O Instituto Tomie Ohtake apresenta a exposição ‘Carlito Carvalhosa – A metade do dobro’, a primeira retrospectiva de fôlego sobre a produção artística de Carlito Carvalhosa (1961–2021). Com cerca de 150 obras que datam de 1984 a 2021, a mostra perpassa quase quarenta anos de carreira, reunindo muitos exemplos da constante experimentação do artista com diferentes materialidades e navegando entre os limites da pintura, escultura e instalação. A mostra foi inaugurada no dia 24 de outubro concomitantemente à exposição ‘Mira Schendel – esperar que a letra se forme’.
Com curadoria conjunta de Ana Roman, Lúcia Stumpf, Luis Pérez-Oramas e Paulo Miyada, a exposição é dividida em sete núcleos, ocupando três salas do Instituto. Sem seguir uma ordem cronológica, a mostra é permeada por rebatimentos entre permanências e tensões ou, como afirma Ana Roman, “essa oscilação entre a presença e a ausência no espaço, entre o visível e o oculto, é um tema central que atravessa as várias fases da produção de Carvalhosa”. Esta exposição conta com o patrocínio da Livelo e do Grupo CCR, por meio do Instituto CCR, na Cota Apresenta e do BMA Advogados na Cota Prata, através do Ministério da Cultura, via Lei de Incentivo à Cultura, Programa Nacional de Apoio à Cultura e Governo Federal – Brasil, União e Reconstrução.
O primeiro núcleo expositivo, o único cronológico, traz pinturas do início da carreira na Casa 7, ateliê que reunia, além de Carvalhosa, Fábio Miguez, Paulo Monteiro, Rodrigo Andrade e posteriormente Nuno Ramos, jovens artistas unidos por laços de amizade e por propósitos estéticos comuns. Estão lá, por exemplo, duas obras do artista de 1985 que compuseram A Grande Tela na 18° Bienal de São Paulo. Paulo Miyada nos conta que as pinturas de Carvalhosa “são maiores que seu corpo, transbordam massa de tinta manuseada com vigor e trazem alusões tanto a figuras mundanas quanto a estilemas da história da arte recente. Desse encontro iniciático com a ideia da pintura, Carlito sai com um impulso que nunca mais abandonaria: o interesse pelo que existe de tátil na produção de imagens, pelo háptico subjacente ao ótico”.
A seção seguinte tem como destaque uma parede de encáusticas produzidas entre 1988 e 1991. São obras que, segundo Lúcia Stumpf, “a partir da mistura de cera e terebentina, com pouco pigmento, resultam em pinturas ricas em camadas matéricas e texturas, privilegiando a cor e a transparência da cera. Já as obras em cera policromáticas são compostas pela sobreposição de camadas, em um procedimento que remete à colagem”. E estão posicionadas em diálogo frontal com os espelhos graxos, feitos a partir de 2003. O fascínio pelo espelho perdurou por anos e, com ele, o artista produziu dezenas de peças com as mais variadas cores, processos, formatos e técnicas.
O núcleo seguinte traz um conjunto expressivo dos dedinhos, trabalhos muito característicos de sua produção, feitos em cera, com 30×30, e que formam uma espécie de mosaico. O mesmo espaço abriga as ceras perdidas, primeiro conjunto escultórico de Carvalhosa, produzido em 1995. Originalmente altas, as peças foram moldadas por abraços do artista no bloco de cera maleável, trazendo sua estrutura corporal para a obra. Com os anos, elas murcharam e perderam altura, ganhando outra expressão plástica, bastante diferente da original.
O visitante ingressa na sala seguinte pela instalação Qualquer direção, de 2011, uma das primeiras que o artista faz com lâmpadas fluorescentes. Mais uma vez a obra está em diálogo, agora com as pinturas feitas em chapas de alumínio. O núcleo seguinte traz alumínios brancos em diálogo com esculturas de porcelana. Para Stumpf, “as monotipias e pinturas em gesso rebatem os contornos orgânicos das esculturas, que por sua vez ofuscam o olhar do espectador com sua superfície reflexiva”, completa a curadora. Estão nesse núcleo ainda alguns toquinhos, obras que rememoram as grandes instalações de postes.
