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MASP apresenta exposição com obras do período mais consagrado de Leonilson

São Paulo, por Kleber Patricio

Leonilson, Agora e as oportunidades, 1991. Acervo MASP, doação Fernanda Feitosa e Heitor Martins. Foto: ©Rubens Chiri/Projeto Leonilson.

Os jogos de palavras e as minuciosas imagens em pinturas, desenhos, bordados e instalações de Leonilson (José Leonilson Bezerra Dias, Fortaleza, 1957–1993, São Paulo) traduzem reflexões filosóficas sobre a sua vida e o contexto no qual se insere, conferindo aspectos autobiográficos às suas obras. Mais de 300 trabalhos e documentos que refletem as sutilezas do artista ao expressar perspectivas políticas, públicas e íntimas serão expostos no MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, de 23 de agosto a 17 de novembro de 2024, durante a mostra Leonilson: agora e as oportunidades.

A exposição oferece um panorama da produção de Leonilson nos seus últimos cinco anos de vida, entre 1989 e 1993, período mais rico e complexo do artista, que ficou conhecido como Leonilson Tardio. Com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, e assistência curatorial de Teo Teotonio, a mostra é dividida cronologicamente em cinco salas no 1º andar do museu, cada uma dedicada a um desses últimos anos de trabalho. No mezanino, localizado no 1º subsolo, ganham destaque as suas ilustrações feitas para a coluna de comportamento Talk of the town – o ti-ti-ti da cidade, de Barbara Gancia no jornal Folha de S.Paulo, bem como os vídeos documentais Com o oceano inteiro para nadar (1997), dirigido por Karen Harley, e A paixão de JL (2014), dirigido por Carlos Nader.

“Leonilson é um artista tanto central quanto marginal na história da arte brasileira. Central, porque é autor de uma obra absolutamente incontornável no final do século 20, reconhecido em incontáveis exposições, livros e mesmo em tatuagens. Mas ele é também marginal, pois, com uma obra tão singular, não se encaixa facilmente nos movimentos e gerações da história da arte brasileira. Sobretudo, Leonilson é marginal porque, no final dos anos 1980 no Brasil, é um homem gay e, a partir de meados de 1991, passa a viver com HIV, o que suscitava preconceitos e discriminações na época”, comenta Adriano Pedrosa.

A mostra, que conta com o patrocínio master do Itaú Unibanco, parceiro estratégico do MASP, tem em seu título o nome da obra Agora e as oportunidades (1991). Essa obra, pertencente ao acervo do museu, é uma das mais emblemáticas do artista. Nela é possível ver uma figura que evoca um ser mitológico, solitário e dividido, com quatro pernas e cabeças, caminhando para diversos lados. À direita, na pintura, Leonilson desenhou seis copos, embaixo de cada um deles é possível ler: ‘os negros’, ‘os homossexuais’, ‘os judeus’, ‘as mulheres’, ‘os aleijados’, ‘os comunistas’, designações que se referem às minorias sociais de sua época e evidenciam o aspecto político de sua produção. O trabalho será exibido junto à montagem inédita da instalação As minorias (1991), exposta pela última vez no ano em que foi produzida.

O fazer artístico como um diário

Leonilson, sem título, 1990.

Embora seja identificado com a chamada Geração 80 no Brasil, suas obras mais icônicas foram produzidas no final da década e nos primeiros anos de 1990. Durante esses últimos anos de vida, Leonilson desenvolveu um trabalho mais poético, com economia de cores e traços, trabalhando essencialmente com desenhos, objetos e bordados. Como uma espécie de diário, o artista fazia referências íntimas e cotidianas a temas como o amor, os amantes, a sexualidade, as minorias e a aids – Leonilson descobriu ser HIV positivo em 1991, quando o número de pessoas contaminadas aumentava exponencialmente. “De uns tempos pra cá, meus trabalhos ficaram mais maduros, ao mesmo tempo que eu penso mais sobre a minha sexualidade, a forma de me relacionar com as pessoas, a minha forma de encarar o mundo, de viver o dia a dia. Eu acho que o trabalho não deixa de ser pessoal, não deixa de ser um diário, mesmo esses trabalhos da minoria. […]. Eu percebo a segregação que existe. E eu, é óbvio, faço parte de uma dessas minorias”, declarou Leonilson em entrevista a Adriano Pedrosa em 1991, publicada no catálogo da exposição.

