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MASP expõe arpilleras do movimento de atingidos por barragens, que atua na luta por direitos socioambientais no Brasil

São Paulo, por Kleber Patricio

Coletivo Nacional de Mulheres do MAB, Tratores famintos, 2014.
Acervo do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Fotos: Filipe Berndt.

O MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand apresenta, desde 11 de abril, a exposição ‘Mulheres Atingidas por Barragens: bordando direitos’, que reúne 34 arpilleras produzidas pelo Coletivo Nacional de Mulheres do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). As peças foram confeccionadas coletivamente, por mulheres de todo o Brasil, em rodas de bordado organizadas pelo coletivo como expressão de suas vivências e lutas diante dos impactos sociais e ambientais causados pela construção, operação e pelo rompimento de barragens.

As arpilleras, peças têxteis que se tornaram símbolo da memória e da luta por direitos humanos, são composições de retalhos de tecido bordado sobre juta. A técnica surgiu no Chile nos anos 1960 e, durante a ditadura de Augusto Pinochet, tornou-se uma expressão cultural e política de protagonismo feminino. Criadas principalmente por mulheres — muitas delas mães, esposas e familiares de presos políticos e desaparecidos —, essas obras retratam cenas do cotidiano, da repressão e da luta por direitos. O Coletivo Nacional de Mulheres do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) passou a utilizar a técnica em 2013 para abordar temas como a violência doméstica, a ruptura de vínculos entre a terra e a comunidade, a violência contra crianças e adolescentes, a falta de acesso à água potável e à energia elétrica, e os impactos das barragens e da poluição de rios na pesca e na subsistência das famílias, entre outras violações aos direitos humanos e ambientais.

Com curadoria de Glaucea Helena de Britto, curadora assistente, MASP, e Isabella Rjeille, curadora, MASP, esta exposição reúne arpilleras de diferentes regiões do Brasil produzidas entre 2014 e 2024. Organizadas cronologicamente, essas peças contemplam uma grande diversidade de técnicas e temas. Cada arpillera é contextualizada por uma carta escrita pelas autoras, guardada em um bolso no verso de cada peça, evidenciando o caráter coletivo e de organização popular do processo de realização de cada peça. Na mostra, o público terá acesso à seleção de 6 cartas manuscritas. “Para muitas pessoas, a arpillera pode parecer apenas uma obra de arte para pendurar na parede. Para nós, o significado político desse testemunho têxtil está na organização das mulheres, na luta pelos seus direitos e na proposição política — dos sonhos, das utopias, daquilo que almejamos. É denúncia, mas também é um projeto de esperança”, diz Daiane Höhn, militante do MAB.

Sobre a organização das mulheres no MAB

Coletivo Nacional de Mulheres do MAB, A dupla violação do trabalho das atingidas, 2014.

O Coletivo Nacional de Mulheres do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) é um núcleo dentro do movimento que articula a luta das mulheres atingidas em todo o país, fortalecendo sua participação política e promovendo ações de denúncia e resistência. Desde sua criação, tem ampliado a presença feminina nos espaços de decisão e consolidado estratégias para garantir direitos e enfrentar as violações causadas pela construção, operação e pelo rompimento de barragens. No último período, as atingidas também têm promovido debates e fortalecido a organização com mulheres impactadas por desastres climáticos, que, de forma semelhante, geram desestruturação comunitária e familiar, com impactos específicos na vida das mulheres e violações de direitos das famílias.

Desde 2013, as mulheres do MAB organizam oficinas nas quais, por meio do bordado, constroem narrativas visuais que denunciam injustiças socioambientais, registram memórias e reforçam redes de apoio. As arpilleras tornaram-se um símbolo da resistência das mulheres atingidas.

Durante a exposição, o movimento promove duas oficinas de arpilleras abertas ao público. A primeira foi no sábado, 12/4, e a segunda será no domingo, 27/4, também das 10h30 às 13h30.

Mulheres Atingidas por Barragens: bordando direitos integra a programação anual do MASP dedicada às Histórias da ecologia. A programação do ano também inclui mostras de Abel Rodríguez, Clarissa Tossin, Claude Monet, Emilija Škarnulytė, Frans Krajcberg, Hulda Guzmán, Inuk Silis Høegh, Janaina Wagner, Maya Watanabe, Minerva Cuevas, Tania Ximena, Vídeo nas Aldeias e a grande coletiva Histórias da ecologia.

Acessibilidade

Todas as exposições temporárias do MASP possuem recursos de acessibilidade, com entrada gratuita para pessoas com deficiência e seu acompanhante. São oferecidas visitas em Libras ou descritivas, além de textos e legendas em fonte ampliada e produções audiovisuais em linguagem fácil – com narração, legendagem e interpretação em Libras que descrevem e comentam os espaços e as obras. Os conteúdos, disponíveis no site e no canal do YouTube do museu, podem ser utilizados por pessoas com deficiência, públicos escolares, professores, pessoas não alfabetizadas e interessados em geral.

Catálogo

Na ocasião da mostra, será publicado um catálogo bilíngue, em inglês e português, composto por imagens e ensaios comissionados de autores fundamentais para o estudo da obra e luta do MAB. A publicação tem organização de Isabella Rjeille, curadora, MASP, e Glaucea Helena de Britto, curadora assistente, MASP, e textos de Roberta Bacic, Monise Vieira Busquets e Carolina Caycedo, além de uma entrevista com Daiane Höhn, Esther Vital e Louise Löbler. O catálogo conta com a reprodução de 47 arpilleras produzidas pelo coletivo, além de textos que contextualizam cada peça.

Realização e apoio

Mulheres Atingidas por Barragens: bordando direitos é realizada por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura e ProAC ICMS.

Serviço:

Mulheres Atingidas por Barragens: bordando direitos

Curadoria: Glaucea Helena de Britto, curadora assistente, MASP, e Isabella Rjeille, curadora, MASP.

11/4 — 3/8/2025

Mezanino, 1º subsolo, Edifício Lina Bo Bardi

MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista, São Paulo, SP

Telefone: (11) 3149-5959

Horários: terças grátis, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta e quinta das 10h às 18h (entrada até as 17h); sexta das 10h às 21h (entrada gratuita das 18h às 20h30); sábado e domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas.

Agendamento on-line obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos

Ingressos: R$ 75 (entrada); R$ 37 (meia-entrada)

Programação de oficinas gratuitas

27/4, domingo, 10h30 às 13h30 – Oficina Bordando direitos

Inscrições on-line: Link.

Site oficial | Facebook | Instagram.
(Fonte: Assessoria de imprensa MASP)