O último núcleo traz os trabalhos do fim da carreira. São obras feitas em cera que dialogam com os dedinhos. Agora menos orgânicas, essas pinturas, que marcam o retorno à cera, foram realizadas a partir de 2017 com o uso de moldes, seguindo esquemas geométricos e usando cores vibrantes. Luis Pérez-Oramas conclui que “Se há uma coisa que me parece caracterizar a obra de Carlito Carvalhosa, em todas as suas fases e em suas realizações mais emblemáticas, é o exercício permanente de chegar não ao fim, mas ao começo, não ao ato final, mas à potência, não à forma clara e definida, mas ao seu estágio larval, impuro, onde residem todas as suas possibilidades”.
Audiocatálogo
Um audiocatálogo produzido em parceria com a Supersônica – plataforma concebida e criada junto a Maria Carvalhosa, filha do artista, acompanha a exposição. Nele, o ouvinte é guiado por reflexões de colaboradores, curadores, artistas e amigos de Carvalhosa sobre suas encáusticas, espelhos e esculturas, entremeados por trechos de entrevistas do artista e sonorizações de suas obras. A trilha sonora, parte fundamental desse livro, evoca a atmosfera de suas instalações.
Paralelamente à mostra de Carvalhosa, o Instituto Tomie Ohtake inaugura Mira Schendel – esperar que a letra se forme, exposição retrospectiva, com curadoria de Galciani Neves e Paulo Miyada, que explora a presença dos signos da linguagem na obra desta artista fundamental para a arte contemporânea brasileira.
Programa Público
A estas exposições soma-se um programa público de encontros, oficinas e vivências, com programação atualizada pelo site e redes sociais do Instituto ao longo do período expositivo. Na abertura, dia 25 de outubro, realiza-se programação concebida para professores das redes pública e privada e também para profissionais das artes, com a participação dos curadores da exposição e os educadores da instituição. No dia 26 de outubro, o público é convidado a assistir performance do duo Teia, parceria musical entre Inês Terra (voz) e Júlia Telles (teremin). O duo pesquisa a relação entre os primeiros dispositivos eletrônicos e vozes em processos improvisados e composicionais. Teia transita entre sons harmônicos e ruidosos, explorando as possibilidades do corpo por meio de intervenções, partituras gráficas e gravações de campo. No dia 1º de novembro, o público em geral é convidado a participar da mesa de debate Os ecos da palavra, com a presença das artistas Lívia Aquino, Lenora de Barros e da pesquisadora Maria Carvalhosa. No dia 2 de novembro serão três oficinas de diferentes gêneros de texto: Menus inventados, com a participação da jornalista e crítica gastronômica Luiza Fecarotta; Dedicatória de livro – Livros que me fazem lembrar você, com a participação da pesquisadora Rosa Couto e Técnicas de Comicidade e nossa responsabilidade com as Palavras, orientada pela atriz e comediante Karina Sbruzzy. Haverá também, no dia 21 de novembro, a oficina de audiodescrição Da palavra à imagem, com a artista DEF Isadora Ifanger e, no dia 14 de janeiro, a oficina de zines O diário de Mira Schendel, conduzida pelo artista e educador Léo Daruma. A participação nos eventos se dá mediante inscrição prévia via o site do Instituto e sujeito a lotação.
Carlito Carvalhosa – A metade do dobro
Curadoria: Ana Roman, Lúcia Stumpf, Luis Pérez-Oramas e Paulo Miyada
Em cartaz de 25 de outubro de 2024 a 2 de fevereiro de 2025
De terça a domingo, das 11h às 19h – entrada franca
Instituto Tomie Ohtake
Av. Faria Lima 201 (Entrada pela Rua Coropé, 88) – Pinheiros, SP
Metrô mais próximo: Estação Faria Lima/Linha 4 – amarela
Fone: (11) 2245-1900
Site: institutotomieohtake.org.br
Facebook: facebook.com/inst.tomie.ohtake
Instagram: @institutotomieohtake
Youtube: www.youtube.com/@tomieohtake.
(Fonte: Com Martim Pelisson/Instituto Tomie Ohtake)