A série Os dedicados (1991) foi desenvolvida para os homens com quem ele se relacionou, sendo que cada pintura parte do imaginário do artista sobre determinado amante, convidando o espectador a complementá-las com as suas ideias. O artista continuou produzindo até sua morte, em 1993, em São Paulo. O seu último trabalho, Instalação sobre duas figuras (1993), um dos mais importantes da sua carreira, ficou conhecido por materializar a ausência, o etéreo e a efemeridade de um corpo em dissolução.

Leonilson: agora e as oportunidades integra a programação anual do MASP dedicada às Histórias da diversidade LGBTQIA+. A programação do ano também inclui mostras de Gran Fury, Francis Bacon, Mário de Andrade, MASP Renner, Catherine Opie, Lia D Castro Serigrafistas Queer e a grande coletiva Histórias da diversidade LGBTQIA+.

Leonilson, Margarida (da série O Perigoso), 1992.

Sobre Leonilson | Leonilson nasceu em 1957, em Fortaleza, Ceará e faleceu em 1993 em São Paulo. Realizou sua primeira exposição individual Cartas a um amigo em 1980, no Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador. No ano seguinte, fez sua estreia internacional com a mostra Cartas al hombre, na Casa do Brasil, em Madri, Espanha. Leonilson participou de uma das exposições brasileiras mais emblemáticas, Como vai você, Geração 80? em 1984, realizada na Escola de Artes Visuais Parque Lage, no Rio de Janeiro. Em 1985, expôs em duas Bienais, a Nouvelle Biennale de Paris e a 18ª Bienal de São Paulo. Em 1990, inaugurou sua exposição individual no Centro Cultural São Paulo – CCSP, considerada abertamente política por exibir trabalhos de teor sexual, romântico e erótico, bem como citações críticas a outros artistas e produções. Entre 1991 e 1993, ilustrou a coluna de comportamento Talk of the town – o ti-ti-ti da cidade, da jornalista Barbara Gancia, para a Folha de S.Paulo. Sua obra integra o acervo de instituições internacionais, como MoMA, Centre Pompidou, Tate Gallery e LACMA e, entre as nacionais, MASP, MAM São Paulo, MAM Rio e MAC USP.

Acessibilidade | Todas as exposições temporárias do MASP possuem recursos de acessibilidade, com entrada gratuita para pessoas com deficiência e seu acompanhante. São oferecidas visitas em Libras ou descritivas, além de textos e legendas em fonte ampliada e produções audiovisuais em linguagem fácil – com narração, legendagem e interpretação em Libras que descrevem e comentam os espaços e as obras. Os conteúdos podem ser utilizados por pessoas com deficiência, públicos escolares, professores, pessoas não alfabetizadas e interessados em geral. Os conteúdos ficam disponíveis no site e canal do YouTube do museu.

Catálogo | Na ocasião da mostra, serão publicados dois catálogos em português e inglês, com imagens e ensaios comissionados por autores fundamentais para o entendimento da produção do artista. A publicação tem organização de Adriano Pedrosa, com assistência de Teo Teotonio, e textos de Adriano Pedrosa, Julia Bryan-Wilson, Pablo Lafuente, Miguel Lopez, Irene V. Small, Carlos Eduardo Riccioppo, nota biográfica de Teo Teotonio, além de uma entrevista entre Adriano Pedrosa e Leonilson. Com design de Rara Dias e Alexsandro Souza, o catálogo tem edição em capa dura.

MASP Loja | Em diálogo com a exposição, o MASP Loja apresenta produtos especiais de Leonilson, que incluem bolsas, ímãs, postais, marca-páginas, garrafa térmica e camisetas, além do catálogo oficial da mostra.

Serviço:

Leonilson: agora e as oportunidades

Curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, com assistência curatorial de Teo Teotonio

1º andar e mezanino

Visitação: 23/8/2024 – 17/11/2024

MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista – São Paulo, SP

Telefone: (11) 3149-5959

Horários: terças grátis e primeira quinta-feira do mês grátis; terças, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta a domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas.

Agendamento on-line obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos

Ingressos: R$70 (entrada); R$35 (meia-entrada).

Site oficial | Facebook | Instagram.

(Fonte: Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand/Assessoria de Imprensa)