Narrativas e imaginários sobre religião, fé e ancestralidade compõem a exposição ‘Sala de vídeo: Ventura Profana’, em cartaz no MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, a partir de 5 de julho. Em cada uma das obras, sejam colagens, performances ou músicas, a artista visual, pastora, cantora evangelista e escritora Ventura Profana (Salvador, Bahia, 1993) escolhe dar vazão e semear as infinitas possibilidades de sua identidade.
Como em um trabalho missionário, a artista tem o compromisso de ressignificar os símbolos e valores da doutrina cristã. A partir de uma ‘malandragem teológica’, como ela mesma nomeia, Ventura busca gerar perspectivas de plenitude e abundância para combater a visão opressora e fetichista que reproduz a exploração de corpos negros e travestis. “Se nos dão o esquecimento hediondo, a morte, a dor e o desprezo, com intensidade equivalente faremos brotar videiras”, afirma Ventura.
Com curadoria de David Ribeiro, supervisor, MASP, a mostra apresenta quatro trabalhos inéditos que combatem a colonização, o racismo e a transfobia. Por vezes fazem críticas diretas, em outros momentos anunciam poeticamente aquilo que é negado às travestis – família, afeto, fé, religiosidade e espiritualidade. A obra de Ventura Profana não pretende pregar uma teoria ateísta, mas oferecer seu ponto de vista para que templos, famílias e estruturas sociais possam acolher todas as diversidades. “A pesquisa de Ventura está muito relacionada à construção de uma outra reflexão a partir da experiência espiritual, religiosa e evangélica. Ela busca nos escritos e experiências sagrados uma palavra de acolhimento, em especial, para as travestis”, afirma o curador David Ribeiro.
Em ‘A maior obra de saneamento’ (2024), a artista provoca reflexões sobre a colonialidade e padrões da branquitude a partir de símbolos religiosos cristãos, como o Cristo Redentor. Além da fé, Ventura traz camadas de mistério no vídeo ‘O poder da trava que ora’ (2021).
‘Procure vir antes do inverno’ (2021) é um diálogo entre a artista e sua avó. O vídeo traz a narrativa na voz da própria anciã, que conta suas vivências com a Congregação Batista – doutrina que é ao mesmo tempo objeto de estudo e de ressignificação para a artista. Simultaneamente à fala da avó, o trabalho apresenta Ventura Profana e suas amigas construindo o próprio templo como forma de expressar o acolhimento às múltiplas formas de existência.
A importância estruturante de uma comunidade de mulheres negras e travestis também permeia a produção da artista. Nesse contexto, encontra-se a obra ‘Para ver as meninas e nada mais nos braços’ (2024). Sem esquecer as tortuosidades, a tradição e a ancestralidade, a obra desabrocha em uma carta de amor às vidas, às histórias e às memórias das mulheres presentes no vídeo.
É a segunda vez que o trabalho da artista é exibido no MASP. Ventura Profana participou da mostra Histórias brasileiras, em 2022, ano do bicentenário da Independência do Brasil e do centenário da Semana de Arte Moderna. Em 2024, a programação da Sala de vídeo integra o ciclo de Histórias da diversidade LGBTQIA+ no MASP, que já apresentou as mostras de Masi Mamani/Bartolina Xixa e Tourmaline e ainda trará a produção audiovisual de Kang Seung Lee e Manauara Clandestina.
Sobre Ventura Profana
Ventura Profana (Salvador, Bahia, 1993) é pastora missionária, cantora evangelista, escritora, compositora e artista visual. Sua prática está enraizada na pesquisa sobre as implicações e metodologias do deuteronomismo, uma tradição interpretativa das escrituras sagradas do cristianismo relacionada à difusão das igrejas neopentecostais.
Seus trabalhos já foram expostos no MASP, na mostra Histórias brasileiras (2022), na 35ª Bienal de São Paulo (2023) e em diversas outras instituições no Brasil e no exterior, como o Werkstatt Der Kulturen Berlin (Alemanha), o Museu Nacional da República (Brasília, DF), o Dragão do Mar – Museu de Arte Contemporânea do Ceará (Fortaleza, CE), o Centre d’Art Contemporain Genève (Suíça) e o MAR – Museu de Arte do Rio (Rio de Janeiro, RJ).
A artista também publicou o livro ‘A cor de Catu’ e participa da Antologia Jovem Afro, fez shows em La Mutinerie (Paris), em eventos como a Virada Cultural de São Paulo e a 22ª Parada LGBT de Belo Horizonte, e em espaços como o Circo Voador (RJ). A performance Cântico dos Cânticos foi premiada na categoria Melhor Performance no Prêmio de Artes Cênicas Negras Leda Maria Martins, em 2019. Ventura Profana foi indicada ao Prêmio PIPA em 2020 e em 2021, tendo sido selecionada neste último.
Serviço:
Sala de Vídeo: Ventura Profana
Curadoria David Ribeiro, supervisor, MASP
2º subsolo
Visitação: 5/7/2024 a 18/8/24
MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista – São Paulo, SP
Telefone: (11) 3149-5959
Horários: terças grátis e primeira quinta-feira do mês grátis; terças, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta a domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas
Agendamento on-line obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos
Ingressos: R$70 (entrada); R$35 (meia-entrada)
Site oficial | Facebook | Instagram.
(Fonte: Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand)