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Galatea apresenta exposição “Carolina Cordeiro: o tempo é”

São Paulo, por Kleber Patricio

“Retirar tudo o que disse”, 2023 – Discos de zinco [Zinc discs] Dimensões variáveis [Variable dimensions] (CC-0073). Fotos: Ding Musa.

A Galatea recebe, desde 2 de setembro, a exposição “Carolina Cordeiro: o tempo é”, individual que reúne trabalhos inéditos de caráter instalativo da artista. Com textos de Paulo Nazareth e Fernanda Morse, a exposição se estrutura em três séries pensadas em conjunto para a ocasião: “O tempo é”; “Sinais iniciais” e “Retirar tudo o que disse”, que conjugam materiais e aspectos recorrentes na prática da artista mineira, como o zinco e o papel, o branco, as superfícies refletoras e os jogos de luz.

Experimentando diferentes níveis de intervenção no espaço — obras suspensas no teto, presas à parede, dispersas ao chão — Cordeiro aborda grandes temas, como o tempo e a questão da linguagem, sem preciosismos. Se, como diz Giorgio Agamben, contemporâneo é aquele que percebe o escuro do seu tempo como algo que lhe concerne e não cessa de interpelá-lo, Cordeiro, com o seu espelho prateado que nos vê, mas não nos mostra, trama no escuro seus feixes luminosos.

Sobre os materiais utilizados, a artista plástica afirma que o zinco, particularmente, tem uma conotação afetiva: “Faz parte da minha produção, como algo que me atravessa pela poesia e pela canção popular. É um elemento muito poético, que não entra na história oficial da arquitetura, mas está nas casas e nos barracos. Eu uso esse material pela forma que ele agrega e se torna construtivo”.

Carolina Cordeiro 1983, “Sinais iniciais III”, 2023. Discos de zinco e papel [Zinc discs and paper] – 86.5 x 97 cm [34 x 38 1/4 in].

A primeira vez que Carolina usou zinco em sua obra foi em “Dizem que há um silêncio todo negro” (2019-2020), instalação em que chapas perfuradas foram instaladas na claraboia da biblioteca do espaço de arte Auroras permitindo a passagem de luz pelos vãos e trazendo o imaginário da violência. Agora, as mesmas chapas são reutilizadas na obra “O tempo é”, que ocupa a primeira sala da exposição da Galatea.

A poesia brasileira também é uma influência para a artista, mostrando-se principalmente através dos títulos dos trabalhos. “América do Sal” (2021) e “As impurezas do branco” (2019), por exemplo, são obras anteriores cujos títulos remetem a dois poetas brasileiros consagrados, respectivamente, Oswald de Andrade e Carlos Drummond de Andrade.

Sobre Carolina Cordeiro

Carolina Cordeiro (Belo Horizonte, MG, 1983) formou-se em Desenho pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, em 2008. Concluiu, em 2014, o mestrado em Linguagens Visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, e, em 2021, o doutorado no departamento de Artes da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo – USP, com período sanduíche no Chelsea College of Art and Design, em Londres. Atualmente, vive e trabalha em São Paulo.

Iniciou a prática artística com o desenho e, na sequência, passou a explorar outras linguagens. Já em sua primeira individual, “Quase é um lugar que existe” (2006), reuniu ao desenho fotografia e objeto. De lá para cá, a sua produção mostrou-se cada vez mais plural em termos de suporte e cada vez mais interessada em se desenvolver a partir da influência e dos recursos que o ambiente onde se dá pode oferecer. Cordeiro se interessa em processos imersivos e defende uma relação de contaminação com a paisagem. Não busca, portanto, simplesmente propor intervenções no espaço, mas apresentar o quanto os elementos que o compõem a afetam e se desdobram em sua obra.

Carolina Cordeiro 1983, “O tempo é”, 2023 – Chapas de zinco e espelho artesanal em estrutura de aço [Zinc plates and handmade mirror in a steel frame], 76 x 38 x 27 cm [29 7/8 x 15 x 10 5/8 in].

“Uma noite a 550km daqui” (2010-2017), instalação com feltro e carrapicho, demonstra bem esse princípio. Seu título se refere à distância entre o Ateliê Fidalga, um dos lugares onde já foi exposta, e um município do estado de Minas Gerais, no Brasil, onde a artista recolheu as sementes de Xanthium cavanillesii, popularmente conhecidas como carrapichos. Com essas sementes, com o poder de se dispersar por se agarrarem nos pelos dos animais, criou um céu estrelado fixando-as em feltro azul escuro. O título do trabalho marca, ao mesmo tempo, a distância e a conexão que ele opera entre dois espaços, podendo variar conforme o local em que é montado, sempre tendo como referência a sua origem (a cidade em Minas Gerais).

