratam o atual cotidiano da juventude negra e do povo de terreiro. Há também denúncias sobre crueldades históricas com o tráfico negreiro e a escravidão, o preconceito racial e religioso. São temas que permeiam um ciclo de luta para existirmos, para nos firmarmos. Que falam que nós, adeptos da afro-religião, povo preto, povo negro, estamos aqui. Falam sobre fé, ancestralidade, comportamento, vivência”, resume o músico.

Cultura de Existência foi selecionado e beneficiado pelo ProAC do Governo do Estado de SP (edital nº 21/2017), que prevê a dedução de ICMS para empresas patrocinadoras de projetos culturais. Também conta com o apoio da Prefeitura de Campinas, por meio do Fundo de Investimentos Culturais de Campinas (FICC) da Secretaria da Cultura.

A banda

A banda de Cultura de Existência é formada por nove músicos, além de Nazareth.  A concepção do arranjo do disco é a divisão em naipes, seguindo técnicas orquestrais de composição. No naipe de cordas dedilhadas estão Eduardo Pereira no cavaco, violão e bandolim; Matheus Crippa no violão de sete cordas e viola caipira e o próprio Nazareth no violão de sete cordas. O grupo é formado ainda por Cris Monteiro, Adriel Job e Bruno Sotil, no naipe das percussões; Edmar Pereira e Fernando Goldenberg, no naipe dos metais, e Graciela Soares e Yandara Pimentel, nos backing vocals.

Sobre o autor

Diogo Nazareth formou-se em Piano no Conservatório Musical Integrado de Amparo, SP, em 2007 e em 2014 conquistou o diploma de Bacharel em Piano Popular pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde teve contato com alguns mestres da música brasileira, como Nelson Ayres, Teco Cardoso, Monica Salmaso, Marco Suzano, Laercio Freitas, Nailor Proveta e Toninho Carrasqueira – os dois últimos também acompanhou profissionalmente, além de Wilson Moreira, Moacyr Luz e Luizinho SP.

Já teve músicas interpretadas e gravadas pelo Grupo Quinteto Coloquial (Negras Memórias); Grupo Casa Caiada (Guiomar); Grupo Alvorada (Disciplina); Andrea Preta (Fogo Altaneiro); Carol Ladeira (Peço a Olorum); Carlinhos Campos (Valsa das Pequenas Coisas e Pequena Noite Singela); Grupo Teleco Teco (Giomar, , Lina, Prece e Vento e Tempestade); Maira Guedes & os Baluartes (Do Semba ao Samba, e Retranca) e Samba de Yaya (Alumiou, Canto pra Nanã e Canto pra Xangô).

Em 2017 lançou um EP homônimo do álbum Cultura de Existência com três faixas: Nenego (em parceria com Primo Lourenço), Senhora e Olubajé.

Como artista-educador-ogã, ministra oficinas de Afoxé e orienta a formação de ogãs em Campinas. Em 2016 orientou oficina e montagem de show de música brasileira no Instituto Superior de Artes La Havana, em Cuba. Em 2015 ministrou o curso Historinha do Samba em escolas municipais de Campinas. Em 2010 lecionou Aptidão Musical no Cursinho Popular Hebert de Souza.

Participou como cancionista nos seguintes festivais: Festival Cantores Del Rio – Colômbia (2011), ExpoSamba São Paulo/SP (2012), Festival Nacional de MPB de São José do Rio Preto/SP (2012) e FunMusic São Paulo/SP (2012).

Tem como referências musicais grandes poetas da música afro-brasileira, como Nei Lopes, Wilson Moreira, Aldir Blanc e Paulo Cezar Pinheiro. Álbuns como A Arte Negra, de Wilson Moreira e Nei Lopes (1980), Tiro de Misericórdia (1977), de João Bosco e Aldir Blanc, Baticun (2011), de Wilson Moreira e grupo Baticun, Santo e Orixá (2007), de Glória Bomfim, que interpreta canções de Paulo César Pinheiro, são guias inescapáveis. Entre produções mais atuais, compositores como Emicida, Criolo, RZO e Sabotage são outros modelos, na medida em que trazem a linguagem atual e cotidiana dos centros urbanos paulistas.

Cultura de Existência – ficha técnica

Produzido por Diogo Nazareth

Coprodução: DJ Duh

Arranjos: Diogo Nazareth, exceto em Fogo Altaneiro (Eduardo Pereira) e Colheita (Matheus Crippa)

Bases: Produzidas em Groove Arts Studio (Campinas – SP) por DJ Duh

Captação: Estúdio Sincopa (Campinas – SP) gravou cordas e percussões e Estúdio do Mário (Campinas – SP) captou vozes e sopros

Mixagem: DJ Duh

Masterização: Maurício Gargel

Ilustração: Rety Regazzo

Fotografia: Mirela Von Zuben

Sopros: Edmar Pereira (Saxofone tenor) e Fernando Goldenberg (Flugel Horn, Trompete e gaita)

Percussões: Adriel Job, Cris Monteiro e Bruno Sotil

Cordas: Violão 7 cordas (Diogo Nazareth), Violão 7 cordas, cavaco e bandolin (Eduardo Pereira), Violão 7 cordas, guitarra e viola caipira (Matheus Crippa)

Backing Vocals: Graciela Soares e Yandara Pimentel

Corais: Yandara Pimentel, Maíra Guedes, Lara Ribeiro, Mariella, Diogo Nazareth, Adriel Job, Henrique Manchúria

Voz Principal: Diogo Nazareth

Ilustração: Rety Regazzo

Fotografia: Mirela Von Zuben

Produção Executiva: Numen Produtora.

FAIXAS:

Olubajé (Diogo Nazareth)

Ciana (Diogo Nazareth)

Senhora (Diogo Nazareth)

Caatinga (Diogo Nazareth)

Pretinho (Diogo Nazareth)

Nenego (Diogo Nazareth & Primo Lourenço)

Halakawuma (Diogo Nazareth)

Colheita (Diogo Nazareth)

Chapinha (Diogo Nazareth, Estevam Danmineli e Bruno Cairos)

Fogo Altaneiro (Diogo Nazareth & Andrea Preta)

Negras Memórias (Diogo Nazareth e Carlinhos Campos)

Prece (Diogo Nazareth, Carlinhos Campos e Pedro Destro).

Vídeos:

Making of Cultura de Existência (show antigo) – https://www.youtube.com/watch?v=kClffDQKWOg

Negras Memórias –  https://www.youtube.com/watch?v=QAttfDZjxsY

Canto pra Nanã, Oxala e Oxumhttps://www.youtube.com/watch?v=cB8JLPH21Pg

Halakawumahttps://www.youtube.com/watch?v=MzNWob2h668.

Serviço:

Lançamento do álbum Cultura de Existência – Diogo Nazareth

Agenda de shows

8/11 – Campinas – Teatro do SESI Amoreiras, 20h (gratuito, entrada sujeita à lotação de 360 lugares)

17/11 – Cosmópolis – Local a ser confirmado, 19h

18/11 – Jacareí – Local e horário a serem confirmados

23/11 – Jundiaí – Local a ser confirmado, 18h.