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Exposição debate obra de Debret a partir das de 14 artistas contemporâneos brasileiros

Paris, por Kleber Patricio

Obra de Gê Viana, ‘Loja de ervas, 1810: vendas de tabaco e especiarias’, 2020. O trabalho faz parte da série Atualizações Dramáticas de Debret. Imagem: Galeria Superfície/divulgação.

A Maison de l’Amérique Latine recebe 40 releituras de 14 artistas brasileiros contemporâneos sobre Debret. Com o título ‘O Brasil Ilustrado: A herança pós-colonial de Jean-Baptiste Debret’, a exposição – com curadoria do francês Jacques Leenhardt e da brasileira Gabriela Longman – desembarca em Paris a partir do dia 30 de abril reunindo obras de nomes como Gê Viana, Dalton Paula, Anna Bella Geiger, Jaime Lauriano, Denilson Baniwa e Tiago Sant’Ana.

Parte da programação do Ano do Brasil na França, a mostra nasceu a partir do livro ‘Rever Debret’, escrito por Leenhardt e editado por Samuel Titan Jr. e Gabriela Longman em 2023 (Editora 34). A publicação está prestes a ganhar uma edição francesa pela prestigiosa editora Actes Sud.

Instalação ‘Trabalho’ (2017), de Jaime Lauriano. Imagem: Filipe Berndt/Galeria Nara Roesler/divulgação.

“Ao contrário do que a gente imagina, Debret é pouco conhecido na França. No Brasil, em compensação, essa iconografia permeia os livros didáticos e moldou o imaginário de diferentes gerações sobre a história do Brasil e da escravidão”, sugere Gabriela a respeito do pintor, que viveu no Rio de Janeiro entre 1816 e 1831.

No livro, Leenhardt, um dos maiores estudiosos de Debret, enfatiza sua vida dupla: ao mesmo tempo em que trabalhava na corte de dom João VI e Dom Pedro I, o pintor, um filho da Revolução Francesa, preenchia seus cadernos pessoais com cenas da vida cotidiana – muitas vezes violenta – que observava nas ruas. São esses registros, mais tarde reunidos na Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, que servem como ponto de partida para crítica e paródia por parte de uma geração efervescente de artistas do século 21 em suas instalações, vídeos, colagens digitais e outros formatos.

Dividida em três núcleos, a exposição conta com uma seleção de trabalhos de Anna Bella Geiger, Claudia Hersz, Dalton Paula, Denilson Baniwa, Eustáquio Neves, Gê Viana, Heberth Sobral, Isabel Löfgren & Patricia Gouvêa, Jaime Lauriano, Lívia Melzi, Tiago Gualberto, Tiago Sant’Ana e Valerio Ricci Montani.

Gravura do artista Tiago Gualberto, parte da série Dots (2014). Cortesia do artista.

Na instalação Trabalho (2017), Jaime Lauriano apresenta uma série de itens que reproduzem a iconografia de Debret. De cartões postais e camisetas a um cesto de lixo, os itens que compõem a obra refletem sobre a saturação de imagens amplamente difundidas no cotidiano Brasileiro, apartadas do contexto crítico que Debret as aplicava no contexto de Viagem pitoresca.  Outro destaque da exposição são as colagens digitais da série Atualizações Traumáticas de Debret, de Gê Viana. A artista maranhense revisita cenas que compõem as pranchas de Debret, atribuindo a elas novos sentidos por meio da adição de elementos inesperados, como cogumelos ou caixas de som.

Sobre a Maison de L’Amérique Latine

Inaugurada em 1949 em Paris, a Maison de L’Amérique Latine dedica-se a promover a riqueza e a diversidade cultural latino-americana, com uma programação intensiva de exposições, concertos, apresentações de teatro e cinema, além de uma infinidade de encontros literários, acadêmicos e diplomáticos.

Ocupando um edifício histórico no bairro Saint-Germain-des-Prés, sua sede abriga uma vasta coleção de obras literárias e artísticas, representando a pluralidade de estilos e perspectivas dos diferentes países do continente e enfatizando o diálogo intercultural contínuo. Nas últimas décadas, seu espaço tem sido palco de exposições emblemáticas de artistas consagrados ou emergentes – Frida Kahlo, Cândido Portinari e Julio Le Parc, para citar alguns – além de inúmeros projetos que enfatizam colaboração entre artistas latino-americanos e franceses nas mais diferentes plataformas e linguagens artísticas.

Sobre os curadores

Jacques Leenhardt
Sociólogo brasilianista, dedica-se a investigar a criação literária e plástica no Brasil e na América hispânica, assinando inúmeros ensaios, catálogos e livros, como Dans les jardins de Roberto Burle Marx (Arles, Actes Sud, 1994). Membro fundador da associação Archives de la Critique d’Art, é também presidente honorário da Association Internationale des Critiques d’Art. Foi curador de diversas exposições, tanto monográficas (sobre Jean-Baptiste Debret, Frans Krajcberg, Iberê Camargo, Seydou Keïta, Antoni Tàpies e Wifredo Lam, entre outras) como coletivas (a exemplo de Villette-Amazone, Paris, 1996 e Arte Frágil, Resistências, São Paulo, 2009). Estudioso de Debret, foi responsável pelas novas edições francesa e brasileira da Viagem pitoresca e histórica ao Brasil (Imprimerie Nationale, 2014 e Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2016).

Gabriela Longman

Jornalista, editora e curadora, é mestre em História da Cultura pela EHESS-Paris e doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP.  Trabalhando na interseção entre a literatura e as artes visuais, desenvolve projetos para instituições como Sesc-SP, Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), Instituto Inhotim, MAM-SP e Museu Judaico É autora de Labirintos do Olhar (ed. Bei, 2017), compilação de ensaios sobre arte urbana em São Paulo, foi curadora da exposição Ale Ruaro: Sob o Céu sob o Chão na Biblioteca Mário de Andrade (2024).

Serviço: 

Le Brésil illustré. L’héritage postcolonial de Jean-Baptiste Debret

Maison de l’Amérique latine – 217 Boulevard Saint-Germain, Paris (França)

De 30 de abril de 2025 a 4 de outubro de 2025

Segunda a sexta, das 10h às 20h e sábados de 14h às 18h

Entrada gratuita.

(Com Neila Carvalho/Cor Comunicação)