O caráter coeso da pesquisa de Cordeiro se mostra na interpenetração dos temas e materiais e em como um projeto não implica no abandono do outro, mas se estende no outro. Entre o trabalho das assadeiras (Sem título), de 2009, que segue sendo montado, e “Paisagem”, de 2019, pode-se estabelecer diversas conexões como a economia de linguagem, o interesse geométrico e um grande fundo simbólico — como a vida doméstica ou a terra vermelha da cidade da natal.

Em 2021, Carolina Cordeiro fundou, com os artistas Bruno Baptistelli, Frederico Filippi e Maíra Dietrich, a Galeria de Artistas, projeto criado por e para artistas como meio de experimentar novas formas de inserção no mercado. Em 2020, foi indicada ao prêmio PIPA.

A artista participou de diversas residências artísticas nacionais e internacionais, entre elas: CASCO: Programa de integração arte e comunidade, Rio Grande do Sul, Brasil, 2020; Pivô Arte e Pesquisa, São Paulo, Brasil, 2019; Red Bull Station, São Paulo, Brasil, 2016; Homesession, Barcelona, Espanha, 2011; GlogauAIR Art Residency Berlin, Berlim, Alemanha, 2009.

Carolina Cordeiro 1983, “Sinais iniciais IX”, 2023. Discos de zinco e papel [Zinc discs and paper] – 86.5 x 97 cm [34 x 38 1/4 in].

Entre suas exposições, destacam-se as individuais: “América do Sal”, Galeria de Artistas – GDA, São Paulo, 2021; “Dizem que há um silêncio todo negro”, Auroras, São Paulo, 2019; “Una nit a 8360 km d’aquí”, Àngels Barcelona, Espanha, 2018; “Carolina Cordeiro”, Ciclón, Santiago de Compostela, Espanha, 2018; “Entre”, Memorial Minas Gerais Vale, Belo Horizonte, 2013; Carolina Cordeiro, “Homesession”, Barcelona, Espanha, 2011. E as coletivas “Casa no céu (para Rochelle)”, Galeria Vermelho, São Paulo, 2023; “Semana sim, semana não”, Casa Zalszupin, São Paulo, 2022; “Lenta explosión de una semilla”, OTR. Espacio de arte, Madri, Espanha, 2020; “I remember Earth”, Le Magasin des horizons, Grenoble, França, 2019; “Estratégias do Feminino”, Farol Santander, Porto Alegre, 2019; “Agora somos mais de mil”, Parque Lage, Rio de Janeiro, 2016 e “Blind Field”, Krannert Art Museum, Champaign, Illinois, EUA, 2013.

Sobre a Galatea

A Galatea é uma galeria que surge a partir das diferentes e complementares trajetórias e vivências de seus sócios-fundadores: Antonia Bergamin esteve à frente por quase uma década como sócia-diretora de uma galeria de grande porte em São Paulo; Conrado Mesquita é marchand e colecionador, especializado em descobrir grandes obras em lugares improváveis, e Tomás Toledo é curador e contribuiu ativamente para a histórica renovação institucional do MASP, de onde saiu recentemente como curador-chefe.

Tendo a arte brasileira moderna e contemporânea como foco principal, a Galatea trabalha e comercializa tanto nomes já consagrados do cenário artístico nacional quanto novos talentos da arte contemporânea, além de promover o resgate de artistas históricos. Tal amplitude temporal reflete e articula os pilares conceituais do programa da galeria: ser um ponto de fomento e convergência entre culturas, temporalidades, estilos e gêneros distintos, gerando uma rica fricção entre o antigo e o novo, o canônico e o não canônico, o erudito e o informal.

Além dessas conexões propostas, a galeria também aposta na relação entre artistas, colecionadores, instituições e galeristas. De um lado, o cuidado no processo de pesquisa, o respeito ao tempo criativo e o incentivo do desenvolvimento profissional do artista com acompanhamento curatorial. Do outro, a escuta e a transparência constante nas relações comerciais. Ao estreitar laços, com um olhar sensível ao que é importante para cada um, Galatea enaltece as relações que se criam em torno da arte — porque acredita que fazer isso também é enaltecer a arte em si.

Nesse sentido, partindo da ideia de relação é que surge o nome da galeria, tomado emprestado do mito grego de Pigmaleão e Galatea. Este mito narra a história do artista Pigmaleão, que ao esculpir em marfim Galatea, uma figura feminina, apaixona-se por sua própria obra e passa a adorá-la. A deusa Afrodite, comovida por tal devoção, transforma a estátua em uma mulher de carne e osso para que criador e criatura possam, enfim, viver uma relação verdadeira.

Serviço:

Carolina Cordeiro: o tempo é

Local: Galatea

Endereço: Rua Oscar Freire, 379, loja 1 – Jardins, São Paulo – SP

Período expositivo: 4 de setembro a 14 de outubro de 2023

Funcionamento:  Segunda a sexta-feira, das 10h às 19h; sábados, das 11 às 15h

Mais informações: https://www.galatea.art/

Estacionamento no local.

(Fonte: A4&Holofote Comunicação)